Revisão da política mineral é desafio apontado em
audiência
Mais do que dobrar os percentuais da Compensação
Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), conforme
prevê o Projeto de Lei 1.453/07, do deputado federal José Fernando
Aparecido de Oliveira (PV-MG), é necessária a reestruturação do
órgão encarregado do setor minerário, o Departamento Nacional de
Produção Mineral. Além disso, não fazer desse aumento motivo para
perda de competitividade do produto brasileiro. Os três eixos foram
abordados na reunião da Comissão de Defesa do Consumidor e do
Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta
sexta-feira (6/6/08).
A reunião foi solicitada pelos deputados Délio
Malheiros, presidente da comissão, e Hely Tarqüínio, ambos do PV,
com o objetivo de debater o Projeto de Lei Federal 1.453, que se
encontra na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. A
proposição modifica a Lei 7.990, de 1989, que instituiu a Cfem, e
dobra os percentuais fixados para essa contribuição pela Lei 8.001,
de 1990. Além disso, a cobrança passa a ser sobre o valor bruto, e
não líquido, como previsto na lei atual. Os percentuais atuais são
3% para minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio; 1% para
o ouro, quando extraído por empresas; 2% para ferro, fertilizante,
carvão e demais substâncias minerais; 0,2% para pedras preciosas,
pedras coradas lapidáveis e metais nobres.
O projeto propõe ainda a criação de uma
participação especial na exploração mineral, que seria cobrada
quando da exploração de jazidas de grande volume de produção ou de
grande rentabilidade, a exemplo do que ocorre com o petróleo. O
autor argumenta que no Brasil, em 2006, a produção de petróleo e gás
natural gerou participações governamentais, referentes a
royalties e participação especial, de R$ 16,543 bilhões. Ele
compara essa situação com a do setor mineral, onde não existe
participação especial nem royalties, resultando no
recolhimento, em 2006, de R$ 466 milhões referentes à Cfem.
As mudanças propostas, segundo o deputado, vão mais
além do que aumentar alíquotas da Cfem. "É preciso uma
reestruturação completa no setor mineral, para mudanças na concessão
de jazidas minerais descobertas, que a União repassa ao primeiro que
registrar no DNPM. Não é assim para o petróleo, para o setor
energético e para as reservas de gás, casos em que é feito um leilão
público internacional. No setor mineral, muitas vezes quem descobre
as jazidas acaba vendendo para as mineradoras, fazendo um leilão
interno", apontou. O deputado defendeu ainda a criação de uma
agência reguladora e de um conselho nacional eficientes para a área.
DNPM está sucateado
Mesmo concordando com a proposta de aumento da Cfem
ou da agência reguladora, o superintendente do DNPM em Minas, Sérgio
Dâmaso, alertou que antes é preciso recuperar o órgão, que segundo
ele está totalmente desestruturado em Minas, com poucos funcionários
e sem condições materiais. Para ele, o número de processos que
entram mensalmente no DNPM, como os 623 protocolados só em maio,
indica o crescimento do setor, "que não está sendo acompanhado pelo
órgão responsável". Segundo Dâmaso, com apenas 30 funcionários, o
DNPM tem hoje 366 portarias de concessão de lavra paradas. Como
exemplo do descompasso entre o crescimento da atividade minerária no
Estado, com os já anunciados investimentos de U$ 17 bilhões até 2010
e a infra-estutrura do DNPM, Sérgio Dâmaso informou que existem
7.087 requerimentos de pesquisa parados. Ele pediu que a Assembléia
encabece uma força-tarefa para reaparelhamento do DNPM, objetivando
atender a demanda.
Carga tributária alta - Como contraponto à
proposta de mudanças na Cfem, o diretor jurídico do Sindicato das
Indústrias de Extração Mineral (Sindiextra), Fábio Henrique
Figueiredo, enfatizou que o aumento de alíquota irá tirar
competitividade dos minérios brasileiros, na medida em que as
alterações terão de ser repassadas ao preço final. Ele contestou as
comparações com os royalties do petróleo, informando que
estes respondem por quase 50% da carga fiscal, enquanto na mineração
raramente excedem 5%, ou seja, o petróleo paga muito royalty, mas a carga
tributária é menor, ao contrário do que acontece com a mineração.
Fábio Figueiredo citou ainda que o petróleo tem menor impacto
ambiental, portanto menor custo de recuperação; e tecnologias mais
padronizadas, enquanto na mineração a tecnologia é praticamente
exclusiva a cada empreendimento.
Meio ambiente também é lembrado
O deputado Délio Malheiros lembrou que Minas Gerais
responde por 71% da produção do minério de ferro do Brasil e que a
revisão da Cfem, proposta pelo projeto federal, será uma medida
justa para o Estado compensar sua arrecadação. Mas destacou a
preocupação com o meio ambiente, motivo de algumas de suas mais
recentes iniciativas, como a defesa das Serras da Moeda e da Serra
da Calçada e do Pico do Itabirito. "Precisamos minerar, mas
precisamos preservar alguns pontos".
O deputado Antônio Júlio foi mais enfático,
lembrando tentativas de investigação de problemas ambientais que não
tiveram sucesso, segundo ele, devido ao lobby das empresas.
Ele denunciou a exploração de granito no Vale do Jequitinhonha,
"sem qualquer critério ou controle, o que deixa Minas sem nada".
Destacando o lado histórico da mineração, o deputado Carlin Moura
(PCdoB) lembrou que 85% da produção mineral do Estado é exportada
sem a devida tributação. Ele disse que 3% do PIB de Minas vem da
extração mineral e, segundo ele, a riqueza está sendo jogada fora.
"Precisamos fazer a nova inconfidência mineira".
Já o presidente da Frente Parlamentar em Defesa da
Mineração e 1º vice-presidente da Assembléia, deputado Doutor Viana
(DEM), defendeu uma política minerária responsável no Estado. "Não
basta só aumentar alíquotas, é preciso dotar o DNPM de estrutura
para acompanhar o crescimento do setor". Para ele, esta política irá
surgir ao final do Seminário Legislativo Minas de Minas, que
a ALMG realiza de 9 a 12 de junho, depois de 11 etapas no
interior.
Na fase de debates falou o vereador de Ouro Preto,
Paulo Andrade. Ele disse que a mineração é importante para a região,
mas também gerou problemas. Segundo ele, há favelas onde moram
pessoas de fora que foram atraídas pela mineração e estão
desempregadas. Antes, como integrante da mesa, falou também o
ex-deputado federal Leonardo Mattos, hoje vice-presidente do PV em
Minas. Ele destacou a luta do partido pela compatibilização entre
produção e meio ambiente, na busca pela sustentabilidade.
Presenças - Deputados
Délio Malheiros (PV), presidente; Antônio Júlio (PMDB), Doutor Viana
(DEM) e Carlin Moura (PCdoB).
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