Biografia destaca heroísmo de guerrilheiro do Araguaia

Dentre os 68 militantes do Partido Comunista do Brasil que foram mortos durante a guerrilha do Araguaia, entre 1972 e...

13/05/2008 - 00:00
 

Biografia destaca heroísmo de guerrilheiro do Araguaia

Dentre os 68 militantes do Partido Comunista do Brasil que foram mortos durante a guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974, o jornalista e escritor Bernardo Joffily escolheu o mineiro Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, como o principal herói daquela tentativa de resistir, pelas armas, ao predomínio do regime militar. A biografia, intitulada "Osvaldão e a Saga do Araguaia", foi lançada durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada na noite desta segunda-feira (12/5/08), para discutir o resgate dos corpos dos revolucionários, a requerimento do deputado Carlin Moura (PCdoB).

O deputado Durval Ângelo (PT) lembrou que a Comissão de Direitos Humanos realizou em 2004 uma série de debates sobre as violações do golpes de 64 e exigiu a abertura de todos os arquivos da repressão, especialmente os referentes à Guerrilha do Araguaia. Mencionou ainda a lei originária de proposição da então deputada Maria José Haueisen para a indenização das vítimas da tortura no período militar.

"Quando o Exército resolveu publicar uma versão fantasiosa das atividades que chamavam de subversiva, o chamado Dossiê da Esquerda, uma verdade foi reconhecida: a existência da tortura", disse o deputado.

Carlin Moura homenageou "os brasileiros que perderam a vida na luta por um Brasil justo e decente, nas mãos de uma ditadura cruel e sanguinária que teve o apoio dos Estados Unidos e do grande empresariado nacional. Jovens como Osvaldão largaram tudo e foram para o Araguaia preparar a revolução no campo. Para exterminá-los, o Exército mobilizou 10 mil homens, uma força desigual que foi usada para massacrar ribeirinhos e camponeses que apoiavam o movimento".

Deputado pretende cassar cidadania de ex-comandante

Carlin e Durval Ângelo cobraram a abertura dos arquivos e o acesso das famílias aos restos mortais dos militantes. "O regime democrático nos dá direito absoluto à memória e à verdade histórica", disse Moura. Quando o escritor Bernardo Joffily disse que o coronel Sebastião Curió, comandante da operação que aniquilou a guerrilha do Araguaia, anunciara que só iria revelar o paradeiro dos corpos no livro que pretende lançar em agosto próximo, o deputado Durval Ângelo disse que vai pedir a cassação de seu título de cidadão honorário de Minas.

O ex-embaixador em Cuba, Tilden Santiago, disse que passou por várias organizações de esquerda até se tornar "hóspede" do DOI-Codi, em São Paulo, preso na Operação Oban. "Dentro da cela X-4 conheci Carlos Della Monica, que me deu notícias de um negro enorme, mineiro, que estava no Araguaia conseguindo vitórias sobre a repressão. Essas estórias nos levantavam o ânimo. Hoje penso que as revoluções populares não precisam ter os formatos das revoluções chinesa, com Mao-Tse-Tung, ou a cubana. Há formas modernas de manter uma atitude revolucionária sem pegar nas armas", disse ele.

A coordenadora do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, Heloísa Greco, disse que era muito jovem na época da luta armada, mas que sua mãe, hoje com 92 anos, lutou muito para arrancar estudantes presos no DOPS. Informou que nos últimos anos foram mortas 819 pessoas no Araguaia por conflitos agrários. "Dessas mortes, só 92 resultaram em processos. Apenas 22 foram a julgamento e só seis foram condenados. Estão todos soltos, inclusive o mandante do assassinato da Irmã Dorothy Stang".

Gilce Cosenza, da Comissão de Anistiados Políticos, falou sobre o interesse da comunidade escolar em conhecer mais sobre a guerrilha, da qual poucos ouviram falar. Gilce discorda em parte do culto a mitos ou heróis. "Não são um ou outro herói, ou presidente, que fazem a História, mas a luta de todo o povo", ensinou.

O escritor Bernardo Joffily, que autografou uma centena de livros após a reunião, disse que é preciso manter a luta contra os herdeiros da ditadura, pois a população sabe muito bem quem foram os mocinhos e os bandidos nessa história. Ao lado de Osvaldão, elege a guerrilheira Dina também como heroína. "A censura à imprensa era tão completa que, em seus três anos, só foi desafiada uma vez, pelo jornal Estado de S. Paulo. Precisamos também ter o nosso panteão de heróis, embora até hoje não tenhamos feito nenhuma revolução vitoriosa", concluiu.

Maria Elisa Costa, sobrinha de Osvaldão, manifestou a satisfação da família ao ver os ideais de seu tio e de seu pai relembrados e aplaudidos. Revelou que a última irmã sobrevivente do guerrilheiro, Leopoldina Costa, doou sangue para o exame de DNA dos restos mortais de Osvaldão, quando vierem a ser descobertos.

O ex-ministro Nilmário Miranda propôs que o DOPS de Belo Horizonte seja transformado num Memorial dos Direitos Humanos, criado por lei há sete anos, mas ainda não implantado. Miranda pediu também a revisão da Lei da Anistia que perdoou os torturadores. "É preciso pressão popular para isto, porque os torturadores têm que responder pelos crimes de lesa-humanidade".

Presenças: Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão, e Carlin Moura (PCdoB), ex-embaixador Tilden Santiago; ex-ministro Nilmário Miranda; escritor e jornalista Bernardo Joffile; Heloísa Greco, Gilce Cosenza; e Maria Elisa Costa, sobrinha do guerrilheiro Osvaldão.

 

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