Prefeitos de Itabirito e Congonhas pedem aumento da
Cfem
Cerca de 150 pessoas da sociedade civil de diversos
municípios, além de prefeitos, vereadores e deputados acompanharam,
nesta quinta-feira (8/5/08), os debates da sexta etapa regional do
Seminário Legislativo Minas de Minas, que desta vez foi
realizada em Congonhas, no Quadrilátero Ferrífero (Região Central do
Estado). O seminário será promovido em junho pela Assembléia
Legislativa de Minas Gerais. Na fase de exposições em Congonhas, o
prefeito de Itabirito e presidente da Associação dos Municípios
Mineradores de Minas Gerais (Amig), Waldir Salvador, fez forte apelo
por uma participação maior e mais equilibrada dos municípios na
Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem).
Waldir Salvador afirmou que a criação da Cfem, na
década de 80, foi importante para o País, mas enfatizou que a conta
ficou desequilibrada com a adoção da Lei Kandir, nos anos 90, que
isentou de ICMS produtos e serviços destinados à exportação. Um
exemplo que ele deu foi o minério de ferro. Apesar de Minas ser
responsável por 71% dessa produção, o minério corresponde a uma
participação no bolo do ICMS de apenas 2%.
O prefeito afirmou que em seu município, nos
últimos 20 anos, 90% do ICMS arrecadado está ligado à mineração, e
fez um alerta: "Se o minério acabar, Itabirito está morta e
enterrada". O prefeito lembrou que Minas é o ente federado com maior
diversidade minerária do Brasil, e cobrou do Estado incentivos para
atrair empresas que produzam equipamentos e insumos para a área; e
da União, mudanças na alíquota da Cfem. "Não somos contra a
mineração, somos totalmente favoráveis. Mas ela só será sustentável
quando municípios e empresas foram parceiras em tudo, inclusive nos
resultados", resumiu o prefeito de Itabirito, que foi apoiado pelo
público.
O prefeito de Congonhas, Anderson Cabido, foi outra
voz nesse sentido. Cabido lembrou que não existe hoje, em qualquer
setor, uma atividade econômica cujo custo da matéria-prima seja de
apenas 1% ou 2%, como ocorre na mineração. Por isso, segundo ele, é
importante que a construção de uma política minerária para o Estado
seja feita de modo a convergir o interesse das diversas partes
interessadas, apesar dos antagonismos. "Queremos que a riqueza
gerada pela mineração seja mais bem compartilhada entre os
municípios, o meio ambiente e a sociedade, representando melhoria
para a qualidade de vida das pessoas que vivem no local", afirmou o
prefeito.
Vale alega alta carga tributária
O coordenador executivo da Diretoria de Operações
Ferrosos Sul da Vale, Júlio César Nery Ferreira, afirmou que a
empresa não é contra discutir o percentual da Cfem, mas defendeu que
a análise seja feita considerando-se a carga tributária praticada no
Brasil como um todo. "O valor da Cfem, em média 1,5%, parece baixo.
Mas 23%, que é o valor da carga tributária no Brasil, é um valor bem
significativo", ponderou. Ele afirmou que a empresa entende e atende
às compensações exigidas pela legislação; e lembrou outras
contribuições que a mineradora traz para o município, como salário
médio de R$ 1.500 (acima da média do mercado), sistema de compras no
município e pagamento de Imposto sobre Serviços (ISS), entre outros,
que são bem mais representativas que a Cfem.
De acordo com Júlio Ferreira, estudo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que municípios
com atividade mineradora bem estabelecida (que, como ele lembrou, é
diferente de garimpo) contam com melhores índices de renda per
capita e desenvolvimento social. Um exemplo claro, segundo ele,
pode ser notado no Pará, estado que também tem grande participação
no setor mineral. O executivo da Vale afirmou, ainda, que o mercado
passa por um período de bastante rentabilidade desde 2003, quando
saiu de uma má fase. "A explosão da China, que não foi prevista por
ninguém, aumentou a demanda de praticamente todas as
matérias-primas. Mas onde isso vai chegar? Esse é o nosso medo, a
economia funciona de expansão e contração", afirmou, completando que
por isso é preciso ter cuidado ao alterar alíquotas.
