Palestrantes defendem interesses diferentes no Minas de Minas

Posições divergentes e uma manifestação barulhenta. Assim foi o início dos trabalhos na tarde do segundo dia de debat...

10/06/2008 - 00:03
 

Palestrantes defendem interesses diferentes no Minas de Minas

Posições divergentes e uma manifestação barulhenta. Assim foi o início dos trabalhos na tarde do segundo dia de debates do Seminário Legislativo Minas de Minas, durante o painel Compromisso com o futuro - cenários e estratégias, realizado na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira (10/6/08). O debate foi coordenado pelo deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Os expositores defenderam interesses dos segmentos que representam: governos federal, estadual, municipal e empresas mineradoras. As galerias do Plenário foram ocupadas por manifestantes que gritavam palavras de ordem contra temas variados, com enfoque especial na privatização da mineradora Vale, interrompendo os trabalhos por quase uma hora.

O painel foi aberto pelo coordenador-geral da Gestão de Conflitos Relacionados à Mineração (Gescom) da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, René Vilela, que parabenizou à Assembléia pela "iniciativa pioneira e exemplar" de realizar o seminário. Segundo ele, as sugestões colhidas durante os 11 encontros regionais que antecederam a etapa final podem contribuir para aperfeiçoar o modelo mineral e agregar sustentabilidade não só ao setor, mas às áreas onde há mineração.

René Vilela fez sugestões para conciliar os diferentes interesses dos envolvidos na atividade. Uma delas seria trabalhar com o conceito de gestão territorial para definir o licenciamento, analisando toda a área afetada pela mineração e não somente o empreendimento. Propôs ainda a implantação de consultas públicas para definir os licenciamentos, fortalecimento dos municípios para a solução dos conflitos e redefinição da Compensação Financeira para Exploração dos Recursos Naturais (Cfem) com alíquotas segmentadas e progressivas, aumentando a contribuição à medida que o empreendimento eleve seu faturamento.

O especialista também defendeu mais investimento em transferência de tecnologias, ao explicar que não há programas e nem orçamentos públicos que facilitem o acesso das empresas às tecnologias já existentes para melhorar a produtividade e a exploração. "Um setor que trabalha com perdas que vão de 60% a 90% não pode considerar isso normal", provocou.

Desafios - O superintendente de Mineração e Metalurgia da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Luiz Antônio Fontes, apresentou dados sobre o setor, mostrando a posição de liderança de Minas Gerais em muitos segmentos, mas admitiu que o governo deve criar condições necessárias para o crescimento do setor. Segundo ele, é meta do governo estadual investir na produção de aço e avançar na transformação do bem mineral, que agrega mais valor ao produto. Citou, como exemplo, a bauxita, minério cuja produção bruta chegou a 6,3 milhões de toneladas, em 2006, mas que teve a produção transformada de apenas 923 mil toneladas. No ano passado, o Estado exportou 141,49 mil toneladas de minério de ferro, correspondente a 64,4% das vendas externas do País, e apenas 1.813 toneladas de pelotas, ou 3,6% das exportações brasileiras.

Pontos fortes - Já o consultor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Roberto Haddad, defendeu o setor sem apresentar sugestões. Ele comparou a exploração do níquel com o cultivo de soja, afirmando que o valor da produção do metal é muito maior: para cada hectare desmatado para extrair o mineral, são gerados US$ 26.514; contra US$ 563 pelo grão.

O ex-ministro da Fazenda mostrou um mapa pontuando cidades brasileiras onde há mineração e que, segundo ele, têm um Produto Interno Bruto (PIB) per capita superior ao dobro da média do País e ao triplo do PIB de Minas Gerais. Como contraponto, mostrou cidades com PIB per capita inferior a 30% da média do País, onde não há a atividade econômica. Ressaltou também que as regiões que mais crescem atualmente e que devem continuar nos próximos dez anos são as cidades com mineração do Sudeste de Minas, do Pará e o Quadrilátero Ferrífero.

Divergência - O presidente licenciado da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e prefeito de Itabirito, Waldir Silva Salvador de Oliveira, reivindicou um realinhamento do pagamento da Cfem para equilibrar os ganhos com a mineração. Ele fez questão de dizer que os municípios não são contra a mineração, mas precisam de mais recursos para assegurar a sobrevivência após a exaustão dos recursos.

Waldir de Oliveira repetiu que a compensação paga no Brasil pela exploração do minério de ferro, de 2% sobre o valor líquido das empresas, é muito inferior ao que se paga na Austrália, o principal concorrente do país no mercado mundial e onde a alíquota varia de 5% a 7,5% sobre o valor bruto. Reclamou que há muita sonegação no recolhimento da contribuição e que os municípios foram prejudicados pela Lei Kandir, de 1996, que isentou de ICMS o minério destinado à exportação. No Estado, cerca de 80% da produção é vendida para o mercado externo.

Manifestação - Durante a palestra do ex-ministro Paulo Haddad os manifestantes ocuparam as galerias do Plenário e começaram a gritar palavras de protestos. Depois de quase meia hora de muito barulho, eles desceram e um deles, Franco Santana, ocupou a tribuna para apresentar as principais reclamações.

Santana disse que as regiões mineradoras convivem com muitos problemas sociais, como alcoolismo e prostituição infantil, em função da exploração da mão-de-obra. Defendeu elevação do pagamentos dos royalties e uma distribuição mais justa da riqueza entre trabalhadores das zonas urbana e rural. Também se manifestou, entre outras questões, contra o preço da energia elétrica e a privatização da Vale.

Presenças - Compuseram a mesa, o deputado Sávio Souza Cruz, os palestrantes acima citados e o presidente do Ibram, Paulo Camillo Vargas Penna.

 

 

 

 

 

 

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