Minas de Minas debate conflito entre mineração e agricultura em Muriaé

Os conflitos entre a mineração e a agricultura familiar foram a tônica do encontro regional do Seminário Legislativo ...

20/05/2008 - 00:03
 

Minas de Minas debate conflito entre mineração e agricultura em Muriaé

Os conflitos entre a mineração e a agricultura familiar foram a tônica do encontro regional do Seminário Legislativo Minas de Minas na Zona da Mata, realizado nesta terça-feira (20/5/08) em Muriaé. Entre os mais de 200 participantes desta nona etapa de interiorização, alguns sustentaram a incompatibilidade entre as duas atividades produtivas, mas muitos defenderam o diálogo e a organização da sociedade como caminhos para o desenvolvimento sustentável. O seminário é promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais em parceria com mais 20 entidades, e terá a etapa final de 9 a 12 de junho, em Belo Horizonte. O próximo encontro regional será em Teófilo Otoni.

Para Glauco Regis Florisbelo, membro da Comissão Regional de Atingidos pela Mineração na Zona da Mata, a agricultura familiar, atividade típica da região, não tem como se desenvolver plenamente junto com a exploração de bauxita, que vem crescendo naquela área, sobretudo no município de Miraí. Ele argumentou que o processamento do mineral - para produção de alumínio - é extremamente impactante e inconciliável com as reservas de Mata Atlântica presentes no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro e com os inúmeros cursos d'água no seu entorno, que alimentam as bacias dos rios Doce e Paraíba do Sul.

Também o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Muriaé, Barão de Monte Alto e Rosário da Limeira, João Paulo Dias da Fonseca, avaliou que a atividade de extração de bauxita está retirando os agricultores do campo, elevando o preço da mão-de-obra e gerando conflitos familiares, com grande impacto para a agricultura. Citou ainda os dois rompimentos de barragens da Mineradora Rio Pomba Cataguases, o último deles em janeiro de 2007, que trouxeram prejuízos a vários moradores. Já o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Muriaé, Pascoal José Trota, contrapôs que os 167 produtores rurais atingidos pelo acidente da barragem foram ressarcidos.

Na defesa da convivência entre as atividades econômicas da agricultura e da mineração, o assessor da diretoria de Mineração da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Claret Antônio Vidal Abreu, considerou que elas são complementares e necessárias. A empresa, segundo ele, gera atualmente mais de 2 mil empregos diretos e indiretos na região. Claret citou várias aplicações do alumínio para ilustrar a importância da mineração e enfatizou que a CBA, empresa do grupo Votorantim, toma todos os cuidados necessários na extração da bauxita em Miraí. "Eu entendo a aflição dos moradores porque a mineração é uma atividade nova na região, e a primeira experiência não foi das melhores", afirmou, referindo-se à Rio Pomba Cataguases, que não esteve representada no seminário.

O prefeito de Muriaé, José Braz (PP), repetiu a reivindicação de outros administradores municipais que já participaram do seminário e cobrou um aumento da alíquota da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), o royalty da mineração. Pela legislação atual, as alíquotas da Cfem variam de 0,2% a 3% do faturamento líquido. A bauxita, principal produto da Zona da Mata, tem a maior alíquota, mas as prefeituras, segundo José Braz, continuam de pires na mão. "O que esperamos é que as áreas mineradas em nossa região sejam recuperadas, porque o meio ambiente é a maior preocupação", completou.

Deputados defendem atividade sustentável

O deputado Bráulio Braz (PTB), que coordenou os trabalhos pela manhã, lembrou o objetivo do seminário de elaborar uma política minerária para Minas Gerais, voltada para a sustentabilidade, e de aprimorar a política nacional. Ele leu mensagem do presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), ressaltando a importância histórica da atividade agropecuária na região, além das novas vocações nos ramos de confecções e mineração. A mensagem lembrou ainda a existência de jazidas em áreas de fragilidade ambiental e de grande riqueza, como a Serra do Brigadeiro.

A deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM) também argumentou que a mineração é fundamental, desde que operada com responsabilidade social. Ela comparou as arrecadações de Cfem da mineração com as do petróleo, bem superiores, e defendeu aumentos das alíquotas. "É preciso ampliar a arrecadação para os municípios", completou. O deputado André Quintão (PT) lembrou a tradição da ALMG de ouvir todos os segmentos da sociedade para a elaboração de políticas públicas. Ele salientou que Minas tem reservas minerárias, mas também recursos hídricos importantes para o País. "É preciso encontrar o caminho para aperfeiçoar a legislação e garantir a mineração com respeito à legislação e às regras democráticas", afirmou.

O deputado Padre João (PT) pediu que a visão do problema seja global, envolvendo todo o Estado. Ele citou os problemas gerados na BR-040 pelos caminhões de mineradoras, que trafegam com sobrepeso. "É importante distinguir empreendedores de predadores", afirmou. Padre João defendeu ainda projeto em tramitação na ALMG que prevê que toda empresa que ofereça risco a pessoas e ao meio ambiente tenha um fundo para garantir indenizações em casos de acidente. Após os debates da seminário, os deputados visitaram as instalações da CBA, passando pela barragem de rejeitos, pela planta industrial e pelo viveiro florestal provisório.

Riqueza - A Zona da Mata tem na bauxita, matéria-prima a partir da qual se produz o alumínio, a principal riqueza mineral, responsável por 50% do recolhimento de Cfem da região, que chega a R$ 1,65 milhão - ou 0,6% do valor total recolhido em Minas. As reservas ajudam a colocar Minas Gerais na segunda posição no ranking de produtores de bauxita, atrás apenas do Pará. Já o Brasil figura como terceiro maior produtor de alumínio, perdendo apenas para a Austrália.

A região de Muriaé, por outro lado, tem inúmeros mananciais hídricos e várias microbacias hidrográficas. O secretário de Meio Ambiente do município, Francisco Ofeni Silva, cita que apenas nos últimos três anos 120 pontes de madeira foram construídas ou reformadas na região, fora as pontes de concreto.

Grupos discutem propostas

À tarde, os grupos de trabalho discutiram propostas. O grupo 1 elaborou 29, entre elas o maior apoio do setor produtivo ao desenvolvimento de pesquisas dos indicadores sócio-ambientais e melhoria da educação; a preservação integral do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro e de sua zona de amortecimento; e apoio ao desenvolvimento do turismo sustentável na região; e o beneficiamento da bauxita na própria Zona da Mata. Já o grupo 2 elaborou oito propostas, entre elas a elaboração de programas de orientação aos municípios com vistas à aplicação e fiscalização dos recursos da Cfem; e a diferenciação de alíquotas da Cfem para minérios que são beneficiados e aqueles exportados in natura.

Foram eleitos 12 delegados para a etapa final em Belo Horizonte. São eles: Juarez Lopes Filho, Jonas Machado, Carlos Christiano Pimentel, Joseph Rozini Glanzmann, Andrea Gomes de Castro, Luiz Carlos Pinheiro, Rodrigo Gonçalves Bigogno, Raul Demolinari de Abreu, Nilson Lopes da Silva, Francisco Ofeni Silva, Marco Aurélio de Lima e Eduardo Nascimento.

Presenças - O seminário reuniu representantes de prefeituras, câmaras municipais, Ministério Público, secretarias municipais e estadual de Meio Ambiente, organizações não-governamentais, representantes de empresas, de trabalhadores e cidadãos comuns, além de técnicos da ALMG. Além das autoridades citadas, participaram também o presidente da Câmara Municipal de Muriaé, pastor Antônio Augusto Pereira; a geóloga da Central de Apoio Técnico do Ministério Público Estadual, Marta Miranda Camelo; a analista ambiental da Superintendência Regional de Licenciamento da Semad, Regina Maia; e o superintendente da Região Central Metropolitana de Meio Ambiente, José Flávio Mayrink Pereira.

 

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