Seminário debate sugestões para o desenvolvimento
sustentável
A instituição de mecanismos que garantam a
preservação do meio ambiente e a realização da atividade mineradora
por meio do desenvolvimento sustentável foi um dos temas dos debates
na manhã desta quarta-feira (11/6/08) do Seminário Legislativo
Minas de Minas, realizado pela Assembléia Legislativa de
Minas Gerais. O secretário de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho, defendeu uma
modificação na legislação determinando que as empresas mineradoras
ofereçam uma garantia financeira com o objetivo de solucionar o
passivo ambiental das minas no momento do seu fechamento. Ele falou
também sobre o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) feito pelo
Estado em parceria com várias universidades e entidades, e que será
utilizado para orientar a concessão das licenças ambientais.
Outros aspectos da atividade minerária evidenciados
nos debates foram críticas aos impactos negativos da mineração e à
desarticulação dos órgãos ambientais encarregados da fiscalização.
Também foram enfocadas questões como a perda de terras dos
agricultores familiares; a situação difícil vivida pelos
trabalhadores do setor, expostos a acidentes e doenças, e que pedem
maior participação nos resultados e o reposicionamento no mercado
após o fechamento das minas; e as reivindicações dos pequenos
mineradores, que cobram um tratamento diferenciado com relação às
grandes empresas. O seminário vai até esta quinta (12), quando será
votado documento com propostas para uma política minerária para o
Estado, que subsidiará ações legislativas.
Já o diretor de Meio Ambiente do Sindiextra e
presidente do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da
Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Vítor Feitosa,
criticou a burocracia na análise dos licenciamentos, considerando
que as questões ambientais dificultam novos investimentos no Brasil.
Ele falou sobre a necessidade de construção conjunta entre Poder
Público, sociedade civil e setor privado das políticas públicas e
dos programas de governo, garantindo o incentivo ao desenvolvimento
sustentável. As palestras de Carvalho e Feitosa fizeram parte do
painel "Desafios da sustentabilidade", coordenado pelo deputado
Padre João (PT), e que contou com a presença de vários debatedores -
oficiais e da platéia, lotada de delegados que terão direito a voz e
voto na plenária final.
Empresas devem oferecer garantia para a sociedade;
trabalhadores cobram ações
O oferecimento de uma garantia financeira pelas
empresas mineradoras para resolver o problema do passivo ambiental
das minas foi defendido pelo secretário José Carlos Carvalho. Ele
afirmou que já encaminhou projeto nesse sentido para a Assembléia, e
destacou a necessidade de retomada das discussões para a modificação
na legislação atual criando esse mecanismo. "O que estou propondo
não vai atrapalhar o desenvolvimento do setor, mas sim fazer com que
os bons exemplos dados por algumas empresas sejam seguidos por
todas", considerou. De acordo com ele, a garantia seria proporcional
ao tamanho econômico do empreendedor e sua capacidade
contributiva.
José Carlos Carvalho afirmou que normalmente a vida
útil de uma mina é de 30 a 40 anos, sendo necessária uma previsão do
que será feito no momento do seu fechamento. Ele destacou que
existem empresas que já procuram fazer esse planejamento, mas citou
o exemplo negativo de passivo ambiental deixado pelas mineradoras na
Serra de Itatiaiuçu. Para o secretário, não existem certezas de que
mesmo as grandes empresas estarão financeiramente estáveis daqui
alguns anos, sendo necessário que a legislação já preveja a
necessidade da garantia financeira.
Na fase de debates, um dos que resumiram as
reivindicações dos trabalhadores foi o presidente do Sindicato dos
Trabalhadores da Indústria Extrativa de Paracatu e Vazante, José
Osvaldo Rosa de Souza. Ele cobrou que as garantias citadas por
Carvalho não se restrinjam aos aspectos ambientais e de interesse
dos municípios, mas também às questões trabalhistas. Informou, no
entanto, que essa proposta foi derrubada no grupo de trabalho do
seminário do qual participou. Ele citou o exemplo de 400 pais de
família "jogados na rua da amargura" quando empresa de mineração de
Vazante faliu e os profissionais ficaram desamparados, já que o
empreendedor não recolhia fundo de garantia por tempo de serviço.
"Como falar das minas sem mencionar os trabalhadores?", reforçou
Souza, questionando o pouco espaço que teria sido dado, segundo ele,
à questão durante o seminário.
Ainda sobre as garantias, Vítor Feitosa ponderou
que muitas mineradoras perseguem o planejamento do que fazer após o
fechamento da mina. Segundo ele, isso beneficia o próprio processo
da mineração. Já o deputado Padre João lembrou que tramita na ALMG
projeto de sua autoria que trata da caução ambiental e que pode ser
emendado para prever a garantia com relação à mão-de-obra das minas.
