Municípios se dividem sobre mudança na distribuição do ICMS

O debate sobre os critérios de distribuição do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para os mu...

21/05/2008 - 00:00
 

Municípios se dividem sobre mudança na distribuição do ICMS

O debate sobre os critérios de distribuição do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para os municípios dominou a reunião da Comissão Especial da Reforma Tributária da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (21/5/08). A representante da Associação Nacional dos Municípios Produtores (Anamup), Terezinha Sperandio, apresentou as propostas da entidade a respeito dos critérios de distribuição de ICMS, elaboradas para se contraporem ao modelo defendido pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Apesar das duas entidades representarem municípios, a CNM quer mudanças que beneficiem os municípios com menor arrecadação per capita, enquanto a Anamup representa os municípios com maior movimentação econômica.

A comissão para discutir a reforma tributária foi instalada pela ALMG em 2 de abril para recolher sugestões a serem encaminhadas ao Congresso Nacional, a fim de subsidiar o debate a respeito da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 233/08, proposta pelo Governo Federal, que hoje tramita em anexo à PEC 31/07, de autoria do deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), que trata do mesmo tema. A Assembléia mineira já ouviu representantes do Governo do Estado, o deputado Virgílio Guimarães e, nesta quarta-feira (21), representantes dos municípios.

Assim como os governos estaduais, os representantes dos municípios mostram preocupação com o fato da reforma tributária concentrar ainda mais, nas mãos da União, os poderes de legislar sobre matéria tributária. Os defensores da medida afirmam que ela é necessária para acabar com a guerra fiscal. Os críticos dizem que ela é inconstitucional, por romper o pacto federativo, e também é prejudicial por impedir os Estados de aprovar medidas fiscais que combatam as desigualdades regionais.

Outra questão fundamental para os municípios é a definição do percentual do ICMS que será distribuído de acordo com o Valor Adicionado Fiscal (VAF). O VAF é um índice que mede a atividade econômica de um município. De acordo com a legislação atual, 25% da arrecadação de ICMS deve ser distribuída entre os municípios. Dessa cota, segundo legislação federal, 75% devem ser distribuídos de acordo com o VAF, de forma que os municípios com maior atividade econômica ganham mais. O restante deve ser distribuído conforme definido por lei estadual. Em Minas, além dos 75% obrigatórios, outros 4,69% são distribuídos de acordo com o VAF, enquanto os restantes 20,31% são repartidos conforme diversos critérios, tais como população, preservação ambiental, saneamento, etc.

Tema será destaque em encontro nacional

O presidente da Comissão Especial, Sebastião Helvécio (PDT), disse considerar que a reforma tributária, por restringir a autonomia de estados e municípios de gerir suas próprias receitas, contraria ao menos dois artigos da Constituição: o artigo 1º, que define o Brasil como uma República Federativa; e o artigo 60, parágrafo 4º, que proíbe deliberação sobre emenda que procure abolir o princípio federativo. "Se Estados e municípios não puderem legislar sobre questão tributária, o princípio federativo está em cheque", afirmou Helvécio. Ele acrescentou que o tema será discutido na XII Conferência dos Legislativos Estaduais, em Fortaleza, nos dias 28 e 29 de maio, e que já há posição definida do Colegiado dos Presidentes das Assembléias Legislativas de resistir à perda de autonomia.

De acordo com o deputado Virgílio Guimarães, a proposta federal transformará o ICMS no Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), que terá uma alíquota nacional de 18%. No sistema atual, o ICMS é repartido entre origem e destino de cada produto, mas com larga vantagem para a origem. Com o IVA, essa regra seria invertida, com o percentual maior sendo arrecadado pelo Estado de destino.

Segundo informações da Secretaria de Estado da Fazenda quanto ao novo imposto, as alíquotas passarão a ser fixadas pelo Senado, em lei complementar. Em seguida, o Colegiado dos Estados (grupo semelhante ao Conselho de Política Fazendária, o Confaz, que reúne os secretários estaduais de Fazenda) vai propor o enquadramento dos produtos e serviços nas alíquotas. Caberia, então, ao próprio Senado aprovar ou rejeitar essa proposta de enquadramento. Aos Legislativos dos Estados restaria a atribuição de aumentar ou reduzir alíquotas em alguns casos. E isto apenas depois que lei complementar definisse quais produtos e serviços seriam passíveis de terem alíquotas alteradas em nível estadual.

