Degradação ambiental é tema central do Minas de Minas em Paracatu

Conciliar a atividade de mineração com o cuidado com o meio ambiente e a saúde da população. Este foi o tema central ...

15/05/2008 - 00:01
 

Degradação ambiental é tema central do Minas de Minas em Paracatu

Conciliar a atividade de mineração com o cuidado com o meio ambiente e a saúde da população. Este foi o tema central do oitavo encontro regional do Seminário Legislativo Minas de Minas, realizado nesta quinta-feira (15/5/08) em Paracatu, no Noroeste do Estado. Participaram do encontro representantes de prefeituras, câmaras municipais, Ministério Público, secretarias municipais e Estadual de Meio Ambiente, organizações não-governamentais, representantes de empresas, trabalhadores e cidadãos comuns. O seminário é realizado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais em parceria com mais 20 entidades e terá a etapa final de 9 a 12 de junho em Belo Horizonte.

A cidade, que é a segunda maior produtora de ouro de Minas Gerais, está apreensiva com o anúncio da empresa Rio Paracatu Mineração (RPM) de triplicar a produção do metal, explorado numa lavra a céu aberto dentro da área urbana. A licença do empreendimento deve ser analisada nesta quarta-feira (16) pelo Conselho de Política Ambiental, segundo o superintendente regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Noroeste de Minas, José Eduardo Vargas.

De acordo com o diretor-geral da RPM, Victor Hugo Souza Belo, a mineradora deve investir US$ 540 milhões no projeto de expansão para elevar a extração de 5 toneladas/ano para 15 toneladas/ano. Com isso, a vida útil da mina será ampliada por mais 30 anos. Com a extração atual, a lavra seria exaurida em 2016.

A preocupação geral é com os impactos que a atividade traz para a cidade. O deputado Almir Paraca (PT), que representou o presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), e coordenou os trabalhos, citou denúncia apresentada pela Fundação Acangaú de Paracatu. De acordo com a instituição, a concentração de mercúrio na água da barragem de rejeitos da RPM está 1.500 vezes acima do permitido pela legislação. Suspeita-se que o metal seja liberado no processo de lavagem do ouro, pois ele não é usado na usina. Um brejo localizado abaixo da barragem já apresenta concentrações 500 vezes acima do valor máximo permitido.

Outros metais também estão acima do previsto na lei: o cádmio está 350 vezes a mais, e o chumbo, 17 vezes. A fundação também denuncia que o arsênio chega a 5 partes por bilhão (ppb) na água, concentração abaixo dos 10 ppb permitidos pela legislação brasileira mas considerada de risco por outros países, como o Canadá, sede da matriz do Grupo Kinross, do qual a RPM faz parte.

Investigação - Um dos palestrantes do seminário, o promotor de Defesa do Meio Ambiente e coordenador de Defesa do Meio Ambiente da Bacia do São Francisco, Mauro da Fonseca Ellovitch, afirmou que desde 2006 está sendo realizado um inquérito civil para investigar o trabalho da mineradora. Ele disse que o processo já tem quase 14 volumes e está em fase de conclusão. A análise técnica está sendo feita por especialistas qualificados, com doutorado ou pós-doutorado, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O Ministério Público, segundo o promotor, quer assegurar medidas de preservação do meio ambiente, reparação dos danos e prevenção em relação ao fechamento da empresa para evitar que a cidade caia no ostracismo econômico após o encerramento da mineração. Ellovitch ressaltou que a atividade é degradante e finita, mas necessária para o desenvolvimento. Por isso, defendeu que sejam tomadas medidas que minimizem os impactos negativos no meio ambiente e garantam a independência econômica do município ao final da atividade.

Para o presidente da ONG Movimento Verde, Antônio Eustáquio Vieira, é preciso criar novas leis, a partir da contribuição da comunidade, para mudar o atual modelo de mineração. "Temos que mudar a sociedade para que as pessoas sejam mais comprometidas com o voto e elejam representantes mais comprometidos com a elaboração de leis melhores".

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Extrativista de Paracatu/Vazante, José Osvaldo Rosa de Souza, repetiu o que havia alertado na reunião de Araxá, na terça-feira (13). Ele chamou atenção para o grande número de acidentes de trabalho que ainda ocorrem no Brasil. Citou um dado do desembargador do Tribunal Regional do Trabalho, Sebastião Geraldo de Oliveira, segundo o qual as indenizações por acidentes de trabalho giram em torno de R$ 12,5 bilhões ao ano no Estado.

José Osvaldo também apresentou um quadro com a evolução do número de acidentes, que têm provocado menos mortes, mas que na opinião dele ainda são muitos. Em 2000, havia 26,2 milhões de trabalhadores formais no País e foram registrados 363,8 mil acidentes, com 3.094 mortes. Em 2006, o número de trabalhadores subiu para 35,1 milhões, os acidentes aumentaram para 503,9 mil, mas a mortalidade caiu para 2.717 pessoas.