É o PL 265/07, que cria a caução para empreendimentos considerados
potencialmente nocivos ao meio ambiente e à população, que aguarda
análise na Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais.
Zoneamento ecológico - José
Carlos Carvalho falou também sobre o ZEE, elaborado pelo Governo do
Estado em parceria com várias universidades e outras entidades, que
tem como objetivo contribuir para a proteção da biodiversidade e
para a definição de áreas estratégicas para o desenvolvimento
sustentável do Estado. "Através do ZEE, será possível orientar os
investimentos do governo e da sociedade civil segundo as
peculiaridades regionais", destacou.
De acordo com ele, o ZEE fez um cruzamento de dados
entre os pedidos de lavra existentes hoje em Minas Gerais e as áreas
de maior vulnerabilidade, ou seja, com maior risco para os recursos
hídricos ou para a vegetação nativa de alto valor biológico, por
exemplo. "É claro que o licenciamento ambiental deve ser mais
rigoroso nos locais com maior vulnerabilidade", afirmou. Segundo
ele, atualmente existem 21 mil pedidos de lavra em Minas Gerais e
367 minas em operação. José Carlos Carvalho também defendeu que, no
momento da concessão do licenciamento, seja levada em consideração a
infra-estrutura do município para receber o empreendimento, além da
responsabilidade da empresa com o desenvolvimento sustentável.
Questões ambientais dificultam investimentos no
Brasil
Para o diretor de Meio Ambiente do Sindiextra,
Vítor Feitosa, as questões ambientais são consideradas pelas grandes
empresas como uma das maiores dificuldades para se investir no
Brasil, sendo que os níveis de exigência para o licenciamento
ambiental não são coerentes com os riscos ambientais envolvidos.
Vítor Feitosa criticou a atuação dos conselhos que costumam
estabelecer resoluções discriminatórias, restritivas além do
necessário e onerosas. "Muitas vezes as resoluções desses conselhos,
que têm uma composição desbalanceada, ao mesmo tempo que dificultam
os investimentos não geram, necessariamente, a preservação do
patrimônio natural", considerou.
Feitosa destacou que existe hoje uma visão negativa
sobre as indústrias, que desconsidera a importância dos produtos
responsáveis pela qualidade de vida da sociedade. "A visão geral do
poder público e da sociedade civil é de que as indústrias sempre
poluem, não importando os projetos de recuperação que tenham sido
desenvolvidos", disse. Para o representante do Sindiextra, além da
grande burocracia, os licenciamentos ambientais vêm levando as
empresas a assumir responsabilidades do poder público no
desenvolvimento de ações sociais. Lembrou que as mineradoras não são
as únicas responsáveis por problemas ambientais, sendo que 88% dos
municípios brasileiros dispõem seus resíduos de maneira inadequada,
contaminando solo, água e ar.
Desenvolvimento sustentável - Para superar esse impasse entre os empreendimentos e a
preservação ambiental, Vítor Feitosa defendeu que o planejamento
governamental seja um processo de negociação permanente entre o
Estado, empresas e instituições da sociedade civil. "Em todas as
etapas do processo de formulação e implementação de políticas,
programas e projetos de desenvolvimento sustentável deve haver o
fortalecimento de estruturas participativas e a negação de
procedimentos autoritários", afirmou. Para Feitosa, somente com
diálogo permanente será possível, por exemplo, a votação de leis
decisivas para a implementação do desenvolvimento sustentável.
Debatedores falam sobre meio ambiente, questões
trabalhistas e pequenos mineradores
Cinco debatedores fizeram contrapontos à fala dos
expositores. O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São
Francisco, Thomaz Matta Machado, indagou o porquê de a mineração ter
evoluído tão pouco em tecnologia. "Será que em nome da importância
do setor não vamos evoluir tecnologicamente, a fim de causar menos
risco ambiental?", questionou, avaliando que alguma melhoria (ações
para reduzir a poeira e para fazer recomposição vegetal, por
exemplo) foi verificada apenas em aspectos externos ao processo
produtivo. Ainda assim, como resultado da pressão da sociedade. Ele
cobrou que Minas assuma papel de liderança na discussão desse
tema.
O presidente da Associação das Empresas
Mineradoras, Beneficiadoras e de Comércio de Quartzito da Região de
São Tomé das Letras (Amist), Antônio Francisco da Silva, trouxe as
reivindicações dos pequenos empreendedores. Ele admitiu que muitos
não têm feito o "para casa", afirmando que é preciso melhorar com
relação às normas ambientais. Mas reivindicou um tratamento
diferenciado entre empresas de diferentes portes. "A gestão
ambiental coloca no mesmo balaio as grandes corporações e os
pequenos, que não têm acesso ao crédito, não exercem lobby e
não podem pagar bons escritórios de advocacia", opinou.
