Minas de Minas termina com a aprovação de 50 propostas
Depois de quase seis horas de debates, os
participantes do Seminário Legislativo Minas de Minas
aprovaram, nesta quinta-feira (12/6/08), no Plenário da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, um documento com 50 propostas que
poderão inspirar a elaboração de uma política minerária para o
Estado e o País. O presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho
(PP), ao receber o documento, destacou que ele representa, de forma
simbólica, o produto final dos minerais do rico subsolo após
lapidados e trabalhados de maneira plural, democrática e com a
participação ativa de todos os segmentos da sociedade. "Essa data
ficará marcada na História de Minas Gerais. Faremos valer a vontade
externada democraticamente nesta Casa", destacou.
Entre as propostas aprovadas, está a de elevar o
percentual da alíquota da Compensação Financeira pela Exploração de
Recursos Minerais (Cfem) repassada aos municípios e alterar sua base
de cálculo, adotando o faturamento bruto das mineradoras no caso das
saídas por venda. Também foi aprovada a sugestão de se elaborar um
programa de orientação aos municípios mineradores para aplicação e
fiscalização dos recursos do royalty, promovendo-se inclusive
palestras para a sociedade civil, organizada ou não. Outra sugestão
aprovada foi a de criar uma caução para os empreendedores como
garantia da recuperação ambiental durante o fechamento das minas.
Entre as propostas rejeitadas, está a que propunha
a supressão das autorizações ambientais de funcionamento para
atividades de extração mineral. Os participantes do seminário
entenderam que elas são um instrumento importante na modernização do
processo de regularização ambiental das atividades potencialmente
poluidoras, como é o caso da mineração. O presidente da ALMG também
avaliou como positiva a proposta de criação, na ALMG, de uma
comissão permanente de Minas, Energia e Metalurgia.
Promovido pela ALMG em parceria com entidades
governamentais e não-governamentais, o seminário teve cerca de 600
inscritos, sendo 226 delegados com direito a voz e voto na plenária
final, coordenada pelo deputado Domingos Sávio (PSDB). Antes dessa
etapa, que teve início nesta segunda-feira (9), o seminário
percorreu 11 cidades do interior de Minas, quando foram apresentadas
364 propostas por 927 participantes de 101 municípios. Nos grupos de
trabalho que atuaram nesta terça (10) e quarta (11), as propostas
foram discutidas, aglutinadas ou suprimidas, resultando em 60
sugestões levadas à plenária. Os temas debatidos nos grupos foram:
"Sistema federativo e a legislação sobre mineração, política
tributária e royalties"; "Sustentabilidade e mineração em
Minas Gerais" e "Gestão ambiental da mineração".
Duas novas propostas foram apresentadas e votadas.
Uma delas, trazida pelo Sindicato Metabase de Itabira, propôs a
reestatização da Vale, mas foi rejeitada. Foi aprovada sugestão do
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Extrativa de Paracatu e
Vazante para que a validação dos levantamentos ambientais,
realizados pelas empresas para identificar agentes agressivos à
saúde humana presentes no ambiente de trabalho, se dê mediante
comprovação de que tenham sido acompanhados por diretores sindicais
ou técnicos indicados pelas entidades sindicais.
Deputados e participantes elogiam discussões;
comissão de representação é eleita
O presidente Alberto Pinto Coelho lembrou que o
seminário partiu da própria casa legislativa por sugestão de
parlamentares, e a idéia conquistou a adesão de todos os segmentos
interessados na cadeia da mineração - que representa mais de 30% do
PIB mineiro. Ele fez elogios, ainda, à equipe técnica da ALMG. "Sem
ela não teríamos dado o primeiro passo", disse.
O deputado Domingos Sávio classificou a plenária
final como instrumento democrático e legítimo para aprovação das
sugestões, e lembrou a importância da comissão de representação,
destinada a dar seqüência ao trabalho e pressionar pela
materialização das propostas. Essa comissão será formada por
representantes dos Executivos estadual e federal, dos municípios
mineradores e dos segmentos empresarial, dos trabalhadores e das
organizações não governamentais (ONGs) e instituições educacionais.
Também foi apresentada a proposta de uma comissão formada somente
por deputados para acompanhar o processo e contribuir para
concretizar as sugestões.
Outros parlamentares também falaram. O deputado
Padre João (PT) destacou que o seminário é apenas uma etapa do que
deve ser feito. Segundo ele, agora é preciso traduzir em proposições
de lei as reivindicações, destacando o compromisso que deve ser
mantido pelas entidades participantes. Já o deputado Almir Paraca
(PT) lamentou o atraso na adequação da legislação à nova dinâmica da
mineração no Estado. Ele também pontuou que é preciso atuar em outra
frente: a mobilização e organização das comunidades locais, que
devem manter suas formas de pressão.