Compromisso - O representante da RPM, Victor Belo, garantiu que a mineradora tem preocupação com a questão ambiental e da saúde da população. Ele informou que a empresa vai investir R$ 4,5 milhões nos próximos dois anos para revitalizar o Córrego Rico, principal afluente do Rio Paracatu, que está contaminado com mercúrio. Também vai construir um novo hospital de pronto-socorro na cidade, com recursos de R$ 800 mil.

Belo enfatizou que a empresa é responsável por mais de 3 mil empregos diretos em Paracatu e pelo consumo de R$ 2,2 milhões anuais em compras de produtos diversos, um cálculo de 2006. Segundo ele, com a expansão, as compras da empresa devem chegar a R$ 60 milhões por ano.

Deputados reforçam importância de cuidar do ambiente

Os quatro deputados presentes ao encontro de Araxá foram unânimes em defender o desenvolvimento sustentável da atividade mineradora. Padre João (PT) lembrou que o subsolo do País pertence à União e, por isso, a todos os brasileiros. "Temos que tomar providências para assegurar essa riqueza", completou. Elmiro Nascimento (DEM) lembrou a importância de Paracatu, por suas riquezas, e elogiou a presença da comunidade no encontro, que contou com cerca de 150 pessoas.

O deputado Almir Paraca (PT) lamentou que ainda existam grandes distorções na aplicação da Compensação Financeira para Exploração de Recursos Minerais (Cfem), destinada a ressarcir os municípios pelos danos causados. Para alguns minérios a Cfem é calculada sobre o faturamento bruto e, para outros, sobre o líquido. "Isso significa uma diferença imensa porque são muito altos os custos da mineração (descontados no caso do faturamento líquido)", advertiu. A alíquota também varia de acordo com o minério.

Essa diferença foi destacada pelo deputado Carlin Moura (PCdoB). Ele comparou o petróleo, mineral de origem orgânica, que contribui com 10%, e o minério de ferro, cuja Cfem é de 2%. Para ilustrar o impacto financeiro, ele citou os municípios de Rio das Ostras (RJ), que recolhe R$ 11 milhões com o petróleo, e Itabirito, que recebe R$ 900 mil pelo minério. "A Cfem é o preço público que se paga ao município. E no Brasil a alíquota é a menor do mundo", denunciou.

Ao final do encontro os grupos de trabalho discutiram as propostas da região e elegeram os delegados que participarão da etapa final do seminário em Belo Horizonte.

Participantes do encontro de Paracatu apresentam 24 propostas

Cerca de 150 pessoas de cinco municípios de Minas Gerais, além de Brasília e da cidade anfitriã, participaram do oitavo encontro regional do Seminário Legislativo Minas de Minas, nesta quinta-feira, em Paracatu. Estiveram presentes representantes de Araxá, Unaí, Belo Horizonte, Patos de Minas e Riachinho.

Os participantes dos dois grupos de discussão aprovaram 24 propostas que serão encaminhadas à Plenária final de Belo Horizonte. Entre elas se destacam:

* criação de um fundo de "fechamento da mina", depositado em conta judicial, como garantia mínima ou caução de cada projeto de mineração, visando ao fim da extração;

* Aplicação dos recursos da Cfem somente após a aprovação dos projetos pelo Conselho do Desenvolvimento Social, que representa a sociedade civil;

* Acesso livre e divulgação ampla para a comunidade das auditorias internas e externas conduzidas pelas mineradoras;

* Investigação dos produtos químicos usados e seus efeitos na saúde da população;

* Criação de uma comissão permanente para acompanhamento de cumprimento da legislação com representação de trabalhadores, governo e empregadores;

* Criação de indexador para cálculo da Cfem que considere a flutuação do valor de mercado dos produtos minerais;

* Encaminhar Proposta de Emenda à Constituição da República extinguindo qualquer possibilidade de imunidade ou isenção tributária e fiscal relativas aos bens minerais e à água, destinados à exportação;

* Estabelecer que as fiscalizações às empresas sejam acompanhadas por representantes do setor sindical;

* Avaliação da saúde dos trabalhadores pelos Centros de Referência Regional em Saúde do Trabalhador.

Delegados - Foram escolhidos, também, os 12 delegados que representarão a região Noroeste na etapa final. São eles: Nísio Miguel Tôrres de Miranda, do gabinete do deputado estadual Almir Paraca (PT); Samuel Correa Duarte, do Instituto Tecsoma; José Osvaldo Rosa de Souza, da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas do Estado de Minas Gerais (Ftiemg); Miryam Walescha Martins, representando a sociedade civil; Sérgio Ulhoa Dani, da Fundação Acangaú; Domingos Santana Guimarães, da Votorantim Metais; Valter Camamello, da Rio Paracatu Mineração (RPM); Beatriz Paula Pires, da prefeitura de Paracatu; Ronia Magda Mariano de Almeida, da sociedade civil; Wilmar Ferreira dos Santos, da Copasa; Wilson de Freitas Carvalho, da Câmara Municipal de Paracatu; e Simone Paixão Araújo Pereira, da prefeitura da cidade.

Presenças - Deputados Almir Paraca (PT), Carlin Moura (PCdoB), Elmiro Nascimento (DEM) e Padre João (PT).

 

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