Trabalhadores denunciam perseguição em punições na Cemig

Suspensão de trabalhadores que participaram de assembléia sindical, manipulação de assembléia de trabalhadores que de...

20/05/2008 - 00:00
 

Trabalhadores denunciam perseguição em punições na Cemig

Suspensão de trabalhadores que participaram de assembléia sindical, manipulação de assembléia de trabalhadores que determinou acordo coletivo de trabalho, bloqueio de e-mails sindicais e proibição da entrada de sindicalistas na empresa são algumas das acusações feitas por funcionários da Cemig à direção da estatal, durante audiência pública realizada nesta terça-feira (20/5/08) pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. A reunião foi realizada a requerimento do presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo (PT), para discutir a punição sofrida por funcionários da Cemig que participaram de paralisação ocorrida no dia 28 de novembro de 2007.

Alegando que os trabalhadores desrespeitaram convocação para o trabalho, a Cemig suspendeu 14 funcionários por 15 dias, e puniu sete supervisores com a perda do cargo de comissão. De acordo com o superintendente de Recursos Humanos da Cemig, Ricardo Luiz Diniz Gomes, que representou o presidente da empresa na reunião desta terça, os trabalhadores suspensos foram convocados para compor o quadro mínimo de trabalho determinado pela Justiça, e não se apresentaram. Todas as punições, segundo ele, foram determinadas após sindicâncias que seguiram na íntegra as normas internas da Cemig.

Quanto à substituição dos sete supervisores, Ricardo Gomes afirmou que a empresa não encara isso como uma punição, uma vez que se trata de cargos comissionados. "Um dos preceitos para que a pessoa seja convidada para assumir esse cargo é que siga as orientações da empresa para o exercício da função. Essas pessoas foram substituídas porque deixaram de atender a esse preceito", afirmou o superintendente.

Marcelo Batista, um dos funcionários suspensos, disse que não teve acesso à sindicância. "Fui acusado e condenado, sem ter como me defender", afirmou. Ricardo Gomes disse que Batista foi ouvido e informado sobre o resultado de cada etapa da sindicância, e reafirmou que todas as regras procedimentais foram seguidas. O coordenador-geral do Sindicato dos Eletricitários (Sindieletro-MG), Willian Vagner Moreira, disse que o sindicato já recorreu à Justiça contra as 14 suspensões, obtendo resultado favorável em todas elas, em primeira instância. "A conclusão de uma das juízas foi que não se comprovou nenhum ato dos trabalhadores que extrapolasse o direito de greve", afirmou o dirigente.

Sindicalistas dizem que acordo coletivo foi manipulado

O superintendente de Recursos Humanos da Cemig, Ricardo Gomes, não comentou outras críticas e acusações dos sindicalistas contra a direção da empresa. Uma delas é de manipulação da assembléia sindical dos técnicos da companhia, de maneira a aprovar acordo coletivo defendido pela direção que retirava direitos dos funcionários, tais como o 14º e 15º salários. "Eu sou técnico, mas não deixaram a gente entrar na empresa. Já os técnicos do interior, a empresa convocou e custeou o deslocamento, com a missão de votar a favor da proposta deles", afirmou o coordenador do Sindieletro, Wilian Moreira.

O dirigente sindical também acusou a Cemig de reduzir arbitrariamente o número de dirigentes sindicais, que havia sido fixado em 96 por acordo firmado em 2000; proibir dirigentes sindicais de entrar na empresa; cancelar o envio de jornais sindicais nos malotes da estatal; bloquear e-mails do Sindieletro, impedindo o sindicato de se comunicar com os trabalhadores por esse meio. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Minas Gerais, Marco Antônio de Jesus, acrescentou as acusações de não pagamento de auxílio-educação para líderes sindicais e de utilização de filmagens de reuniões sindicais para punir e indiciar trabalhadores.

O deputado Durval Ângelo disse esperar que a participação de funcionários da Cemig na audiência pública não fosse punida pela direção de empresa. Ele afirmou que já teve de intervir para reverter punições a trabalhadores que participaram de reuniões na ALMG. "A violação de direitos humanos não é de direita nem de esquerda. Reuniões convocadas pela Comissão de Direitos Humanos vão acontecer, agrade ou não ao governo ou à oposição", declarou o parlamentar. Ele lembrou ainda a série de denúncias feitas contra a Cemig com relação à terceirização irregular em serviços que são inerentes à atividade da empresa.

A líder do PT, deputada Elisa Costa, relacionou as diversas questões e críticas à atuação da Cemig que vêm sendo discutidas na ALMG: alto índice de acidentes de funcionários terceirizados, falta de concurso público, tarifa excessiva de energia, paralisação de um ano nas ligações do Programa Luz para Todos. "A Cemig teve um lucro de mais de R$ 1 bilhão por ano. Esse lucro não deve estar só a serviço dos acionistas, mas do povo de Minas Gerais", afirmou a parlamentar.

Elisa afirmou que as divergências vêm do fato de a estatal estar sendo gerida com a concepção de empresa privada. "Punir trabalhadores quando se retira direitos em acordo coletivo é grave. Tenho certeza que os supervisores punidos vinham prestando um serviço muito bom. Não é motivo para perda de cargo o fato de terem divergido no momento da negociação", considerou a deputada. Os adicionais por tempo de serviço foram um dos benefícios retirados.

O presidente regional da CUT, Marco Antônio de Jesus, disse que será feita uma denúncia à Organização Internacional do Trabalho (OIT) contra a Cemig, por prática anti-sindical. Para auxiliar neste sentido, o deputado Durval Ângelo elaborou requerimento para que as notas taquigráficas da reunião sejam encaminhadas à OIT, com solicitação para que seja criada uma comissão para investigar a restrição à organização sindical na Cemig. Assim como outros três requerimentos elaborados, este deverá ser votado na próxima reunião.

Um dos requerimentos elaborados solicita a ida de deputados da Comissão de Direitos Humanos à Cemig para tentar uma negociação a respeito das questões discutidas, além de pedir o envio das notas taquigráficas à direção da empresa. Outro requerimento recomenda o envio das notas ao Ministério Público do Trabalho. Um último requerimento, recomenda consulta ao presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), para saber de onde partiu proibição para que fosse utilizado carro de som em assembléia sindical no Hall das Bandeiras, na sede do Legislativo mineiro. Essa queixa foi feita pelo presidente regional da CUT, Marco Antônio de Jesus.

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão; Carlin Moura (PCdoB) e Lafayette de Andrada (PSDB); e a deputada Elisa Costa (PT), além das autoridades citadas no texto.

 

 

 

 

 

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