Congonhas questiona desapropriação para ampliar mineração

O decreto estadual que desapropria mais de 4 mil hectares de terras em Congonhas, na Região Central, foi duramente cr...

26/05/2008 - 00:01
 

Congonhas questiona desapropriação para ampliar mineração

O decreto estadual que desapropria mais de 4 mil hectares de terras em Congonhas, na Região Central, foi duramente criticado durante audiência realizada na cidade, nesta segunda-feira (26/5/08), pelas comissões de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo e de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Cerca de 300 pessoas compareceram à reunião, entre elas lideranças políticas e comunitárias e produtores rurais atingidos pela desapropriação. Requerimento para revogação do decreto foi apresentado ao final do encontro.

O decreto sem número, baixado em dezembro de 2007, prevê a desapropriação de 1.434 hectares para implantação de um distrito industrial; 1.507 para expansão; e 1.122 para implantação de uma unidade de conservação. A soma de 42 quilômetros quadrados é mais que 13% da área total do município. Produtores denunciam ainda que 80% das terras agrícolas podem ser desapropriadas. Há ainda o temor de que a área seja usada para construção de barragem de rejeitos, a pouco mais de um quilômetro dos profetas de Aleijadinho, patrimônio tombado pela Unesco.

A principal queixa da população é quanto à falta de participação popular e de informações sobre os detalhes do decreto. Moradores acusam também a Prefeitura de Congonhas de não prestar esclarecimentos sobre as obras. O prefeito Anderson Costa Cabido, porém, argumenta que o executivo municipal tem buscado informações junto ao governo do Estado, sem sucesso. Ele reivindica a redução da área desapropriada, mas defende a instalação de uma usina em Congonhas, pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), para beneficiamento do minério, com agregação de valor e renda para a cidade.

As informações do executivo municipal são de que a Vale deixa mais tributos no município do que a CSN, que retira sete vezes mais minério, mas o transfere a preço de custo para Volta Redonda (RJ). Segundo Cabido, um protocolo de intenções para instalação da usina, no valor de R$ 9,5 milhões, foi assinado no final de 2007 com o Estado e a CSN. O representante dos desapropriados, Helbert Soares Dias Leite, assinala, porém, que o documento prevê também expansão da mineração da CSN, das atuais 20 milhões de toneladas/ano para 55 milhões. "Hoje a poeira já é insuportável", lastimou.

Deputado solicita revogação de decreto

Três requerimentos foram apresentados pelo deputado Antônio Júlio (PMDB), autor da solicitação para a audiência pública. Os documentos devem ser votados na próxima reunião da comissão. O parlamentar solicita o governador, primeiro, a revogação do decreto e, depois, uma audiência do Executivo em Congonhas para esclarecer a norma. O terceiro requerimento solicita à Procuradoria Geral de Justiça o acompanhamento, por parte do Centro de Apoio Operacional (CAO) de Meio Ambiente do Ministério Público, de todos os desdobramentos do decreto.

De acordo com Antônio Júlio, o alegado interesse social que norteou a decreto não existe. "Há apenas interesse econômico e industrial", frisou. Ele criticou a falta de regras para exportação de minério no País e acusou o Estado de ser complacente com mineradoras, facilitando licenças ambientais. O deputado Vanderlei Miranda (PMDB), presidente da Comissão de Turismo e da audiência pública, falou sobre a crise de alimentos e se posicionou conta o progresso a qualquer custo. "Por onde a mineração passa, produz também uma pobreza inapagável", afirmou.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), também acusou o Executivo estadual de truculência e alertou que a Congonhas de hoje deixará de existir caso o decreto seja efetivado. O parlamentar lembrou que a prefeitura e a câmara municipal podem agir no momento do licenciamento para impedir a instalação de empreendimentos em desacordo com o código de posturas municipal. "O decreto deve ser revisto à luz do licenciamento, que dirá, com certeza, o tamanho necessário da área e a viabilidade do empreendimento", frisou.

O deputado Vanderlei Jangrossi (PP), que preside a Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial, também participou da audiência e afirmou que os mananciais de água que hoje abastecem Congonhas serão transformados em lixão. "A população não está esclarecida sobre isso", afirmou. Já Adalclever Lopes (PMDB) classificou o decreto como uma "vergonha" para atender interesses da CSN. "Não conseguiram comprar as terras dos moradores e foram ao governador, que entregou com uma canetada", criticou.

Lideranças reclamam da falta de informação

Diversos moradores se queixaram, na fase de debates, da falta de transparência no processo de desapropriação, tanto por parte do Estado quanto do município. Lideranças alegam que nem mesmo o tipo de unidade de conservação que será implantada na área é conhecido. O consultor de mineração José Cláudio Gomes afirmou que o desafio da CSN é atingir 80 milhões de toneladas/ano de minério de ferro. Para isso, segundo ele, serão necessárias quatro barragens de rejeitos. "A área da Serra do Esmeril, destinada à reserva ambiental, já é preservada", criticou.

Segundo o prefeito Anderson Cabido, o argumento do governo estadual é de que a desapropriação em uma área maior não atenderia apenas à CSN, mas também aos seus fornecedores e outras empresas. Já a religiosa Marinez Rossato salientou que a população precisa se planejar quanto à plantação de novas culturas e à construções. "Precisamos de um choque de verdade", resumiu. O Instituto Estadual de Florestas (IEF) e o Instituto de Gestão das Águas (Igam) enviaram representantes da área técnica, que se colocaram à disposição da população, mas não puderam atender às demandas. Sávio Souza Cruz criticou ainda a ausência do Ministério Público. Já a CSN não esteve representada na audiência.

Presenças - Deputados Vanderlei Miranda (PMDB), presidente da Comissão de Turismo; Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente; Antônio Júlio (PMDB); Adalclever Lopes (PMDB) e Vanderlei Jangrossi (PP). Além das autoridades citadas, compuseram a mesa o presidente da Câmara Municipal de Congonhas, João Lourenço Gonçalves; a procuradora do IEF - Regional Centro Sul, Rosemary Marques; o engenheiro florestal do IEF, Alberto Vieira de Melo Matos; e o procurador do Igam, Osmar Ladeia. Entre as lideranças políticas presentes, estavam os ex-prefeitos de Congonhas Altari Souza Ferreira e Gualter Monteiro, também ex-deputado estadual.

 

 

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