Partiram também dele a crítica à desarticulação dos
órgãos ambientais e a reivindicação de que as unidades regionais do
Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) tenham representação
local do setor produtivo. Apesar de elogiar a atuação de órgãos de
Estado em São Tomé das Letras, Silva pediu que a atuação do
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e da Secretaria de
Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) seja
mais integrada.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do
Estado de Minas Gerais (Fetaemg) e a Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Indústria (CNTI) também falaram. O diretor regional
da CNTI, José Reginaldo Inácio, ponderou que não se pode falar em
sustentabilidade sem a diminuição do lucro e da ganância extremada
das empresas - que muitas vezes levam o patrimônio e as riquezas
para fora da nação, na opinião dele. Relacionou vários impactos da
atividade, como doenças e mutilações nos trabalhadores, degradação
ambiental e evasão de agricultores de suas terras. Para ele,
simplesmente elevar o royalty da mineração não resolve o
problema.
O presidente da Fetaemg, Vilson Luiz da Silva,
levantou outro aspecto: a situação dos agricultores familiares nas
regiões onde há um grande empreendimento minerário. Esse segmento
acaba não sendo atendido, muitas vezes, por políticas públicas cujo
critério de implementação é o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH). Esse índice, disse, acaba falsamente elevado por conta da
mineração. "É um grande passivo a se considerar." Com ele concordou
Padre João.
Já a assessora jurídica da Associação Mineira de
Defesa do Ambiente (Amda), Cristina Chiodi, considerou que a
atividade minerária possui ainda um peso político e econômico muito
grande, o que se reflete inclusive na legislação. Para ela, a
mineração é fundamental na sociedade, mas é importante que a
atividade não seja realizada nos locais de preservação ambiental.
Cristina Chiodi ainda afirmou que o atual modelo de desenvolvimento,
baseado no consumo de produtos industrializados, não garante a
preservação dos recursos naturais. "É preciso refletir que essa
demanda da sociedade por produtos é insustentável", disse.
Secretário admite que audiências dos licenciamentos
precisam ser aprimoradas
Na fase de debates, o secretário de Estado de Meio
Ambiente, José Carlos Carvalho, respondeu várias perguntas dos
participantes. Muitas delas trataram do que está sendo feito para
fiscalizar a atividade minerária e das características do processo
de licenciamento ambiental. Um dos questionamentos foi sobre as
audiências públicas - quando a empresa informa sobre o
empreendimento e a sociedade pode opinar e apresentar sugestões para
aprimorar o processo.
O jornalista e ambientalista Gustavo Gazinelli
questionou o secretário sobre o porquê de audiências serem feitas à
revelia das normas que a elas cabem. O deputado Padre João,
coordenador da reunião, ponderou que as audiências não são
esclarecedoras e não garantem a participação social. "As pessoas
saem muitas vezes mais angustiadas e confusas do que chegaram",
opinou.
Em resposta, o secretário admitiu que é preciso
atualizar o modelo, a fim de que as audiências sejam mais eficazes.
Isso está sendo observado, acrescentou, no trabalho de revisão da
Deliberação Normativa (DN) 74, que estabelece critérios para a
classificação dos empreendimentos e determina normas para
indenização dos custos de análise de pedidos de autorização e de
licenciamento. Ele admitiu que o formato atual torna a audiência
pública quase inócua, pois há pouco tempo para o debate. Também
avaliou que é preciso qualificar melhor a sociedade para participar
desse processo.
Carvalho respondeu Gazinelli sobre a posição
assumida pelo Governo de Minas, no Conselho Nacional de Política
Ambiental (Conama), de permitir a mineração em área de preservação
permanente. O secretário disse que o governo assumiu posição
favorável por razões políticas, institucionais, econômicas e
sociais. Ele ponderou que, se a jazida está numa área de preservação
permanente (e isso ocorre em quase toda Minas Gerais), é preciso
admitir a exploração, mas com todas as cautelas que o meio ambiente
exige.
MMX - O secretário também
foi questionado sobre o mineroduto Minas-Rio, empreendimento da
empresa MMX que pretende levar minério de ferro de Conceição do Mato
Dentro, Alvorada de Minas e Serro, onde estão as jazidas, até o
Porto de Barra do Açu, em São João da Barra (RJ). O mineroduto vai
percorrer 25 cidades mineiras e sete fluminenses. Ele reconheceu os
problemas do processo de licenciamento e afirmou que, num
empreendimento interestadual como esse, é preciso ação integrada.
Informou que o órgão federal já deu licenças prévia e de instalação
do mineroduto e o Rio de Janeiro, do porto; mas que Minas ainda não
emitiu a licença prévia, pois tem promovido audiências nos
municípios afetados para colher as sugestões da comunidade
afetada.
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