Minas de Minas aponta o desafio de uma política minerária sustentável

Buscar um caminho em que todos os envolvidos no setor da mineração do Estado sejam beneficiados, por meio de uma polí...

10/06/2008 - 00:02
 

Minas de Minas aponta o desafio de uma política minerária sustentável

Buscar um caminho em que todos os envolvidos no setor da mineração do Estado sejam beneficiados, por meio de uma política minerária sustentável, foi a principal afirmação do presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), em seu discurso que abriu a etapa final do Seminário Legislativo Minas de Minas. A solenidade de abertura, que aconteceu na noite desta segunda-feira (9/6/08), reuniu representantes do poder público estadual e federal e de diversas instituições do segmento de extração e produção mineral.

O presidente da ALMG lembrou que o seminário, que debateu o tema em 11 cidades do interior de Minas, apontou o desafio de tornar harmonioso o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental. Sua maior expectativa com o Minas de Minas é de que, com a experiência, a qualidade e a representatividade dos envolvidos no debate, será possível encontrar um caminho em que todos os setores da sociedade civil sejam beneficiados.

Segundo ele, ao final das etapas regionais, em que foram ouvidos representantes de 100 municípios e 251 instituições, foram reunidas 364 propostas que serão votadas na plenária final e irão compor o documento final de proposições para a construção de uma nova política minerária para Minas Gerais. "Tenho a convicção de que sairemos com valorosas contribuições trazidas pelos representantes dos setores público, acadêmico e da sociedade em geral para a formulação de uma política sustentável para o Estado e com sugestões que promovam um debate mais aprofundado para o setor em âmbito nacional", afirmou.

Finalmente, o presidente salientou a importância da união de esforços entre os Estados de Minas Gerais e Pará, que, juntos, são responsáveis por mais de 60% da produção mineral do País. De acordo com ele, o alinhamento no discurso de ambas as unidades da federação irá fazer o setor ainda mais forte, com o aumento nas pesquisas e investimentos que tragam desenvolvimento econômico com proteção ambiental.

O vice-governador do Pará, Odair Santos Correa, fez coro às palavras do presidente da ALMG, ao afirmar que acredita no equilíbrio econômico com sustentabilidade ambiental, desde que sejam criados projetos governamentais que atendam às necessidades do setor. Ele apresentou dados sobre a importância da mineração no Pará e no Brasil, e números sobre a influência amazônica no meio ambiente brasileiro e mundial. Para ele, o seminário será um importante passo para o desenvolvimento do segmento. "Minha expectativa é de que o debate traga propostas para um modelo de gestão mineral nos Estados próximo do ideal e, mais que isso, que se provoque uma discussão nacional, que adeqüe especialmente a política tributária, que hoje prejudica Estados e municípios", disse.

Cfem - O presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, deputado federal Luiz Fernando Faria, destacou, em sua participação, o Projeto de Lei 1.453/07, de autoria do deputado Zé Fernando Aparecido, que regulamenta a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) e cria participação especial para o setor mineral. A proposição, que tramita no Congresso Nacional, vem sendo, de acordo com ele, amadurecida e debatida pelos parlamentares divididos em grupos de trabalho. "Nossa intenção é construir um texto que traga benefícios para todos. O desafio é atingir o desenvolvimento com sustentabilidade", completou.

Presenças - Também compuseram a mesa os deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais; e Vanderlei Miranda (PMDB), presidente da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da ALMG; o secretário Estado de Governo, Danilo de Castro; o representante do Ministério de Minas e Energia, Cláudio Sciliar; o deputado estadual paraense Gabriel Guerreiro; o deputado federal José Fernando Aparecido Oliveira; o presidente do Tribunal de Justiça (TJMG), desembargador Orlando Adão Carvalho; o deputado estadual fluminense Glauco Lopes; o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Robson Andrade; o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Minas Gerais, José Maria Soares; o presidente do Sindicato da Indústria Extrativa Mineral, José Fernando Coura; o prefeito de Itabirito, Valdir Silva Salvador de Oliveira; o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, Paulo Camilo Vargas Pena; e o representante do Fórum Mineiro de ONGs, Eduardo Machado.

Geodiversidade, expansão da mineração e achatamento salarial dominaram debates

Os aspectos essenciais das políticas minerárias, dos interesses empresariais na extração de riquezas e das questões econômicas e trabalhistas envolvidas na mineração foram tratados em três palestras proferidas após solenidade de abertura do Seminário Legislativo Minas de Minas, na noite de segunda-feira (9/6/08). Apenas as questões ambientais e tributárias não foram tratadas em profundidade pelos palestrantes.

Cláudio Scliar, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério das Minas e Energia, tratou do mapeamento das jazidas minerais no Brasil, que foi objeto de um levantamento aerogeofísico custeado pelo Governo. Segundo ele, a estrutura do Ministério foi aperfeiçoada nos últimos tempos, para responder à necessidade da presença do Estado no setor mineral.

"Consideramos que a Geologia faz parte da infra-estrutura, como as estradas e os aeroportos, e nosso levantamento possibilitará um ordenamento territorial que permitirá, inclusive, o posicionamento de aterros sanitários", disse ele. O plano elaborado tem um horizonte de 20 anos, e contempla as grandes diferenças entre os tipos de mineração - aquelas que movimentam milhões de toneladas a baixo preço, como o minério de ferro, e aquelas em que gramas do produto são valiosos, como os diamantes.

