Fruticultura no Norte de Minas depende de pacote de incentivos

O desenvolvimento da fruticultura no Norte de Minas depende de pesquisa tecnológica, linhas de crédito e desenvolvime...

20/05/2008 - 00:00
 

Fruticultura no Norte de Minas depende de pacote de incentivos

O desenvolvimento da fruticultura no Norte de Minas depende de pesquisa tecnológica, linhas de crédito e desenvolvimento do associativismo. A atividade nessa região é deficiente nesses três aspectos indispensáveis, a julgar pelos depoimentos prestados por especialistas e autoridades aos deputados da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais durante audiência pública realizada na tarde desta terça-feira (20/5/08).

A deputada Ana Maria Resende (PSDB), autora do requerimento e representante do Norte mineiro, abriu o debate com uma dezena de questionamentos e uma visão futura de expansão dos pólos de fruticultura de Pirapora e do Jaíba para as cidades de São Francisco, São Romão e Januária. Dentre os questionamentos, ela quis saber se o Estado tem recursos para aplicar na fruticultura, quais seriam as políticas traçadas para o Norte de Minas, se a Epamig está dotada de recursos para desenvolver tecnologia, se as universidades têm programas de pesquisa, se existe programa de capacitação de fruticultores e quantas cidades do Norte de Minas não possuem sequer secretarias de Agricultura.

Parte das respostas foram dadas por Pierre Vilela, da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg). Ele disse que não existem recursos para a fruticultura e que nem mesmo as câmaras setoriais dispõem de recursos para deslocamentos. Não existe programa de capacitação, apenas os dias de campo da Epamig e a divulgação de descobertas das universidades federais e da Unimontes. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural realiza um bom esforço, mas com grandes limitações financeiras.

Para Vilela, a participação dos produtores é fraca em todas as regiões, e melhor um pouco no Norte de Minas. Quanto ao desenvolvimento de tecnologia, "todo o ônus do acerto e do erro é do produtor", disse ele. Pierre Vilela defendeu a oferta de frutas fora de padrão comercial na merenda escolar, mas o gerente do Projeto Jaíba, Alexandre Kawakani, esclareceu que a logística de distribuição de frutas, com sua perecibilidade, torna inviável atender as escolas.

Kawakani relatou que na década de 70 foi implantado o projeto Padap nos cerrados do Triângulo Mineiro com as mesmas dificuldades hoje enfrentadas pelo Jaíba. "Falta estrutura para exportar banana, pois as estradas são do século 19 e a viagem para Santos ou Salvador leva 30 horas. Apenas uma ferrovia incentivaria a exportação", disse ele. O gerente do Jaíba pediu dinheiro urgente para financiar a pesquisa da oliveira e para outras 40 linhas de pesquisa, para morango, figo, caqui e mandioca, entre outras. O dinheiro precisaria ir para a Epamig, a Embrapa e cinco universidades. Outra área crítica no Jaíba seria a falta de espírito cooperativista, pois há três empresas vendendo limão e quatro ou cinco compradores de mangas competindo.

Para o BDMG, modelo do Norte mineiro está falido

Leonardo Guimarães Parma, gerente do Departamento de Agronegócios do BDMG, admitiu que os recursos estaduais para o Jaíba são de apenas R$ 3,4 milhões, e esclareceu que a instituição não pode financiar custeio agrícola, mas apenas sistemas de irrigação e infra-estrutura de plantio. Os juros são bons, de 6,75% ao ano, com oito anos para amortização. No entanto, com base em seus dez anos de experiência, Parma considera falido o modelo do Norte de Minas. "Não devemos incentivar fruticultura para o pequeno produtor, porque essa atividade depende de capital, tecnologia e administração. A solução ali seria uma política industrial, ou pelo menos o financiamento de agroindústrias pelo Banco do Nordeste, para evitar o desperdício das frutas não comercializadas", opinou.

