Etapa de interiorização do Minas de Minas colheu quase 400 sugestões

As inscrições para a etapa final do Seminário Legislativo Minas de Minas, promovido pela Assembléia Legislativa de Mi...

02/06/2008 - 00:06
 

Etapa de interiorização do Minas de Minas colheu quase 400 sugestões

As inscrições para a etapa final do Seminário Legislativo Minas de Minas, promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais com a apoio de diversas entidades, terminaram nesta segunda-feira (2/6/08) com cerca de 600 inscritos. A etapa final do evento acontece no Plenário entre os dias 9 e 12 de junho. O seminário tem como objetivo buscar, junto às entidades representativas da sociedade civil e dos setores público e privado, subsídios para a elaboração de uma política minerária estadual, que respeite as características naturais e socioculturais das diversas regiões do Estado, orientada para a sustentabilidade social, econômica e ambiental, e o aprimoramento da política minerária nacional.

No encerramento do seminário serão colocadas em votação as 364 propostas apresentadas nos 11 encontros regionais realizados no período de 23 de abril a 29 de maio. Os encontros regionais foram realizados nas cidades de Itabira, Poços de Caldas, Divinópolis, Itaúna, Sete Lagoas, Congonhas, Araxá, Paracatu, Muriaé, Teófilo Otoni e Governador Valadares.

Entre as principais propostas apresentadas pelos participantes da etapa de interiorização do seminário voltadas para produção mineral, questões ambientais e trabalhistas está, por exemplo, o encaminhamento de sugestões ao Congresso Nacional para a revisão das normas relativas à Contribuição Financeira sobre a Exploração Mineral (Cfem), uma espécie de royalty pago aos municípios com mineração. A proposta inclui sugestões como a elevação das alíquotas; adoção do faturamento bruto da mineradora como base de cálculo da Cfem e a diferenciação de alíquotas da contribuição incidentes sobre minérios in natura, em tabela progressiva, como forma de estimular a agregação de valor em território nacional.

A Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig) defende a elevação do índice que hoje é de 2% do faturamento líquido para 4% do faturamento bruto. Em relação a esse tema, foram apresentadas ainda a proposta de estimular os governos municipais a adotarem legislação para disciplinar a aplicação dos recursos oriundos da Cfem, preferencialmente de forma participativa, e conferir transparência à destinação dada a esses recursos. Também foram sugeridas a inclusão de normas para a aplicação e controle dos recursos da Cfem em futura política minerária estadual e a criação do fundo de exaustão mineral, previsto na Constituição Estadual, vinculando recursos de diversas fontes relacionadas à atividade minerária.

Outras sugestões colhidas nos encontros foram a celebração de convênio entre os órgãos ambientais do Estado e o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para a liberação conjunta de alvarás de pesquisa e de concessão de lavra, a ampliação do número de vagas em cursos técnicos de mineração e a implantação de novos cursos de geologia e engenharia de minas, com estímulo do Estado e parcerias com empresas mineradoras.

Condições de trabalho melhores - Os participantes dos encontros no interior também apresentaram recomendações ao Governo Federal. Entre elas está a de instalação de centros de referência em saúde do trabalhador em municípios mineradores ou sedes de indústrias de transformação mineral, com o objetivo de viabilizar a avaliação periódica de saúde dos empregados do setor minerário; e a obrigatoriedade de as empresas de extração e transformação mineral informarem às entidades sindicais os resultados dos levantamentos ambientais realizados para identificar os agentes agressivos presentes no ambiente de trabalho. Também foi recomendada a descentralização do DNPM dentro dos Estados, além do fortalecimento desse órgão por meio do aumento do número de agentes públicos, adoção de remuneração adequada, melhoria da infra-estrutura de operação e aprimoramento do poder de polícia.

Aos Governos Federal e Estadual, foram feitas outras recomendações para que sejam disponibilizadas linhas de crédito oficial para investimentos em beneficiamento de bens minerais e capital de giro, em especial para setores como a fundição de ferro e a lapidação de pedras preciosas; e para o desenvolvimento de ações objetivas para a regularização ambiental e fiscal das atividades de extração de pedras preciosas, com o estabelecimento de amplo acordo entre o setor produtivo e os órgãos públicos responsáveis pela fiscalização e controle da atividade. Também há uma recomendação ao Governo do Estado de aprimoramento de mecanismos de publicização de auditorias ambientais realizadas em minas e instalações minerárias, em especial nas comunidades atingidas pela mineração.

Propostas demonstram preocupação com impacto ambiental

Outras propostas apresentadas no interior sugerem que a aplicação da compensação ambiental seja determinada por norma estadual, dando clara preferência à aplicação no município impactado; e o apoio à municipalização do licenciamento ambiental de atividades minerárias, por meio de gestões junto ao Governo Estadual, estimulando a parceria técnico-administrativa do Estado com os municípios para a implementação dos conselhos de meio ambiente (Codemas). Também foi sugerida a regulamentação de consórcios intermunicipais destinados à manutenção de equipes multidisciplinares necessárias às atividades de fiscalização e análise de processos de licenciamento ambiental.

O estímulo ao desenvolvimento tecnológico e pesquisas relativas à atividade minerária e de metalurgia, com o fim de caracterizar Minas Gerais como um pólo tecnológico para o setor, e a ampliação da divulgação das leis vigentes sobre mineração para a sociedade foram outras propostas dos participantes dos encontros regionais.

A reavaliação da política tributária estadual para setores de transformação mineral voltados para o mercado interno, a exemplo da fundição de ferro, para proteger a competitividade desses setores, confrontados com a alta de preços internacionais das commodities minerais e a estabilidade de preços internos; e a consolidação do zoneamento ecológico econômico como ferramenta democrática de informação para a sociedade civil e os empreendedores do setor mineral também estão entre as principais propostas recolhidas nos encontros regionais.