Scliar disse que os bens minerais resultam de fenômenos que levam milhões ou bilhões de anos para se realizarem e têm rigidez locacional. "Não existem duas minas iguais, porque em cada uma se depara com rochas distintas e camadas geológicas diferentes, exigindo uma tecnologia própria para a exploração. Apenas os investimentos adequados podem permitir a exploração, e essa traz, como conseqüência, a exaustão".

O secretário de Geologia também opinou sobre os conceitos de bem renovável, usando o conceito de sustentabilidade. Ao analisar a história da mineração, Scliar disse que os espanhóis levaram vantagens sobre os portugueses, porque já possuíam técnicas de exploração mineral, e tiveram contatos com indígenas que conheciam a localização das jazidas e já praticavam a mineração, ao contrário dos índios brasileiros.

A respeito da política mineral na História, ele lamentou que desde a Colônia essa política tenha sido voltada para o comércio internacional, e chegou aos nossos tempos com a política mineral desligada da política industrial que traz agregação de valor. No entanto, admitiu que a exportação de minerais permite que o Brasil tenha superávit na balança do comércio exterior. Ele exibiu um quadro que mostra sucessivos índices favoráveis ao Brasil na balança comercial, e outro que mostra o desempenho semelhante da demanda de cobre, alumínio e aço bruto a partir de 1950.

Áreas de mineração ocupam apenas 0,5% do território mineiro

O presidente do Sindiextra, que é o sindicato das empresas de mineração, José Fernando Coura, trouxe dados inéditos em defesa da atividade em Minas Gerais e usou o conceito de "geodiversidade" para qualificar o Estado, que responde por 44% da produção mineral brasileira. Segundo ele, apesar do "boom" da mineração, as áreas de exploração mineral, suas plantas de beneficiamento e as represas de rejeitos cobrem apenas 0,5% do território mineiro, e mesmo as lavras exauridas cumprem finalidades nobres.

"Poucos sabem que o Parque das Mangabeiras era uma área de exploração da Ferrobel, e que o campus da Universidade Federal de Ouro Preto foi instalado numa área minerada", disse o dirigente. "A mineração no Estado permite que Minas tenha o mais completo ciclo industrial do País, que vai desde a exploração do ferro, do zinco e do manganês até a montagem de um automóvel pronto", acrescentou.

Em seguida, Coura informou que os ciclos do pau-brasil, da cana e do café nada deixaram para o País, mas o ciclo do ouro e dos diamantes deixou 75% do patrimônio histórico, unificou o território brasileiro e permitiu que Minas Gerais saltasse de 30 mil habitantes em 1700 para 433 mil em 1808. Outros dados citados por José Fernando Coura foram de que a produção mineira de aço, em 2007, foi de 11,2 milhões de toneladas, e que a de ouro ainda é muito expressiva: 19,1 toneladas por ano.

Coura tocou também na questão ambiental, ao reconhecer que o desenvolvimento sustentável deve contemplar a recuperação das áreas exploradas, e pediu uma reforma tributária que desconcentre os tributos, a criação de uma Agência Nacional de Mineração nos moldes das que gerem outras atividades, e a criação de uma Comissão Permanente de Minas e Metalurgia na Assembléia Legislativa.

Salários são o insumo mais barato da siderurgia

O sindicalista João Paulo Pires de Vasconcelos tratou dos aspectos sociais e trabalhistas da mineração e da siderurgia, a partir de sua experiência de 33 anos como metalúrgico da Belgo Mineira e como deputado federal pelo PT, com apoio em estudos do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Hoje, Vasconcelos é assessor da Federação dos Trabalhadores na Indústria de Extração Mineral (Ftiemg).

Ele criticou a concentração de renda do País, inferior apenas à de Serra Leoa, na África.. Disse que, naquele ano, o Brasil crescia e o salário mínimo corresponderia hoje a R$ 1.920. "O Produto Interno Bruto era de US$ 80 bilhões e os salários correspondiam a 62% do PIB, uma relação semelhante à dos Estados Unidos. A partir de então, houve uma queda constante nessa relação. Em 1985, o PIB já era de US$ 375 bilhões, mas os salários correspondiam a apenas 38%. De 1996 a 2006 os salários caíram 10% e esse percentual foi transferido para os ganhos de capital. Hoje, a proporção dos salários no PIB não passa de 23%", informou.

O palestrante abordou a questão do lucro das grandes mineradoras e das siderúrgicas, e o achatamento dos salários. Disse que o lucro do Grupo Arcelor Mittal, em 2006, foi de R$ 4,8 bilhões, e que o custo trabalhista foi de apenas 1,4% do faturamento. "A folha de pagamento é o insumo mais barato da produção do aço", afirmou. A Cenibra, por sua vez, gastou 8,9% do seu faturamento para pagar seus 10 mil trabalhadores. A Liquigás faturou R$ 2,9 bilhões e gastou apenas 0,9% em salários, encargos e férias. A Cia Brasileira de Alumínio, do Grupo Votorantim, faturou R$ 3,5 bilhões e gastou apenas 0,38% em salários e benefícios. O Grupo Gerdau faturou no Brasil R$ 4,2 bilhões, e gastou apenas 1,4% com seus trabalhadores.

 

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