Tombamento da Estrada Real é discutido por
especialistas
A proposta de Emenda à Constituição 41/08, do
deputado João Leite (PSDB), que propõe o tombamento da Estrada Real,
deve ser desdobrada em uma proposta de lei ordinária que estabeleça
diretrizes para preservação e revitalização de bens patrimoniais,
atos administrativos específicos de tombamento e a composição de uma
Comissão Especial para realizar audiências regionais, divulgando a
importância da Estrada Real para as comunidades e levantando novos
itens ainda não listados para conservação.
Este foi o resultado da reunião com convidados da
Comissão Especial constituída para emitir parecer sobre a PEC.
Especialistas em Direito, em Patrimônio Histórico e Turismo deram
depoimentos sobre a importância do projeto, e todos se posicionaram
a favor da preservação.
O professor da Faculdade de Direito da UFMG, José
Alfredo de Oliveira Baracho Jr, informou que os tombamentos são
feitos normalmente por ato administrativo, mas isso não impede que
sejam feitos por norma hierarquicamente superior. Para ele, o grande
problema é a efetivação do tombamento de áreas muito grandes, que
exige notificação individual de cada proprietário, ou notificação
por edital, que pode ser contestada na Justiça.
O promotor Marcos Paulo de Souza Miranda, do
Ministério Público, acrescentou que o art. 84 da Constituição
protege todos os caminhos construídos em Minas nos séculos 17, 18 e
19. Alertou que o tombamento não "engessa" o bem, mas traz
dificuldades para conservação, afeta o direito de propriedade e
implica no congelamento de outras atividades. Foi sugestão de
Miranda que a PEC seja substituída por uma lei ordinária
estabelecendo diretrizes de proteção, complementada por atos
administrativos que definiriam os bens a serem tombados.
Estrada Real quer ser declarada Patrimônio da
Humanidade
Por sua vez, o presidente do Conselho Deliberativo
do Instituto Estrada Real, Eberhard Hans Aichinger, informou que o
Instituto trabalha para obter, da Unesco, a chancela de Patrimônio
da Humanidade para a Estrada Real, a exemplo do percurso de São
Tiago da Compostela, na Espanha, que foi reconhecido em 1992. "A
Estrada Real cobre uma área de 76,6 mil km2, equivalente à quarta
parte do território italiano, dos quais 17% já estão protegidos. Há
50,5 km de estrada original remanescente e 193 propriedades já
tombadas pelo Iphan em 35 municípios", disse Aichinger. Para ele, o
tombamento linear seria inviável. Ao final de sua exposição, o
dirigente apresentou uma proposta de lei ordinária que atenderia os
ideais defendidos pelo Instituto.
Mauro Werkema, da Secretaria de Estado de Turismo,
reconheceu o extraordinário impulso ao turismo que a preservação dos
bens culturais e arquitetônicos da Estrada Real representaria. Para
ele, o turismo é a atividade que mais pode gerar empregos e
benefícios para o Estado com o menor investimento. "É preciso
definir o empresariamento para vender o produto turismo com
qualidade. É preciso desenvolver cadeias produtivas e
clusters para atender às necessidades dos turistas
estrangeiros", propôs.
O deputado João Leite, em defesa de sua PEC,
argumentou que a legislação ordinária e os decretos já emitidos não
tiveram força para defender a Estrada Real nem mesmo dentro do
Governo, e exemplificou com o asfaltamento do trecho entre Ouro
Preto e Ouro Branco, que incorporou ao tráfego pesado as pontes
históricas da Rancharia e do Falcão, construídas há mais de 200 anos
e hoje ameaçadas por rachaduras.
Preservação depende de mobilização da sociedade
Leomar Fagundes de Azevedo e Murilo Fonte Boa,
ambos do DER-MG, disseram que o Departamento construiu variantes
para desviar o traçado da estrada de outras obras históricas naquele
trecho, mas admitiu que essas pontes recebiam o tráfego, e que seria
preciso construir novos desvios, para que ficassem destinadas apenas
à visitação.
A presidente da Comissão de Cultura, deputada
Gláucia Brandão (PPS), pediu que seja formada uma Comissão para
realizar reuniões itinerantes e mobilizar as populações sobre a
necessidade de preservação do patrimônio da Estrada Real. Essa idéia
foi apoiada pelo dirigente do Instituto Estrada Real, e apresentada
na forma de requerimento pelo deputado relator da PEC, Wander Borges
(PSB). Borges disse que é preciso ampliar o conceito de preservação,
e relatou o caso da igrejinha da Soledade, que ruiu por completo na
década de 90 e foi reconstruída pela comunidade e pela Prefeitura,
contrariando orientação do Iepha.
Também o presidente da Comissão Especial, deputado
Lafayette de Andrada (PSDB), acatou o consenso dos especialistas de
que o tombamento linear não seria uma solução viável, e propôs a
substituição da PEC pelas outras medidas sugeridas, argumentando que
a Comissão a ser formada poderia levantar bens patrimoniais
importantes nas pequenas comunidades e que não estão listados pelos
órgãos de preservação.
Presenças: Deputados
Lafayette de Andrada (PSDB), Wander Borges (PSB), João Leite (PSDB),
Delvito Alves (DEM) e a deputada Gláucia Brandão. Participou ainda o
diretor do Iepha, Carlos Roberto Noronha.
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