Deputados discutem produção de palma para consumo
humano
Utilizada em Minas apenas para alimentação do gado,
a palma - que é um tipo de cactus nativo do México e hoje comum na
caatinga - pode tornar-se um cultivo importante para consumo humano
em Minas e no Brasil. A Comissão de Política Agropecuária e
Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais assistiu,
nesta quarta-feira (18/6/08), apresentação sobre o Programa Palmas
para o Semi-Árido, desenvolvido pela Federação da Agricultura do
Estado da Paraíba (Faepa). A apresentação entusiasmou representantes
da Federação da Agricultura do Estado de Minas (Faemg), que se
disseram dispostos a implantar projeto semelhante no norte e
nordeste mineiros.
A palma tem esse nome porque seu caule se ramifica
em formas achatadas, semelhantes a uma raquete de ping-pong. Dela se
come tanto as raquetes (ou palmas) como o fruto, conhecido como
figo-da-índia. Apesar de 90% da planta ser constituída de água e
apenas 10% de fibras, ela possui alto nível de nutrientes como
cálcio, ferro e vitamina A, em quantidade superior à do tomate,
chuchu ou couve-flor. Segundo o presidente da Faepa, Mário Borba,
que é coordenador do Programa Palmas para o Semi-Árido, mais de 3
milhões de hectares de terras do México são utilizados para o
cultivo da planta, utilizada principalmente para o consumo humano.
No Brasil, estima-se o cultivo de 500 mil hectares, quase a
totalidade para alimentação do gado.
Presidente da Comissão de Política Agropecuária, o
deputado Vanderlei Jangrossi (PP) disse que não imaginava o valor
nutricional da palma. "Vemos que não se trata de uma alternativa de
alimentação, mas um produto nobre", afirmou o parlamentar.
Responsável pelo requerimento para realização da reunião, o deputado
Antônio Carlos Arantes (PSC) disse ter se animado a discutir o
cultivo da palma após assistir reportagem do programa Globo Rural,
que divulgou as técnicas introduzidas na Paraíba. Essas técnicas de
cultivo intensivo aumentam a produtividade natural em até dez vezes.
"A palma deve ser plantada de acordo com a inclinação do solo e a
posição do sol", explicou Mário Borba, que também acrescentou a
importância do uso da uréia para enriquecimento do solo. A planta
não se adapta bem a terras muito ácidas ou salinas.
Segundo Borba, há produtores paulistas e argentinos
que plantam a palma apenas para extrair o fruto, muito valorizado no
mercado. Enquanto isso, o semi-árido utiliza a planta basicamente
para alimentar o gado. As possibilidades de beneficiamento da palma
incluem cosméticos (com o broto da palma); farelo para consumo do
gado ou utilização em ração para galinhas; doces, salgados,
conservas e sucos com o broto ou o fruto, que tem gosto parecido com
o do kiwi. Iniciado na Paraíba, o Programa Palmas para o Semi-Árido
já se expande para Sergipe, Bahia e Alagoas.
Cultivo é apontado como opção contra a seca
O deputado Padre João (PT) destacou o potencial da
palma para amenizar os problemas causados pela seca no norte e
nordeste de Minas. "Já estamos recebendo reclamações daquela
população", afirmou o parlamentar. Já o deputado Chico Uejo (PSB)
disse que o cultivo pode ser uma alternativa para a agricultura
familiar na região. Mário Borba ressaltou que 46% da população rural
do Brasil está no Nordeste. Ele cobrou a realização de pesquisas e
incentivo a cultivos inovadores que ofereçam alternativas para essa
população conviver com a seca periódica.
O coordenador de bovinocultura da Emater em
Almenara, Amadeu Vasquez Tavares Quadros, que representou na reunião
o secretário de Estado da Agricultura, Gilman Viana, disse que a
palma é exemplo de iniciativas nordestinas que precisam ser
valorizadas em Minas. "Devemos ouvir a voz dos nordestinos. Nossa
agricultura segue padrões do sudeste e do Brasil central, além de
pesquisas estrangeiras", afirmou. Quadros disse que a palma pode ser
plantada em quase todas as regiões de Minas, com exceção das áreas
mais altas. No entanto, ele ressalvou que são necessárias mais
pesquisas. "O Norte de Minas é semi-árido, mas não é caatinga",
afirmou.
Já o superintendente técnico da Faemg, Afonso
Damásio Soares, disse que a entidade irá promover reuniões com
sindicatos do semi-árido mineiro para implantar programa semelhante
ao desenvolvido na Paraíba. Ele cobrou da Comissão de Política
Agropecuária o apoio para se buscar investimentos do Estado nesse
setor. A iniciativa foi elogiada pelo deputado Antônio Carlos
Arantes. O deputado Vanderlei Jangrossi, por sua vez, disse que a
comissão está sempre pronta a estabelecer parcerias como a proposta
por Soares.
Mário Borba acrescentou, ainda, que já existem
variedades de palma e técnicas de cultivo desenvolvidas para o
combate e à resistência à praga da cochonilha, que dizimou muitos
hectares de palma do Nordeste. A cochonilha é um pequeno besouro que
destrói a planta. O inseto produz um ácido que pode ser transformado
em corante. Com esse objetivo, foi introduzido no Nordeste, vindo do
México, e transformou-se em praga.
Presenças - Deputados
Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da comissão; Padre João (PT),
vice-presidente; Antônio Carlos Arantes (PSC) e Chico Uejo (PSB).
Além das autoridades citadas no texto, também participou da reunião
Rodrigo Fontes, técnico da Federação da Agricultura do Estado de
Minas Gerais (Faemg).
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