Essa concentração de poderes em nível federal foi criticada nesta quarta-feira (21) tanto por representantes estaduais quanto municipais. "Se a proposta do Governo Federal for promulgada como está, haverá questionamentos jurídicos gravíssimos", afirmou a presidente da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), Roseane Seabra. A deputada Elisa Costa (PT) defendeu que a reforma deve preservar a autonomia dos entes federados, mas ressalvou que alguma restrição é necessária, sob pena de se preservar a guerra fiscal, que prejudica a todos. "Admito que não sei dizer em quais pontos e em que medida essas restrições são necessárias", afirmou a deputada.

Municípios mais ricos admitem perda de receita

A proposta de reforma tributária em discussão no Congresso não define como ficará a distribuição de ICMS (ou IVA) para os municípios, mas remete isso para lei complementar. Os representantes dos municípios, no entanto, concordam que é importante isso ficar definido de antemão, uma vez que, para eles, isso é uma questão básica. A polêmica cresceu quando a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) defendeu a redução, para 40%, do percentual da cota de ICMS que é distribuído para os municípios de acordo com o VAF. O restante seria distribuído principalmente de acordo com a população. A medida beneficiaria os municípios menores, que compõem a maior parte dos integrantes da CNM.

Para se contrapor a essa proposta, a Anamup, que reúne municípios com VAF maior, elaborou duas propostas apresentadas na ALMG nesta quarta (21). De acordo com Terezinha Sperandio, secretária executiva da entidade, uma proposta é reduzir o percentual do VAF de 75% para 65% ao longo de dez anos. Dessa forma, os 1,4 mil municípios ainda perderiam receita, mas ela seria reduzida. A outra proposta é manter a cota do VAF em 75%, mas incluir critérios como saneamento, coleta e tratamento de esgoto, coleta e reciclagem de lixo, urbanização e infra-estrutura.

Terezinha apresentou estudos que indicam, em sua avaliação, o erro de se penalizar os municípios mais produtivos. Em Minas, por exemplo, 185 dos 853 municípios apresentam 91,17% do VAF no Estado, e 69,57% da população. Ela acrescentou que esses são os municípios que têm serviços mais bem estruturados. "Se um município perde 30 ou 40% de sua receita de um baque só, quem vai arcar com os custos das políticas públicas?", declarou a dirigente da Anamup.

Prefeituras e Estados divergem sobre composição do Confaz

Durante a reunião desta quarta (21), a assessora jurídica da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Adriana Giroletti, disse que a entidade defende que os municípios ganhem representação no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), em função do poder que este órgão deverá ganhar com a reforma tributária. O coordenador de Política Tributária da Secretaria de Estado da Fazenda, Ricardo Luiz de Souza, disse ser contra a reivindicação. Para ele, isso ampliaria a distorção na composição do Confaz, que já é presidido por um representante federal, apesar de ter sido criado para congregar as autoridades fazendárias estaduais. "O ideal é que os municípios tenham seu próprio colegiado", afirmou.

Outras críticas apresentadas pelos participantes da reunião da Comissão Especial são relativas à indefinição quanto a inúmeras questões que são relegadas a leis complementares, perigos e dificuldades de se privilegiar a distribuição da arrecadação segundo o destino, e a falta de uma definição clara de perda de receita. Sebastião Helvécio afirmou que a Emenda 29, que trata dos investimentos em saúde, é exemplo dos problemas que são causados por questões que ficam para ser regulamentadas em leis complementares e nunca são. A distribuição de recursos arrecadados privilegiando os locais onde os produtos são consumidos é considerada problemática porque a fiscalização deve ser feita necessariamente nos locais onde ocorre a produção. Estes Estados e municípios, no entanto, não teriam interesse em fiscalizar uma arrecadação que não os beneficiaria. Já a definição de receita foi considerada fundamental para o cálculo de futuras compensações.

Presenças - Deputados Sebastião Helvécio (PDT), presidente; Zé Maia (PSDB) e deputada Elisa Costa (PT). Também participaram da reunião a assessora da Superintendência Tributária da Secretaria de Estado da Fazenda, Sarah Teixeira; e o secretário adjunto da Fazenda de Betim, Almir Mendes.

 

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