Encontros abordam peculiaridades regionais da mineração

As posições dos setores envolvidos no processo de produção mineral sobre os vários aspectos da cadeia produtiva da mineração são bastante variadas. Os administradores municipais, por exemplo, querem o aumento da alíquota da Cfem, enquanto as entidades de defesa do meio ambiente defendem que o empreendimento minerário não seja avaliado somente pelo número de empregos e volume de impostos gerados, mas da perspectiva dos impactos no local onde será implantado, considerando-se que a biodiversidade, água, patrimônios cultural, natural e científico são tão ou mais valiosos. Os sindicatos dos trabalhadores da mineração argumentam que o processo de terceirização da mão-de-obra tem reflexos negativos nas condições de trabalho, sobretudo nas salariais, de saúde e de segurança.

No entanto, além dessas questões que podem ser percebidas por todo o Estado, cada região mineradora tem suas peculiaridades. Em Itabira, maior município minerador do Brasil, onde a Vale mantém a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo, trabalhadores da indústria extrativista, ambientalistas e representantes das cidades mineradoras saíram em defesa de uma atividade sustentável pautada pela preservação do meio ambiente e do aumento do repasse da Cfem.

Em Poços de Caldas, pólo turístico e hidromineral e importante produtor de bauxita, alumínio, ferro, rochas ornamentais e fosfato, foi manifestada preocupação com a preservação das águas.

Legislação deve conciliar preservação ambiental e produção mineral

A adoção de uma legislação que, ao mesmo tempo, promova a preservação do meio ambiente e dê garantias às indústrias e empresas responsáveis por investimentos na área de exploração mineral foi defendida no encontro de Divinópolis, cidade que possui como principais produtos da mineração o ferro-gusa, as fundições e a extração de calcário e granito. No encontro foram ressaltadas a importância da valorização da área ambiental a ser explorada, a elaboração de um plano de fechamento das minas e a exigência de contratação de seguro para as barragens.

Em Itaúna, cidade que tem na indústria o carro-chefe de sua economia, com destaque para a siderurgia de aço e ferro-gusa, as principais reivindicações foram melhoria na infra-estrutura, com investimentos públicos na distribuição de energia elétrica e gás natural, inclusão do setor de fundição entre os beneficiários da cadeia produtiva automotiva, alterações na legislação ambiental e incentivo à formação de mão-de-obra especializada.

A preocupação com os acidentes de trabalho na mineração, com os resíduos sólidos gerados pela atividade e com a recuperação das áreas degradadas foi a tônica dos debates em Sete Lagoas, cidade onde estão instaladas 23 empresas siderúrgicas e produção de calcário (matéria-prima para cimento e cal), além de ferro-gusa, ardósia, mármore, argila e areia. Nesse encontro regional também foi destacada a necessidade de que os municípios mineradores sejam informados sobre a existência da Cfem, antes de tentar mudar a alíquota da contribuição.

Em Congonhas, que integra uma das mais importantes províncias minerais do mundo, o Quadrilátero Ferrífero, a principal queixa foi pelo aumento da Cfem. No encontro regional, o prefeito de Itabirito e presidente da Amig, Waldir Salvador, afirmou que a criação da Cfem na década de 80 foi importante para o País, mas enfatizou que a conta ficou desequilibrada com a adoção da Lei Kandir nos anos 90, que isentou de ICMS produtos e serviços destinados à exportação. Por outro lado, o representante da Vale presente à reunião afirmou que a empresa não é contra discutir o percentual da Cfem, mas defendeu que a análise seja feita considerando-se a carga tributária praticada no Brasil como um todo, que é de 23%.

A criação de uma legislação minerária que assegure a preservação da vida e da saúde dos mineradores e a revisão da alíquota da Cfem foram defendidas no encontro regional de Araxá. Dessa região parte 75% do nióbio brasileiro, explorado pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Além do nióbio, a região de Araxá produz fosfato, bauxita e areia.

Em Paracatu, segundo maior produtor de ouro de Minas Gerais, os participantes do encontro regional falaram da importância de se conciliar a atividade de mineração com o cuidado com o meio ambiente e a saúde da população. A preocupação geral é com os impactos que a atividade traz para a cidade. Segundo denúncias da Fundação Acangaú, a concentração de mercúrio na água da barragem de rejeitos da Rio Paracatu Mineração está 1.500 vezes acima do permitido pela legislação. Um brejo localizado abaixo da barragem já apresenta concentrações 500 vezes acima do valor máximo permitido.

Mineração x agricultura familiar - Os conflitos entre a mineração e a agricultura familiar foram a tônica da reunião de Muriáe. A região tem na bauxita, matéria-prima a partir da qual se produz o alumínio, sua principal riqueza mineral. O alto nível de clandestinidade da exploração minerária e a pouca agregação de valor, além dos impactos negativos da atividade garimpeira, foram denunciados no encontro realizado em Teófilo Otoni. A região tem na exploração de pedras preciosas e na extração de granito suas principais atividades minerárias. Durante o encontro, foram cobradas ações educativas do governo sobre as legislações ambiental e tributária para que os garimpeiros não sejam surpreendidos em sua atividade pela Polícia Ambiental e multados.

Em Governador Valadares a situação não é muito diferente. No encontro realizado na cidade, foram discutidos temas como a clandestinidade da exploração mineral e os problemas sociais causados pelo fechamento de lavras e garimpos pelas autoridades ambientais. A clandestinidade, segundo denúncias apresentadas na reunião, não se restringe às pedras preciosas, mas abrange cargas de feldspato que saem sem notas fiscais em caminhões com destino a fábricas de cristais e vidros no Estado de Santa Catarina.

 

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