Especialistas defendem projeto de prevenção à anorexia

Situações como a de uma paciente que, internada para tratamento de anorexia, tirou o soro por medo de engordar e foi ...

11/06/2008 - 00:01
 

Especialistas defendem projeto de prevenção à anorexia

Situações como a de uma paciente que, internada para tratamento de anorexia, tirou o soro por medo de engordar e foi para o chão do quarto do hospital para fazer abdominal, ou a de jovens que expressam na internet sua admiração por modelo que morreu por causa dessa doença foram relatadas por profissionais da área de saúde que participaram de reunião da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O objetivo da reunião desta quarta-feira (11/6/08) foi debater o Projeto de Lei (PL) 2.295/08, que pretende proibir a realização de eventos de moda no Estado com modelos com índice de massa corporal (IMC) menor que 18 kg/m2 - marca recomendada pela ONU. Na ocasião, convidadas e deputados presentes à reunião manifestaram apoio à aprovação da medida.

O PL 2.295 foi analisado dia 20 de maio pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que aprovou parecer pela inconstitucionalidade da matéria. A justificativa foi a de que o projeto viola o princípio constitucional da igualdade (discriminando pessoas com IMC baixo) e também as competências de outros entes, como a União (ao tratar de relação de trabalho). Agora, o autor do projeto, deputado Fahim Sawan (PSDB), afirmou que tentará mobilizar os deputados para que esse parecer seja rejeitado no Plenário, que é o próximo destino do projeto, como estipula o Regimento Interno da ALMG, na tentativa de que possa continuar tramitando e seja transformado em lei.

Segundo Fahim Sawan, a apresentação do projeto foi motivada pela grande preocupação que ele, como médico e parlamentar, tem tido com a propagação da magreza exagerada entre crianças e adolescentes, de ambos os sexos, que acabam desenvolvendo a anorexia para atender ao padrão de beleza ditado pela moda e pelos meios de comunicação. Na opinião do autor do projeto, a matéria não trata de direito do trabalho, mas sim sobre a realização de eventos de moda, em que não há vínculos empregatícios. "O objetivo não é impedir o exercício da profissão. Mas as agências têm que garantir a saúde das modelos que querem trabalhar em Minas", defendeu Sawan.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) ressaltou que, em outros países, medidas que visam restringir estímulos à anorexia já são realidade, como na França, onde o governo pretende aprovar punições para casos de incitação à doença. O vice-presidente da comissão, deputado Hely Tarqüínio, expressou sua concordância, afirmando que é a necessidade que deve gerar a lei, e que, quando a vida corre risco, é dever e obrigação do Estado legislar. Na opinião do deputado Ruy Muniz (DEM), as exigências deveriam ser ainda maiores, proibindo que menores de 16 anos participem profissionalmente desses eventos.

Até as crianças têm medo de engordar

Meninas cada vez mais novas, como de 8 anos, vão aos consultórios de nutrição com medo de engordar por causa da ingestão de alimentos como carnes e carboidratos. Essa é uma realidade que muitos profissionais têm encarado, como contou a nutricionista Vanessa Costa Amorim, que integra um núcleo da UFMG voltado para o tema.

A nutricionista ponderou que magreza é diferente de anorexia, que só acontece em quem é propenso à doença, mas ressaltou que a insatisfação corporal e o incentivo à magreza, como ocorre nas agências de modelo, podem desencadear o transtorno alimentar nessas pessoas. Para ela, a aprovação do PL 2.295 seria uma medida inicial importante para a prevenção da doença, que pode levar a inúmeros problemas de saúde, com risco de morte, e tem difícil tratamento, uma vez que o paciente não consegue criar vínculos de confiança com a equipe ou familiares.

"É um transtorno silencioso. Muitas vezes, quando os pais descobrem a doença, a pessoa se sente ainda mais incentivada, pois sente que está emagrecendo", completou a psicóloga Maria Goretti Machado, também da UFMG. Ela explicou que a imagem corporal da pessoa anoréxica se perde, pois ela se vê gorda e não percebe as implicações da doença, que são orgânicas.

Para a representante da organização não-governamental Núcleo Mineiro de Obesidade, Jussara Lima, que já perdeu uma irmã por causa de anorexia, é preciso rever obrigações das agências de modelo para com as crianças. Segundo ela, a companhia de pais ou responsáveis de modelos de 12, 13 anos que vão para fora do País representar a agência deveria ser obrigatória. "Para mim, são crianças", alertou.

Requerimentos aprovados

A comissão aprovou requerimento do deputado Eros Biondini (PHS), pedindo audiência pública conjunta com a Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais. O objetivo é debater o PL 2.382/08, que regulamenta a eliminação da vida de cães e gatos, com a participação de representantes da Secretaria de Estado de Saúde, do Ministério Público, das Escolas de Veterinária da PUC e da UFMG, do Conselho Regional de Medicina Veterinária e da Sociedade Protetora dos Animais.

Outro requerimento aprovado, da deputada Cecília Ferramenta (PT), pede envio de oficio à CCJ solicitando apoio à aprovação do PL 251/07, de autoria dela, que inclui profissionais da fisioterapia e da terapia ocupacional no Programa Saúde em Casa. Ela também pede que a comissão envie ofício a todos os municípios mineiros, solicitando aos prefeitos que avaliem a possibilidade de incorporar esses profissionais no Programa Saúde da Família (PSF), com base em portaria do Ministério da Saúde.

Do 1º-secretário da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), foram aprovados dois requerimentos sobre o expressivo aumento no preço dos medicamentos nos últimos meses. Ao Ministério Público, ele pede apuração de responsabilidade; e à Anvisa, que novos aumentos sejam impedidos.

Presenças - Deputados Hely Tarqüínio (PV), vice-presidente, Carlos Pimenta (PDT), Ruy Muniz (DEM) e Fahim Sawan (PSDB).

 

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