Agricultura familiar quer isenção de ICMS

Deputados e representantes de pequenos produtores rurais ligados ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf...

03/06/2008 - 00:01
 

Agricultura familiar quer isenção de ICMS

Deputados e representantes de pequenos produtores rurais ligados ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) pediram ao governador Aécio Neves que conceda isenção total de ICMS para os produtos incluídos na compra direta da Conab pelo Programa de Aquisição de Alimentos. Requerimento nesse sentido foi aprovado em audiência pública da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizada na tarde desta terça-feira (3/6/08).

A proposta do governo, trazida à audiência pelo diretor da Secretaria da Fazenda, Antônio Jacinto Lemos, é de redução das alíquotas de 12% e 18% para apenas 3%, para os produtores que se organizarem e associações e cooperativas. Segundo ele, a Secretaria produziu uma minuta de decreto concedendo esse benefício. Enquanto não for publicado, é possível revê-lo juntamente com uma comissão formada por deputados da Comissão, representantes da Conab, Emater, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Consea e da Federação dos Trabalhadores em Agricultura Familiar.

O deputado Antônio Júlio (PMDB) prontificou-se a integrar a comissão, desde que seja feita não só a análise do benefício, mas também a das conseqüências do decreto. Segundo ele, um decreto desse tipo, publicado no governo Itamar Franco, quase levou à falência o setor de avicultura do Estado, que se viu obrigado a pagar a alíquota cheia de 18%. Antônio Júlio protestou que o frango de granja tem isenção de ICMS, mas o frango caipira paga 18%. Seu colega de partido Getúlio Neiva ironizou a situação, propondo que o frango caipira seja emancipado como frango urbano, para livrar-se do imposto.

Deputado vê discriminação dos pequenos na política de isenções

O deputado Padre João (PT), que presidiu a reunião e foi o autor do requerimento, fez um amplo retrospecto das isenções concedidas pelo Governo do Estado para produtos como equipamentos de hidrelétricas, escritórios, álcool combustível e alimentos industrializados, e considerou que "algumas foram justas, outras nem tanto". Explicou que o Programa de Aquisição de Alimentos em compra direta do agricultor familiar tem o limite de R$ 3,5 mil por unidade.

"Pagando 18% de ICMS, só aí o agricultor já perde cerca de R$ 600,00", reclamou. O deputado considera absurdo tributar açúcar mascavo, alho, broa de fubá, canjica, doce de banana, goiabada, rapadura e queijo minas, entre outros produtos da agricultura familiar que abastecem 60% das mesas dos brasileiros.

A líder do PT, deputada Elisa Costa, considera que o Programa de Aquisição de Alimentos está entre os de maior alcance social do governo Lula. "A compra direta contribui para resolver o gargalo da comercialização. Além disso, os produtos vão para a merenda escolar, creches, asilos e restaurantes populares". Ela vê também o benefício de aumentar a participação social e política do homem do campo.

Dos deputados da base governista, Antônio Carlos Arantes (PSC) foi o que endereçou os maiores elogios ao Programa de Aquisição de Alimentos, embora ainda não esteja bem implementado em sua região, o Sul de Minas. "Sou crítico dos programas paternalistas do governo, como o Bolsa Família, mas o Programa de Aquisição de Alimentos incentiva o pequeno a produzir e compra sua produção sem exigência de escala. Se não salvarmos o pequeno produtor agora, em breve não haverá ninguém para ser salvo", disse Arantes.

O deputado Chico Uejo (PSB) declarou suas origens rurais e disse que o setor da agricultura familiar necessita de uma agenda, e de levar propostas concretas ao governo. Para ele, a solução é solicitar um regime especial para vendas à Conab.

ICMS zero poderia fazer surgirem falsos produtores

O deputado Domingos Sávio (PSDB), por sua vez, alertou para o risco da isenção total para o produtor, que resultaria em dois efeitos indesejáveis: um seria o pagamento do ICMS cheio por parte do comerciante, já que não geraria crédito presumido, e outro seria o surgimento de falsos produtores rurais só para aproveitar o benefício. O deputado disse que o controle teria que ser muito bem feito para não desmoralizar o programa.

O representante da Conab, Luiz Marques Dumont, esclareceu que é a Emater quem certifica a aptidão dos produtores da agricultura familiar para o crédito do Pronaf, que este ano será de R$ 13 bilhões. Por outro lado, o Programa de Aquisição de Alimentos tem uma demanda de R$ 70 milhões para as compras diretas de 17 mil pequenos produtores este ano. "Nosso objetivo é chegar ao modelo europeu, onde o produtor, ao buscar crédito bancário para o plantio, já tem assegurada a venda da produção", disse Dumont.

Celso Afonso de Morais, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Santa Bárbara, disse que a agricultura está em decadência na sua região, de onde saíam muitos vagões de farinha de mandioca. "Agora é só eucalipto para carvão, mas os apicultores podem trabalhar com o famoso mel Santa Bárbara", disse ele. No entanto, o mel, que é entregue por R$ 2,00 o quilo, acaba comercializado por R$ 12,00. Na compra direta do Programa de Aquisição de Alimentos, o produtor consegue mais de R$ 5,00, informou Morais.

O deputado Padre João acrescentou que, com a entrada do mel na merenda escolar, melhorou sensivelmente o estado de saúde dos alunos que sempre sofriam gripes e tosses nesta época do ano. Padre João concedeu a palavra a dez representantes das comunidades rurais presentes na platéia. A maioria deles elogiou o Pronaf e o Programa de Aquisição de Alimentos. Alguns criticaram o que chamam de ditadura fiscal que vigora no País, outros reclamaram do preço dos insumos agrícolas, que dobrou em um ano. Outro lembrou que o produto entregue ao programa paga 5,85% de tributos federais, e que a tabela de aquisição está defasada desde o ano passado.

Presenças: Deputados Padre João (PT), que presidiu a reunião; Antônio Carlos Arantes (PSC), Chico Uejo (PSB) Getúlio Neiva (PMDB), Antônio Júlio (PMDB), Domingos Sávio (PSDB) e a deputada Elisa Costa (PT). Participaram ainda Eugênio Pacelli, da Emater-MG; Celi Márcio, do Consea; e a vereadora Fátima Azevedo, de São Brás do Suaçuí.

 

 

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