Mudanças na Copasa e criação da Copanor dividem opiniões

A necessidade de adaptação de alguns dispositivos do Projeto de Lei (PL) 2.164/08 ao marco regulatório federal do san...

04/06/2008 - 00:01
 

Mudanças na Copasa e criação da Copanor dividem opiniões

A necessidade de adaptação de alguns dispositivos do Projeto de Lei (PL) 2.164/08 ao marco regulatório federal do saneamento ambiental (Lei Federal 11.445) foi defendida pela deputada Elisa Costa (PT), durante audiência pública da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira (4/6/08). A deputada é autora do requerimento para a realização do debate sobre o projeto do governador, que altera a Lei 13.663, de 2000, que dispõe sobre a Copasa. Vários servidores da Copasa e representantes do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto de Minas Gerais (Sindágua-MG) acompanharam a reunião.

Entre os pontos questionados pela deputada estão a inclusão do lixo industrial como atividade de saneamento básico, a ausência de previsão de criação de um plano de saneamento estadual, da agência reguladora e do conselho estadual de saneamento, e a abertura da possibilidade de terceirização de funcionários. Além disso, a deputada afirmou que a relação dos municípios com a Copasa só pode ser feita por meio de contratos e não por convênio, como está previsto no projeto. "O projeto deve incluir adaptações à lei federal", defendeu.

O deputado Fábio Avelar (PSC), autor do projeto que deu origem à Lei 13.663, que estendia o objetivo social da Copasa, também concorda com a necessidade de que sejam feitas adaptações à lei federal. Ele também se manifestou inicialmente contrário à inclusão da possibilidade de terceirização da empresa. No entanto, após explicações do diretor financeiro da Copasa, Ricardo Simões, ele disse ter ficado mais tranqüilo e sugeriu a apresentação de uma emenda ao projeto tornando mais claros os objetivos da terceirização.

Diretor da Copasa explica abertura para terceirizações

Ricardo Simões afirmou que hoje qualquer empresa pública executa suas obras por meio de empresas contratadas após licitação. Segundo ele, o Ministério Público moveu ação judicial contra a Copasa alegando que, de acordo com a lei que criou a companhia, todas as obras da empresa deveriam ser executadas por pessoal próprio. A partir disso, de acordo com o diretor da Copasa, veio a necessidade de modificar a legislação. "É preciso dar ao projeto de lei a dimensão que ele tem", afirmou. "O que se pretende com ele é dar condições para que a empresa continue crescendo e se adaptando às novas realidades", continuou.

O presidente do Sindágua, José Maria dos Santos, disse que o sindicato considera o projeto inconstitucional porque abre a possibilidade de terceirização de atividades-fim, como a manutenção de água e esgoto. "A Copasa está na contramão da história", afirmou, acrescentando que as terceirizações precarizam as relações de trabalho e aumentam o risco de acidentes. O secretário de organização da CUT-MG, José Geraldo do Nascimento, disse que a Copasa tem hoje mais mão-de-obra terceirizada do que própria, e argumentou que a terceirização tem sido mais cara para a empresa.

Controle social - A criação do conselho de saneamento para dar maior controle social à política de saneamento do Estado foi defendida pela coordenadora da Frente Estadual de Saneamento Ambiental (Fesa), Cláudia Júlio Ribeiro, que acredita que o problema no saneamento está na política para o setor. "O conselho deveria inclusive conhecer as contas e processos da Copasa", afirmou. Ela também discorda da inclusão do lixo industrial como saneamento básico por considerar uma atividade onerosa, e ainda acrescentou que a privatização é muito danosa. A engenheira sanitarista apresentou dados do Pnud que mostram que os países da África que tiveram os serviços de saneamento básico privatizados sofrem hoje com a baixa qualidade dos serviços e altas tarifas.

O diretor financeiro da Copasa, Ricardo Simões, afirmou que o pensamento da direção da empresa, inclusive dos acionistas majoritários, é de que o saneamento básico é um serviço público e deve ser mantido assim. "O controle da empresa sempre será estatal", garantiu o diretor. Ele também disse que não tem nenhuma restrição à criação do conselho estadual de saneamento. Quanto ao lixo industrial, Ricardo Simões defendeu que o projeto seria a autorização legislativa que abriria a possibilidade de diversificação da atividade se houver oportunidade.