Coube também a José Nelson de Almeida Machado, da
Sociedade Mineira de Engenheiros e coordenador de um dos grupos de
trabalho, resumir o espírito do seminário. Ele classificou as
propostas aprovadas no grupo - cujas atividades duraram cerca de 10
horas - como úteis para qualquer um que queira implementar políticas
públicas ou produzir legislação sobre o tema. Ele disse esperar que
as futuras normas sobre mineração reflitam os anseios da sociedade.
A consultora jurídica da Associação dos Municípios
Mineradores de Minas Gerais (Amig), Priscila Ramos Netto Viana, e
Maria do Carmo Brito e Silva, da Secretaria de Meio Ambiente de Rio
Acima, também coordenadoras de grupos de trabalho, destacaram o
equilíbrio no debate das diferentes propostas e o esforço pelo
consenso, também avaliando de forma positiva o seminário.
Comissão de representação -
Integram a comissão de representação: Sindicato Metabase de Itabira;
Federações dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas e na
Agricultura do Estado de Minas Gerais (Ftiemg e Fetaemg); Associação
das Empresas Mineradoras, Beneficiadoras e de Comércio de Quartzito
da Região de São Tomé das Letras (Amist); Federação das Indústrias
do Estado de Minas Gerais (Fiemg); Sindicato da Indústria Extrativa
(Sindiextra); Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram); Secretarias
de Estado de Desenvolvimento Econômico, de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável e de Fazenda; Câmara Municipal de Rio
Acima; Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig);
Consórcio de Desenvolvimento do Alto Paraopeba (Codap); Fundação
Acangaú, de Paracatu; Fundação Comunitária Cultural do Meio Ambiente
(Fucoma), de Formiga; Rede Mineira da Cidadania e Cefet.
Conheça algumas propostas aprovadas
* revisão da legislação federal sobre a Cfem, em
especial quanto à alteração da base de cálculo, passando-se a adotar
o faturamento bruto das mineradoras no caso das saídas por venda. No
consumo pela empresa, aplicação do valor de pauta do mercado
regional. Quando houver transferência, aplicação do preço corrente
da substância mineral no mercado regional. Se houver venda e o preço
unitário for superior ao valor da pauta, efetuação do cálculo da
Cfem sobre o valor real.
* regulamentação do artigo 23 da Constituição
Federal, que dispõe sobre as competências comuns dos entes
federativos.
* revisão da legislação federal da mineração,
considerando a imposição de prazo limite de 180 dias para a
indenização de atingidos por rompimentos de barragens de
rejeitos.
* estímulo, por meio de política tributária, à
agregação de valor ao produto mineral, criando-se incentivos para a
transformação dos minérios e tributação de sua exportação, de forma
a incentivar seu beneficiamento no Estado.
* desenvolvimento de ações voltadas para a
agregação de valor aos bens minerais, por meio de estímulo à
industrialização, na própria região, dos minerais produzidos; e
estímulo à constituição de arranjos produtivos locais de base
mineral.
* regulamentação de dispositivos da Constituição
que tratam da criação do Sistema Estadual de Gerenciamento dos
Recursos Minerais, com instituição de um conselho de composição
tripartite e de subconselhos regionais; ampliação da abrangência do
Fundo de Exaustão Mineral, de forma a incluir eventuais projetos de
recuperação ambiental, atendimento emergencial da população em caso
de acidente ambiental e financiamento de pesquisa mineral pública;
criação do fundo, por lei complementar, direcionando para ele
recursos oriundos da Cfem, de tributos estaduais, de investimentos
novos (percentual do valor dos projetos) e de parcela de
financiamento para implantação ou reforma de instalações de produção
concedidos por bancos de desenvolvimento do Estado.
* apoio do Estado para a revitalização e
diversificação econômica dos municípios mineradores, levando-se em
consideração os aspectos políticos, sociais e ambientais da região.
* criação, no âmbito do Executivo Estadual, de
secretaria específica para a temática Minas e Energia, com reflexo
nos municípios.
* fortalecimento do ensino e da pesquisa voltados
para a mineração e o meio ambiente, por meio das seguintes ações:
ampliação da oferta de vagas no ensino técnico e superior; criação,
nos Cefets, de cursos técnicos nas áreas de mineração e meio
ambiente; investimentos em laboratórios e oficinas; financiamento de
pesquisas; apoio à formação de mão-de-obra especializada; estímulo
ao desenvolvimento e incorporação de inovações tecnológicas em toda
a cadeia produtiva mineral; incentivo à celebração de parcerias
entre empresas mineradoras e instituições de ensino e pesquisa.
* criação de centros profissionalizantes de ensino,
com gerenciamento do Estado, com ensino público gratuito e de
qualidade em pesquisa e extensão nas áreas de mineração, meio
ambiente, gemologia, lapidação, joalheria e afins, bem como para o
comércio de forma sustentável.
