Comissão quer consenso sobre fiscalização de cooperativas médicas

A Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai tentar buscar um consenso para a situação dos profi...

18/06/2008 - 00:01
 

Comissão quer consenso sobre fiscalização de cooperativas médicas

A Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai tentar buscar um consenso para a situação dos profissionais médicos vinculados a cooperativas que prestam atendimento em hospitais particulares e filantrópicos no Estado. Recentemente, diversos hospitais passaram por fiscalizações do Ministério do Trabalho e Emprego, que considerou que a contratação via cooperativas estaria, na verdade, substituindo o vínculo trabalhista entre os médicos e os hospitais. O assunto foi discutido nesta quarta-feira (18/6/08), em reunião conjunta com a Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social, que contou com a participação de representantes de cooperativas médicas e dos hospitais, além de vários profissionais da categoria.

Na reunião, os convidados expressaram aos deputados que não concordam com a fiscalização e as autuações feitas pelo Ministério do Trabalho. De acordo com o presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Mosconi (PSDB), requerimento a ser aprovado na próxima reunião vai pedir que seja marcada audiência, em Brasília, com a participação dos ministros da Saúde e do Trabalho, o procurador-geral do Trabalho e representantes das entidades médicas. O objetivo da reunião será ampliar o diálogo entre as partes.

Na opinião do deputado Carlos Pimenta (PDT), que apresentou o requerimento pela audiência em Brasília, com as autuações já feitas e outras que venham a surgir, os hospitais privados e principalmente os filantrópicos, que estão sujeitos ao sistema público, vão acabar tendo a falência decretada. "Não somos contra a fiscalização, mas não podemos aceitar a forma como foi feita", disse. Para o deputado Doutor Rinaldo (PSB), é essencial tratar a questão com bom senso, pois as autuações podem acabar resultando em penhora de leitos hospitalares, o que prejudicaria a população. "É preciso estabelecer normas em nível nacional sobre essa situação", cobrou Doutor Rinaldo.

Cooperativas defendem modelo

De acordo com o presidente da Federação Nacional das Cooperativas Médicas, José Augusto Ferreira, o trabalho dos médicos particulares sempre foi considerado autônomo, principalmente com relação às operadoras de saúde, uma vez que muitas atividades têm caráter eventual. O surgimento das cooperativas, como ele explicou, foi uma forma encontrada pelo setor de se fortalecer, a partir do crescimento da saúde privada, nos anos 90, quando a categoria se viu pressionada pelas operadoras de saúde a reduzir custos e honorários.

Segundo Ferreira, só na Região Metropolitana de Belo Horizonte, funcionam 26 cooperativas, com quase 14 mil médicos filiados, o que representaria 90% da classe médica. O modelo também estaria presente em várias cidades do interior, fazendo com que Minas Gerais, que sedia a federação, seja considerado o mais estruturado do País nesse sentido. "O movimento das cooperativas na RMBH gerou uma série de conquistas reconhecidas em todo o País. Minas tem as melhores remunerações para médicos, o menor índice de inadimplência, a classificação mais avançada de procedimentos. As cooperativas são legítimas, regulares e funcionam. Têm força de negociação e de contratação", afirmou. Para ele, toda essa articulação desagradaria as grandes operadoras de saúde.

Críticas - O presidente da Federação das Cooperativas Médicas questionou a fiscalização feita nos hospitais de Belo Horizonte, que, segundo ele, não teria sido precedida de visita aos locais, análise de documentação e avaliação realista do segmento. Também houve exageros na opinião do presidente da Associação dos Hospitais de Minas Gerais, Wagner Issa. "Sou diretor de um hospital de 145 leitos em que a fiscalização determinou que se contratassem 800 médicos", criticou, dizendo que são os médicos quem escolhem os hospitais, levam os pacientes e são responsáveis pelos atos. "As autuações foram gerais e irrestritas", endossou o vice-presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados, Henrique Salvador Silva, que afirmou que a ligação às cooperativas é interesse dos próprios médicos.

O presidente do Conselho Regional de Medicina, Hermann Von Tienhausen, também defendeu a autonomia dos médicos vinculados a cooperativas. Para ele, a posição do Ministério do Trabalho está equivocada e, além de não resolver os problemas do sistema de saúde, vai acabar inviabilizando os hospitais privados e filantrópicos. "As cooperativas agregaram valor ao profissional. O médico tem liberdade de trabalho, por mais regular que seja sua presença em um local", concordou um dos diretores da Associação Médica do Estado, Cristiano Couto Mourão.

Médico é trabalhador normal

Presente na reunião, o representante do Ministério do Trabalho, o auditor Airton Marinho da Silva, afirmou que a fiscalização recaiu sobre as empresas e não sobre as cooperativas. Ele disse que não trabalhou diretamente nas autuações, mas que o auto de infração é uma imposição obrigatória na constatação de irregularidades; e reforçou que é preciso lembrar que o médico é um trabalhador como outro qualquer no País, apesar de ser alvo de inúmeros descumprimentos da legislação trabalhista.

O auditor fiscal explicou que casos de médicos que dão plantão fixo em hospital, tendo hora fixa para estar lá, configuram relação trabalhista. Fatores como subordinação, pessoalidade e remuneração são outras características que geram vínculo, sendo proibidas pela legislação que rege as cooperativas. "O Ministério do Trabalho não é contra o movimento das cooperativas, pelo contrário. Mas infelizmente, muitas vezes, percebe-se o desvirtuamento dessa condição", lembrou. Ele informou que haverá uma reunião com as entidades sobre o assunto no dia 23 de junho.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Hely Tarqüínio (PV), vice; Carlos Pimenta (PDT) e Doutor Rinaldo (PSB). Além dos citados na matéria, participaram da reunião: o superintendente da Associação dos Hospitais/MG (AHMG), Dilson de Quadros Godinho; o representante do Sindicato dos Médicos do Estado, Aroldo Gonçalves de Carvalho; o assessor da Presidência da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas (Federassantas), Porfírio Marcos Rocha Andrade; o advogado do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do Estado, Luiz Roberto Capistrano Costa e Silva; o representante Jurídico do Hospital Felício Rocho Flávio Carvalho Monteiro de Andrade; Farley Carneiro e Silva, da Unimed do Norte de Minas; Reinaldo Pimenta de Pádua, da Cooperativa de Trabalho dos Médicos e Profissionais da Área de Saúde do Norte de Minas (Sancoop); e Leandro Lula, da Unimed do Norte de Minas.

 

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