Ex-militares do Serpente Negra reivindicam reparação de danos
Representantes do Serpente Negra, movimento de
praças da Polícia Militar (PM) que, durante a ditadura, defendia
igualdade de tratamento para negros e brancos na corporação, fizeram
reivindicações à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais nesta segunda-feira (26/5/08). Vários
dos que participaram da reunião relataram injustiças que teriam sido
cometidas pela PM contra o grupo à época e que estariam vigorando
até hoje.
O secretário de coordenação do Comitê de
Solidariedade de Anistia aos Praças da Serpente Negra, Paulo Geraldo
Ferreira, foi um dos criadores do movimento, em 1976. Segundo
participantes do grupo, durante a ditadura militar um negro só
conseguia ser promovido, no máximo, a cabo na PM. Só os brancos
ascendiam a postos hierárquicos mais altos. "Defendíamos uma
ideologia de igualdade racial, mas fomos tratados como inimigos do
Estado", constatou Paulo Ferreira, ao relatar sua expulsão da PM em
l981, quando era cabo.
Paulo Ferreira reclamou ainda que a Diretoria de
Recursos Humanos da PM vem se negando, reiteradamente, a prestar
informações sobre os integrantes do Serpente Negra, que foram, em
sua maioria, expulsos sem qualquer justificativa pela corporação. A
recusa de entregar qualquer documento sobre esses membros, de acordo
com Ferreira, dificulta a atuação do grupo junto à Comissão de
Anistia do Governo Federal. Para que obtenham o ressarcimento dos
danos decorrentes da exclusão da polícia, é exigida toda uma
documentação que só a corporação possui.
Vários militares relataram que teriam sido
pressionados a pedir baixa da polícia, devido a seu envolvimento,
mesmo que indireto, com o grupo Serpente Negra. Os policiais
reformados tenentes Eurli Martins e Antonio de Lima e o cabo Altamir
Rodrigues reclamaram que a atitude arbitrária da corporação
prejudicou todos eles. Esse último resumiu a situação vivida por
ele, que refletia o problema sofrido pelo grupo: "pela perseguição
que passei a enfrentar, perdi várias promoções. Com isso, perdi
também a motivação e acabei pedindo a reforma".
Participantes de movimentos endossam reivindicações
do grupo
Jurandir Persichini Cunha, que foi um dos
sobreviventes do massacre de operários do dia 7 de outubro de 1963
em Ipatinga, testemunhou que conheceu, na época da ditadura, o líder
do Serpente Negra, Paulo Geraldo Ferreira, mais conhecido como
"Paulinho Guarani". "Nossa ligação com o Serpente Negra era mais no
sentido da identidade socialista que tínhamos. Eu e o Paulinho
Guarani fundamos na Capital o PDT", destacou Persichini.
O jornalista e assessor parlamentar da Câmara
Municipal de Belo Horizonte, Fernando Elias Freitas da Silva, também
se manifestou favoravelmente à luta do movimento. "Sou a favor dos
direitos civis, tão desrespeitados. E por isso sou a favor da causa
do Comitê da Serpente Negra que reivindica, por direito, a anistia
dos praças da PM", declarou.
Requerimentos - Como
providências, foram aprovados três requerimentos dos deputados
Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, e João Leite (PSDB), em
que solicitam: que seja enviado ao diretor de Recursos Humanos da PM
pedido de providência para que sejam liberados os documentos
solicitados pelos ex-integrantes da corporação, conforme notas
taquigráficas da reunião; que essas notas também sejam encaminhadas
à Comissão de Anistia do Estado e ao Ministério da Justiça, para
conhecimento e providências cabíveis.
Durval Ângelo sugeriu ainda aos integrantes do
comitê que reunissem todos os dados sobre os integrantes do Serpente
Negra, prejudicados pela polícia, como nome completo, período em que
estiveram na PM e motivo da exclusão, se houver. O parlamentar
também fez a sugestão de que eles buscassem informações junto ao
Arquivo Público Mineiro. O deputado João Leite informou que
participaria, nesta terça-feira (27), de reunião do Conselho
Estadual de Direitos Humanos e que apresentaria o caso dos PMs
prejudicados.
Foram também aprovados requerimentos referentes a
outras reuniões da comissão, dos seguintes deputados: Hely Tarquínio
(PV), em que solicita sejam realizadas reuniões conjuntas com a
Comissão de Saúde em Patos de Minas e Juiz de Fora, para debater
critérios usados pelos peritos do INSS para conceder auxílio-doença
e aposentadoria por invalidez, e discutir conceitos de incapacidade
temporária e permanente; seis requerimentos de Durval Ângelo, em que
solicita: o envio de notas taquigráficas da reunião do dia 20 de
maio à Organização Internacional do Trabalho, para conhecimento e
providências cabíveis; o envio à Secretaria de Estado de Defesa
Social, Ministério Público e Chefia de Polícia Civil, do relatório
da visita à cadeia pública de Conceição das Alagoas, no dia 5 de
maio; seja realizada visita à Presidência da Cemig, para discutir as
punições sofridas pelos trabalhadores que participaram de
assembléias e de paralisações durante as negociações do mais recente
acordo coletivo de trabalho; sejam encaminhadas para conhecimento as
notas taquigráficas da reunião do dia 20 de maio ao presidente da
Cemig e à procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho; seja
encaminhado ofício ao presidente da ALMG, pedindo providências com
relação à proibição de entrada de um caminhão de som no Hall das
Bandeiras para manifestação de servidores da Fhemig e do Sind-Ute;
seja solicitado à Secretaria de Administração de Contagem
informações sobre a motivação pela qual a prefeitura não tem mais
interesse em manter a Associação dos Jornalistas do Serviço Público,
credenciada para consignação em folha de pagamento, permitindo o
desconto de mensalidades de seus filiados, uma vez que o princípio
da motivação, consagrado na doutrina e na jurisprudência brasileira,
exige que a administração pública indique os fundamentos de fato e
de direito de duas decisões.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB) e Ademir Lucar
(PSDB).
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