* melhoria da fiscalização ambiental de
empreendimentos minerários nos seguintes aspectos: capacitação de
fiscais ambientais, inclusive da Polícia Ambiental, quanto à
legislação e questões técnicas, priorizando a orientação em
detrimento da punição, inclusive nas áreas de garimpo; repressão à
mineração clandestina; regionalização dos órgãos fiscalizadores,
dotando-os de melhor infra-estrutura e ampliando o quadro de
pessoal; aplicação efetiva da NR 22, que dispõe sobre segurança e
saúde ocupacional na mineração; atuação conjunta de fiscais dos três
entes federativos.
* participação efetiva do município no processo de
licenciamento ambiental de atividades minerárias no que diz
respeito, principalmente, às medidas compensatórias, que são
definidas pela Câmara de Biodiversidade do Instituto Estadual de
Florestas (IEF), muitas vezes sem consulta ao município.
Revisão da legislação trabalhista e normas para os
pequenos
Outra proposta aprovada é a revisão da legislação
trabalhista, visando à desoneração dos custos com a força de
trabalho e à implantação de políticas que obriguem as empresas a
informar número de empregados, tipos de minérios extraídos e
relatórios de levantamento ambiental para identificar agentes
agressivos à saúde nos locais de trabalho.
Também foram aprovadas as propostas de criar
procedimentos simplificados da concessão de lavra a pequenos
mineradores e garimpeiros, desde que organizados em cooperativas; de
se apresentar ao Conselho de Política Fazendária (Confaz), que reúne
secretários de Fazenda estaduais, a proposta de redução da alíquota
do ICMS de 3% sobre pedras preciosas e diamantes em âmbito nacional;
e de se criarem mecanismos fiscais e tributários para lançar os
passivos socioambientais das mineradoras na conta de ativos não
liquidáveis.
Compensação ambiental como garantia de
sustentabilidade
No capítulo "Sustentabilidade e mineração em
Minas", uma das propostas acabou provocando a dissidência da
Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), que se retirou
da plenária final. Na discussão de uma das propostas a Amda pediu a
supressão de todo o artigo com seus sete incisos, sob a alegação de
que havia muitos equívocos entre eles, mas reclamou que não lhe foi
dado o tempo necessário para a defesa de tal supressão. Foi
derrotada na votação, tendo permanecido o texto original com
pequenas modificações, como a referência, no caput, à Lei do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a prioridade de
investimentos nas unidades já existentes e algumas supressões de
caráter técnico.
A proposta sugere as seguintes medidas para a
compensação ambiental definida no licenciamento ambiental: garantir
a aplicação integral dos valores nos municípios impactados pelo
empreendimento; priorizar aplicação em revegetação, quando possível
com espécies do bioma original, simultaneamente ao progresso da
lavra; dar preferência, nas ações definidas, à capacitação e
utilização de mão-de-obra local; permitir a formação de consórcio
entre empreendimentos da mesma região, como forma de concentrar
recursos; vincular a aplicação de recursos a projetos
socioambientais aprovados por comitê tripartite e com anuência dos
Codemas dos municípios envolvidos; durante atividade de lavra, ao
deparar com cavidades relevantes, confirmadas pelo órgão competente
num prazo de 90 dias, porém fora do contexto de preservação, admitir
a negociação de supressão em troca de valor de compensação a ser
aplicado na conservação ou regularização de unidade existente na
área (adoção de termo de referência de valoração de cavidades, em
discussão no Conama).
Outras propostas prevêem: garantia para produtores
rurais, especialmente agricultores familiares, posseiros, parceiros,
meeiros, arrendatários, ribeirinhos, extrativistas, povos
tradicionais e assalariados rurais, que tenham suas terras atingidas
pela instalação de empreendimentos imobiliários; criação de centros
de referência em saúde do trabalhador em municípios mineradores ou
sedes de indústria de transformação mineral; fortalecimento do
ensino e pesquisa para a área de mineração; reestruturação do
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), com implantação de
escritório em cada região do Estado e adequação da infra-estrutura e
de pessoal para atender às demandas.
Gestão e licenciamento - Nesse capítulo foram aprovadas sugestões de melhoria da
fiscalização ambiental de empreendimentos minerários, com a
capacitação de fiscais, repressão à mineração clandestina,
regionalização dos órgãos fiscalizadores, reformulação das
audiências públicas, quando da instalação de novos empreendimentos,
para ampla divulgação nos municípios, apresentação nessas audiências
dos estudos de impactos ambientais e participação efetiva dos
municípios, com a presença dos Codemas, nos processos de
licenciamento.
Também compôs a mesa dos trabalhos, ao final do
evento, o presidente eleito do Sindicato dos Jornalistas, Aloísio
Morais.
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