Encontro em GV encerra etapa de interiorização do Minas de Minas

A clandestinidade da exploração mineral e os problemas sociais causados pelo fechamento de lavras e garimpos pelas au...

29/05/2008 - 00:00
 

Encontro em GV encerra etapa de interiorização do Minas de Minas

A clandestinidade da exploração mineral e os problemas sociais causados pelo fechamento de lavras e garimpos pelas autoridades ambientais foram os temas mais discutidos na última etapa de interiorização do Seminário Legislativo Minas de Minas, realizada nesta quinta-feira (29/5/08) em Governador Valadares. Quatro deputados e o prefeito anfitrião, Bonifácio Mourão, participaram do evento.

Segundo denunciou o ex-sargento da Polícia Ambiental Paulo César Figueiredo, hoje liderança ambientalista, a clandestinidade não se restringe às pedras preciosas, mas abrange cargas de feldspato que saem sem notas fiscais em caminhões com destino a fábricas de cristais e vidros no Estado de Santa Catarina.

Marcos Medrano de Almada, do Fórum Permanente para o Desenvolvimento de Governador Valadares, acrescentou que a rocha que contém o feldspato e as pedras preciosas, que é o pegmatito, tem exploração marginal e não contribui para o recolhimento da Compensação Financeira pela Extração de Recursos Minerais (Cfem).

Figueiredo revelou que já foi obrigado pela legislação a fechar inúmeras lavras em Resplendor, Itatiaia e Formiga, levando desemprego a inúmeros chefes de família. "Se a gente pudesse chegar explicando a lei e indicando o que fazer para atender as exigências, todos atenderiam, mas o Estado chega fechando e multando", narrou o ex-sargento.

Diamante de R$ 2 milhões levou seis meses para ser liberado

Raymundo Almeida Vianna, presidente do Sindijóias, informou que o segmento mineral como um todo movimentou R$ 1,35 bilhão em 2007, e que o setor de pedras preciosas não atingiu R$ 40 milhões. "Em diamantes, o Brasil exportou apenas R$ 4 milhões, sendo que uma única pedra de 260 quilates, encontrada no Triângulo, foi negociada por R$ 2 milhões, após seis meses aguardando as formalidades", relatou.

Para Vianna, o setor enfrenta "gargalos incríveis", enquanto a China facilita a vida zerando a tarifa de importação e proibindo a saída de pedras brutas do seu território. Ele defendeu medidas protecionistas também no Brasil e disse que o diferencial do País é a criatividade do design de jóias.

Rossini Oliveira, representante dos garimpeiros, contou a história dos garimpos de Conselheiro Pena e São José da Safira, iniciados em 1940, e informou que 360 pessoas eram "lavristas" em Governador Valadares, lapidando pedras em unidades informais nos quintais. "A mão do Estado é muito pesada. A autoridade deveria ter discernimento para atuar, e entender que tanto o garimpo de túnel como a cata causam danos ambientais", afirmou. Rossini protestou contra a privatização da Cia. Vale do Rio Doce (CVRD), por deter o patrimônio mineral mais rico do País.

Proteger o ambiente e o trabalhador sem gerar desemprego

Esses palestrantes fizeram parte da mesa de trabalhos presidida pela deputada Elisa Costa (PT), que atribuiu a escassa presença de garimpeiros na platéia à clandestinidade da atividade. Esse problema, segundo ela, deve ser solucionado em breve com a aprovação do Estatuto do Garimpeiro, que vem para legalizar essa atividade. Elisa defendeu a proposta de inibir a saída das pedras sem beneficiamento e a de zerar a alíquota de importação, para gerar trabalho no Brasil.

A deputada acredita que a vinda de uma universidade federal para a cidade poderá ajudar a agregar valor aos produtos e a disseminar educação ambiental. "Precisamos evitar o assoreamento dos córregos e rios, assegurar a proteção da cobertura vegetal e dar garantias sociais e trabalhistas ao garimpeiro, que, bem sabemos, tem a saúde precária. Mas não defendemos o desemprego", esclareceu.

Presenças - A mesa inicial dos trabalhos foi presidida pelo deputado José Henrique (PMDB), e teve a presença de Elisa Costa (PT), Jayro Lessa (DEM) e Carlin Moura (PCdoB). Além deles, participaram o prefeito de Governador Valadares, Bonifácio Mourão, e o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade, Alcyr Nascimento, que também é diretor da Fadivale, onde se realizou o seminário. Na platéia, havia delegações de São José da Safira e Divino das Laranjeiras, e representantes de Coronel Murta, Periquito, Açucena e Vespasiano.