Deputados cobram de mineradoras
O deputado Padre João (PT), que representou o
presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), cobrou que
as empresas mineradoras passem a agregar valor ao produto que
retiram das terras. Para ele, elas devem ser parceiras dos
municípios para garantir a sustentabilidade das outras atividades
econômicas, como a agricultura, uma vez que a riqueza tem fim, mas
as pessoas continuam precisando sobreviver. "Estamos em cima de uma
enorme riqueza, mas poucos são os benefícios que a população tem",
concordou o deputado Carlin Moura (PCdoB). Ele reforçou a
necessidade de corrigir a Cfem, com melhor distribuição do bolo
tributário para os municípios. "85% da produção da Vale vai para
fora do País e sobre isso não incide ICMS", exemplificou Carlin.
O deputado Jayro Lessa (DEM) também cobrou uma
revisão da Cfem e lembrou que, se os municípios precisam dos
recursos da mineração, as mineradoras também precisam dos municípios
e têm obrigação de colaborar mais. Ele afirmou que a tendência é que
as companhias mineradoras - que já não são multinacionais, mas
mundiais - terão cada vez mais liberdade para aumentar o preço do
minério de ferro.
A péssima situação das estradas por onde são
transportados os minérios na região de Congonhas e a preocupação com
as medidas que estão sendo tomadas para garantir a saúde da
população que convive com a mineração foram destacadas pelo deputado
Vanderlei Jangrossi (PP). Ele, que é presidente da Comissão de
Política Agropecuária da ALMG, também fez um alerta sobre o fato de
que 80% das áreas agricultáveis de Congonhas serão transformadas em
área para extração de minério.
O presidente da Câmara Municipal, João Lourenço
Gonçalves, parabenizou a ALMG pela realização do seminário, enquanto
o vice-prefeito de Congonhas, José de Freitas Cordeiro, cobrou maior
contrapartida das mineradoras em relação ao município. Já o
consultor da ALMG Julio Bedê fez uma exposição sobre a legislação já
existente relacionada à mineração e o que se pretende com a
construção de uma política minerária estadual, que é o objetivo do
seminário promovido pela Assembléia. O prefeito de Ouro Preto,
Ângelo Oswaldo, e o prefeito de Ouro Branco, Rogério de Oliveira
Pereira, participaram da mesa da manhã.
Ainda na parte da manhã, o presidente da União das
Associações Comunitárias de Congonhas, Áureo Sérgio de Faria, fez
uma síntese das propostas da sociedade civil organizada que foram
discutidas à tarde nos grupos de trabalho. Em sua exposição, ele
disse que a preocupação é com o futuro da região e a qualidade de
vida da população.
Aprovadas propostas para etapa final
No fim da tarde foram eleitos os delegados da
região e aprovadas as propostas que serão levadas para a etapa final
do seminário em Belo Horizonte. Entre as propostas, estão:
estabelecer previamente com as mineradoras critérios para absorção
de mão-de-obra local; proporcionar maior participação e informação
prévia, pelos municípios, das decisões dos projetos de mineração que
provocam impacto; e criar caução ambiental para atividades que
exijam reparação de acidentes ambientais e para garantir o
abastecimento de água para as comunidades próximas.
Também foram aprovadas outras propostas, como
alterar a alíquota do Cfem de 2% sobre o faturamento líquido para 4%
sobre o faturamento bruto; e criar um fundo regional para os
municípios que serão impactados por investimentos de
implantação/expansão da indústria mineradora, concedidos por bancos
de fomento estadual e federal.
Os delegados eleitos para representar a região são
Sandoval de Souza, Stael Gomes Agostinho, Maria Utera Sabará Souza,
Nilma Aparecia Silva, Jurandir Anastácio de Souza, Luciana Morcatti
Coura, Rogéria Cristina da Trindade, Henrique Marani Furtado,
Ricardo José Fernandes Seabra, Elza Magela Diniz, Selmar Rebelo e
Kátia Souza.
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