Águas minerais - O deputado Jayro Lessa (DEM) questionou Ricardo Simões sobre o envasamento de água mineral no Sul de Minas, querendo saber se é um negócio rentável para a Copasa. "É um negócio pequeno, mas um bom negócio", garantiu o diretor financeiro da empresa, que disse que o investimento na atividade deve chegar a, no máximo, R$ 30 milhões. O deputado não ficou convencido do sucesso do empreendimento e disse que a atividade não é papel da empresa. Para o envasamento da água mineral foi criada a subsidiária Águas Minerais de Minas.

Comissão discute atuação da Copanor

A Copanor, subsidiária da Copasa criada no ano passado para atender as regiões mais carentes do Estado - Norte de Minas e Vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, também foi tema da reunião. O deputado Gustavo Valadares (DEM) quis saber a opinião do presidente da Copanor, Márcio Kangussu, sobre o PL 2.058/08, de sua autoria, que amplia a área de atuação da companhia para mais 60 municípios. Kangussu disse que o projeto é pertinente, mas não há recursos suficientes para atender a mais essa região. "A Copasa nos dá a estrutura, mas não os recursos", explicou.

Segundo Kangussu, a Copanor já assumiu localidades de Diamantina e Araçuaí, e tem previsão de investimento de R$ 545 milhões até 2010 para universalização do serviço de água e esgoto na região. Na primeira fase a empresa vai atuar em 463 localidades de 92 municípios. O deputado Getúlio Neiva (PMDB) falou da necessidade de um dispositivo que modifique a legislação para que as obrigações ambientais não atrapalhem o atendimento à população. "Tirar os esgotos que correm a céu aberto é mais importante que qualquer questão ambiental", afirmou. O deputado também defendeu que a Copanor trabalhe com funcionários cedidos das prefeituras e da Copasa para manter uma estrutura enxuta e os custos baixos para a população.

José Maria dos Santos, do Sindágua, protestou dizendo que o trabalho de saneamento não pode ser feito com amadorismo. O superintendente da Copasa, Paulo Fernando Rodrigues Lopes, disse que a intenção é que a Copanor preste o serviço mais barato e com a mesma qualidade. "Todo o serviço prestado pela Copanor obedece aos padrões de qualidade da Copasa, porque a Copanor é da Copasa". Questionado pelo deputado Carlin Moura (PCdoB), Paulo Lopes informou que o valor cobrado é a tarifa mínima, de R$ 5,40 onde existe tratamento do esgoto e R$ 5,10 para fossa séptica. "A tarifa cobrada é até 80% menor que a cobrada pela Copasa", conclui.

O deputado Antônio Júlio (PMDB) manifestou sua preocupação com a manutenção das tarifas mínimas pela Copanor. "Como a companhia vai sobreviver?", questionou. "O Estado é que tem que a obrigação de alocar recursos que garantam a compensação dos prejuízos causados pelas baixas tarifas", respondeu o deputado Lafayette de Andrada (PSDB). Para ele, a criação da Copanor foi uma decisão acertada. "O que não poderia é esse déficit comprometer a saúde financeira da Copasa", defendeu. A deputada Elisa Costa tem opinião diferente. Segundo ela, o entendimento do PT é de que a Copasa poderia atender toda a população de Minas Gerais sem a necessidade de criação da Copanor.

Presenças - Deputados Jayro Lessa (DEM), vice-presidente; Agostinho Patrús Filho (PV), Antônio Júlio (PMDB), Lafayette de Andrada (PSDB), Sebastião Helvécio (PDT), Gustavo Valadares (DEM), Getúlio Neiva (PMDB), Fábio Avelar (PSC), Padre João (PT), Carlin Moura (PCdoB) e deputada Elisa Costa (PT). Também participaram da reunião o diretor de Meio Ambiente e Novos Negócios da Copanor, Carlos Gonçalves de Oliveira Sobrinho; e o o assessor jurídico da Copanor, José Veloso Machado.

 

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