O barroco, o barranco e o barraco

O deputado Carlin Moura (PCdoB) disse que o ouro de Minas enriqueceu as economias européias, especialmente a da Inglaterra, mas aqui também surgiu o espírito inconfidente, que seria essa capacidade de Minas se levantar e defender os interesses nacionais. Lembrou que em 1942 Getúlio Vargas convenceu os ingleses e o americano Percival Farqhar a fundar a CVRD. "A Vale foi vendida em 1997 por R$ 3,8 bilhões e deixou de destinar 8% de seu lucro líquido para os municípios. A empresa vale hoje US$ 150 bilhões e lucrou US$ 15 bilhões líquidos em 2007", criticou.

Comparando a injustiça da Cfem com os royalties do petróleo para o Estado do Rio de Janeiro, ele disse que Itabirito recebe R$ 200 mil anuais para lidar com as imensas crateras da mineração. "Enquanto isso, Rio das Ostras, que fica a 300 km da plataforma mais próxima da Petrobras, recebe R$ 11 milhões anuais", detalhou. "O ciclo do ouro deixou para o Brasil pelo menos o barroco. A mineração atual só deixa os barrancos e os barracos da miséria", concluiu.

Jayro Lessa (DEM) criticou o fechamento dos garimpos rudimentares de Divino das Laranjeiras, que deixou centenas de famílias sem sustento, e explicou que o lucro da Vale se deve ao aumento da tonelada de minério de 8 para 40 dólares. Lessa defendeu a Lei Kandir, criada no governo Fernando Henrique Cardoso para gerar empregos, mas admitiu que hoje a isenção para exportações não é mais necessária.

O prefeito Bonifácio Mourão convidou todos para o Brazil Gem Show, no próximo mês de junho, e defendeu a Vale do Rio Doce pelas obras que ajuda a realizar na cidade, como os novos acessos ao aeroporto, ao conjunto SIR e outros bairros, num valor de R$ 50 milhões.

O deputado José Henrique (PMDB), que presidiu a primeira parte do evento, disse que no século 18 havia uma lavra de ouro em sua região, chamada Cuieté Velho, que tinha até uma prisão e um degredo. O parlamentar chamou atenção para uma grande riqueza mineral, que é a água, e anunciou que o objetivo do seminário é coletar propostas para a elaboração de uma política mineraria nacional, contemplando os vários lados, como o dos garimpeiros, o dos lapidários, o dos exportadores e também resolvendo os problemas ambientais e sociais das lavras irregulares.

Propostas dos grupos de trabalho

O Grupo 1 apresentou nove propostas:

- licenciamento ambiental dos pequenos negócios para reduzir informalidade;

- melhoria do atendimento do DNPM e outros órgãos;

- criação de entidade de apoio técnico, em forma de cooperativa, para os pequenos empreendimentos;

- padronização das exigências burocráticas para licenciamento em um único documento, através de convênio do DNPM com os órgãos ambientais estaduais;

- convocar todos os setores para o debate da DN 074/2004;

- parceria com ONGs para atuar na área ambiental dos garimpos;

- fiscalização das pedras preciosas na própria região;

- agenda permanente para o setor de mineração, como fórum regional;

- reativação do beneficiamento do feldspato em Governador Valadares, atraindo novas empresas;

- instaurar política educativa menos repressiva nos garimpos.

Propostas do Grupo 2:

- formar comissão para levar minuta de projeto sobre pedras coradas ao Ministério das Minas e Energia, com a participação de deputados, Fiemg e Sindijóias;

- criar mecanismos para restringir a exportação de pedras sem beneficiamento;

- verificar processo das leis ambientais e órgãos estaduais (Feam, IEF e Igam);

- criação de arranjos produtivos locais para fomentar a transformação de gemas brutas;

- levar ao Confaz proposta de unificação em 3% das diversas alíquotas estaduais;

- incentivar cooperativas locais ou associações de garimpeiros para disseminar informações;

- simplificar o licenciamento para garimpos de pedras coradas.

Delegados eleitos para a etapa final em Belo Horizonte:

Edson Lopes Ferreira

Carlos Vasconcelos

Marco Antônio Rodrigues

Luiz Antônio Pacheco

Rossini Rodrigues

Neusa da Silva de Oliveira

Marcelo Alone Teixeira Hermógenes

RaymundoVianna

Wilfredo Rabelo

Ronaldo Barbosa

Luiz Gama

Seleme Hilel Neto

 

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