Lucas Rocha Carneiro, da Secretaria de Agricultura, explicou o funcionamento dos conselhos estaduais de Política Agrícola e Desenvolvimento Sustentável, criados em 2003. Esclareceu que a Epamig faz pesquisa, mas a difusão tecnológica depende de uma infinidade de instituições. Apresentou dados sobre os financiamentos do Banco do Brasil no Norte de Minas na safra 2007/08: R$ 4,4 milhões para uva vinífera, R$ 2,2 milhões para banana e cerca de R$ 2 milhões para tangerina, mamão, manga e limão.

Carneiro abriu uma crítica sobre as dívidas do produtor norte-mineiro e disse que seria necessário fazer um saneamento financeiro na região, tendo em vista que, ao surgir o algodão precoce para ser reintroduzido em Catuti, ninguém conseguiu financiamento.

Azeitonas, mangas, uvas, tangerinas, limões

Rubens Sigueru Minami, da Associação dos Usuários do Projeto Pirapora, informou que os plantios naquele perímetro irrigado já não são apenas de uvas de mesa, mas também de frutas cítricas e maracujá. Disse que não há pesquisa apropriada para a região e que os produtores buscam técnicas de manejo da uva em Petrolina (PE).

José Olympio Nardelli, produtor do Jaíba, revelou que as terras ali são fracas e necessitam de adubo para produzir. As contas de energia seriam como um "robin hood" às avessas, já que os grandes consumidores pagam mais barato pelo quilowatt. Estimou em R$ 20 milhões a dívida dos produtores, e disse que a solução "tem que ser mais política do que bancária".

O deputado Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da comissão, pediu mais esclarecimentos sobre o plantio de azeitona no Jaíba, já que pretende levar os deputados a conhecer um plantio de azeitonas para prensagem de azeite extra-virgem em Maria da Fé, região muito fria. Kawakani confirmou o pioneirismo da azeitona de clima quente e acrescentou que o Jaíba é o maior produtor de sementes de hortaliças do Brasil, porque o clima seco protege contra as doenças fúngicas.

O deputado Antônio Carlos Arantes (PSC) disse que a tecnologia desenvolvida no Brasil teve grande salto nos últimos dez anos, mas que o custo dos insumos aumentou mais de 150%, inviabilizando a atividade rural. Para ele, os grandes problemas do Norte de Minas são o crédito para custeio e a infra-estrutura de armazenagem e comercialização. "O café que produzimos no Sul pode ser armazenado por até 20 anos, mas as frutas dependem de câmaras frias e um manejo adequado", exemplificou.

O deputado Chico Uejo (PSB), por sua vez, relatou a saga dos descendentes de japoneses, que desbravaram os cerrados para implantar a soja e agora desenvolvem a fruticultura. "Nossos avós abriram as fronteiras agrícolas no Paraná. Nossos pais vieram para o cerrado. Nós estamos no Jaíba, abrindo novo ciclo agrícola", disse ele.

Requerimentos: Foram apresentados seis requerimentos durante a reunião, cinco deles assinados pela comissão. Um deles pede o envio de ofício ao presidente da Emater-MG pedindo o desenvolvimento de um programa de capacitação dos fruticultores do semi-árido. O segundo solicita ao Ministério da Agricultura que aloque recursos para pesquisa na Epamig. O terceiro pede o mesmo à Fapemig. O quarto requerimento pede à Secretaria da Agricultura para criar um fundo de desenvolvimento de atividades agropecuárias nos moldes do extinto Funderur. O quinto pede ao presidente do BDMG a criação de um grupo de estudos para examinar a viabilidade jurídica e financeira de conceder financiamentos ao produtor do Jaíba, retroagindo à data do primeiro empréstimo.

O deputado Antônio Carlos Arantes também apresentou requerimento pedindo agilidade à Advocacia-Geral do Estado para a reformulação do Decreto 44.309/06, que impõe exigências que o deputado considera excessivas de controle ambiental nas propriedades rurais.

Presenças: Deputados Vanderlei Jangrossi (PP), presidente; Antônio Carlos Arantes (PSC), Chico Uejo (PSB) e a deputada Ana Maria Resende (PSDB).

 

 

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