Maior rigor nas perícias médicas aumenta conflitos com INSS

Em 2003, o Governo Federal iniciou uma reformulação no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com a contratação ...

13/05/2008 - 00:01
 

Maior rigor nas perícias médicas aumenta conflitos com INSS

Em 2003, o Governo Federal iniciou uma reformulação no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com a contratação de médicos peritos concursados no lugar de profissionais terceirizados. Isso, segundo o vice-presidente da Associação dos Médicos Peritos da Previdência Social em Minas Gerais, Eduardo Henrique Rodrigues de Almeida, aumentou o rigor e o profissionalismo na avaliação dos pedidos de aposentadoria por invalidez. Mas ao mesmo tempo aumentou os conflitos nos postos de atendimento, pois muitos segurados deixaram de ter seus benefícios concedidos.

Para tentar esclarecer a situação, a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou, nesta terça-feira (13/5/08), uma audiência pública no Auditório com a participação de peritos, segurados do INSS e juízes federais. O requerimento para a reunião foi do deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB), que tem recebido várias denúncias de que os peritos do INSS não aceitam atestados e laudos de outros médicos. "Para eles, o que vale é a sua própria avaliação", afirmou Leite.

Como resultado desses conflitos, o deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, lembrou os recentes assassinatos de dois médicos peritos, um em Patrocínio e outro em Governador Valadares. Na platéia, diversos trabalhadores que não tiveram suas aposentadorias concedidas esperavam uma explicação dos representantes do INSS. O gerente regional do órgão em Minas, Manoel Ricardo Palmeira Lessa, fez questão de deixar claro que o Governo Federal não tem o objetivo de reduzir as concessões de benefícios, e sim tratar cada caso com a devida justiça.

Sílvio Carlos de Almeida Tostes, chefe do gerenciamento de Benefícios de Juiz de Fora, explicou que o que determina a aposentadoria por invalidez não é a doença, e sim a incapacidade para o trabalho. "Por exemplo, um trabalhador rural com hérnia de disco deve se aposentar por invalidez, mas a mesma doença em um bancário não dá a ele esse direito", disse. Tostes informou que no Brasil, 11,3% dos segurados recebem benefícios do INSS, enquanto a média mundial é de aproximadamente 7%. A esses números, Durval Ângelo rebateu que o País é campeão em acidentes e precarização das condições de trabalho.

Problema é gerado pela desinformação

O juiz federal da 1ª Vara de Justiça Especial Federal, Pedro Pereira Pimenta, considera o impasse segurados x peritos um "conflito social que muitas vezes é decorrente da desinformação". Ele reforçou a tese de que não basta estar doente para ter direito ao benefício. "É preciso que essa doença cause incapacidade de trabalho", afirmou. Ele fez coro à queixa de alguns segurados que denunciaram o fato de muitos peritos não se identificarem sob a alegação de "razões de segurança". Segundo o juiz, qualquer servidor público tem a obrigação de se identificar. Durval Ângelo lembrou que muitos policiais civis e militares também têm se recusado a mostrar suas identificações, o que os torna foras-da-lei.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) afirmou que o INSS precisa rever sua postura em relação aos segurados. "Há uma concepção de que o INSS tem que reduzir custos", disse ele. O deputado Hely Tarqüínio (PV), por sua vez, afirmou que os médicos não podem ser apontados como culpados dos erros de um sistema. "Muitos têm quatro ou cinco empregos", afirmou. Ele avalia que o INSS optou, progressivamente, por cobrar com rigor excessivo os critérios que definem a aposentadoria por invalidez.

Sílvio Tostes esclareceu, durante a audiência, que não é necessário tempo mínimo de afastamento para solicitação de aposentadoria por invalidez. Ele salientou que os trabalhadores que se sentirem maltratados por peritos devem fazer reclamações aos chefes de agências, gerentes-executivos e denunciar os casos à Ouvidoria da Previdência, pelo telefone 135.

Requerimentos - A comissão aprovou cinco requerimentos do deputado Durval Ângelo: um pede que a reunião dia 26 de maio seja destinada a debater as reivindicações do Comitê de Solidariedade de Anistia aos Praças da Serpente Negra da PM; o outro solicita a parceria da comissão com a Subsecretaria de Estado de Direitos Humanos na realização do debate público sobre "Sensibilidade aos Portadores de Necessidades Especiais" e lançamento do programa para as comemorações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a ser realizado em 11 de agosto deste ano.

Os outros três requerimentos pedem envio de solicitação à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados pedindo a realização de uma audiência pública para debater o tema discutido na reunião desta terça (13); envio de ofício aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal declarando apoio ao Projeto de Lei Federal 5.829/05, que cria novas varas na Justiça Federal, com envio de cópias a todos os parlamentares federais; e envio de solicitação à Defensoria Pública Federal para apurar denúncia de abuso por parte de um médica perita contra a salgadeira Elisete da Conceição Moreira, que teve seu benefício negado em 26 de fevereiro deste ano.

Foi aprovado ainda requerimento do deputado Luiz Tadeu Leite solicitando uma audiência pública, em conjunto com a Comissão de Saúde, para debater os transtornos mentais no ambiente de trabalho gerados pelos benefícios negados pelo INSS. Segundo o deputado, muitos trabalhadores, ao não conseguirem se aposentar por invalidez, são reconduzidos às suas empresas, mas não conseguem trabalhar e podem acabar sendo demitidos, tornando suas situações ainda mais dramáticas.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Luiz Tadeu Leite (PMDB), Hely Tarqüínio (PV) e Carlin Moura (PCdoB). Participaram também o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Minas Gerais, José Maria Soares; a advogada do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte, Suely Teixeira Pimenta de Almeida; os segurados José Geraldo Mendes e Jorge Antônio dos Santos; o juiz federal Murilo Fernandes de Almeida; e a especialista em Normas em Gestão de Benefícios Alba Valéria de Assis.

 

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