Deputados e lideranças de Sete Lagoas cobram mudanças na lei
minerária
Sete Lagoas, município de 237 mil habitantes
localizado na região Central do Estado, recebeu nesta terça-feira
(6/5/08) o quinto encontro regional do Seminário Legislativo
Minas de Minas, promovido pela Assembléia Legislativa de
Minas Gerais. Representantes da sociedade civil organizada, do poder
público e das mineradoras discutiram formas de promover a atividade
minerária aliada ao desenvolvimento ambiental sustentável e
observando as características da região. A cidade, onde estão
instaladas 23 empresas siderúrgicas, é grande produtora de calcário
(matéria-prima para cimento e cal), além de ferro-gusa, ardósia,
mármore, argila e areia.
Na abertura do seminário, o prefeito Leone Maciel
Fonseca cobrou aumento dos recursos para os municípios que têm a
atividade minerária como principal fonte de desenvolvimento. "De
onde se tira a matéria-prima ficam os problemas, como desemprego e
acidentes de trabalho, e ficamos com apenas uma pequena parte dos
recursos gerados. Queremos o que nos é de direito", reivindicou o
prefeito. Ele destacou a importância do seminário com etapas
preparatórias no interior do Estado. "É hora de cada município
minerador fazer seus reclames, deixar seus pedidos para tentar mudar
a legislação".
Esse discurso recebeu apoio de deputados. Para
melhorar a qualidade de vida das cidades onde a atividade minerária
é prioritária, Carlin Moura (PCdoB) cobrou aumento da alíquota da
Compensação Financeira sobre Exploração de Produtos Minerais (Cfem)
paga pelos mineradoras aos municípios. Para o deputado Jayro Lessa
(DEM), este é o momento de se fazer uma adequação na Cfem, que
atualmente corresponde com um recolhimento de 2% a 3% sobre o
faturamento líquido das mineradoras. "Essa alíquota tem trazido
prejuízos imensos para os municípios", afirmou Carlin Moura.
"Ficam-se as crateras, barrancos e barracos da mineração, e os
municípios ficam com as migalhas. Minas Gerais precisa levantar essa
bandeira de mudar as alíquotas da Cfem", completou.
Já a professora de Engenharia Ambiental do Centro
Universitário de Sete Lagoas (Unifemm), Mônica Campolina Diniz
Peixoto, ponderou que é necessário informar os municípios sobre a
existência da Cfem, antes de tentar mudar a alíquota. "Na nossa
região, a maioria dos municípios não sabe o que é nem como é cobrada
a contribuição", disse, ao lembrar que a maior parte do setor
produtivo em Sete Lagoas e região é composto de pequenas empresas,
que muitas vezes apresentam condições precárias para o trabalhador.
Essa realidade foi confirmada pelo diretor do
Departamento Mineral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias
Extrativas de Minas Gerais (Ftiemg), José Osvaldo Rosa de Souza.
Segundo ele, o setor minerário apresenta o maior índice de acidentes
de trabalho. "A sustentabilidade que buscamos precisa considerar a
segurança dos trabalhadores das minas", observou.
Especialista aponta os caminhos da
atividade
Para a professora da Unifemm, Mônica Campolina
Diniz Peixoto, a mineração é uma atividade econômica importante, que
não pode ser desconsiderada. Ela lembra que só pode minerar onde
existe minério e, nesse sentido, é preciso focar nos desafios
criados por essa atividade, como os conflitos entre mineradoras e
ambientalistas e a depreciação ambiental. "Ao rever a legislação
minerária, precisamos buscar alternativas para os resíduos sólidos
gerados, mapear as áreas de concentração minerária e elaborar
estudos para propor alternativas para recuperar áreas degradadas e
cobrar das empresas", listou. Ela insistiu na recuperação das áreas
degradadas. "Na nossa região, por exemplo, eu não conheço ações
efetivas de recuperação de área degradada".
O representante do Sindicato da Indústria do Ferro
no Estado de Minas Gerais, Márcio Paulino Neto, defendeu a
necessidade de facilitar, promover e aumentar o uso dos resíduos da
mineração para auxiliar na redução do impacto ambiental da atividade
minerária. Ele destacou várias utilidades dos subprodutos do
ferro-gusa a carvão vegetal, principalmente para as indústrias
cimenteira, no setor agrícola e na geração de energia elétrica.
Já o engenheiro de minas da Secretaria de Obras da
Prefeitura de Sete Lagoas, Stéfano Antônio Lanza, destacou o
potencial mineral da região, que possui 23 jazidas, mas mostrou os
impactos negativos dessa atividade, como supressão vegetal,
alterações topográficas, assoreamentos, vibrações e ruídos, entre
outros.
Por outro lado, o gerente-geral da Associação dos
Mineradores e Beneficiadores de Ardósia de Minas Gerais (Amar-MG),
José Maria Leal, apresentou números da extração de ardósia no
Estado, que produz 240 mil toneladas/ano, totalmente exportadas para
o exterior, sendo 20% para os Estados Unidos, 60% para Europa e o
restante para o resto do mundo, movimentando U$ 100 milhões/ano.
Segundo ele, o setor emprega diretamente 5 mil pessoas e outras 20
mil indiretamente. Ele reconheceu que os problemas ambientais
existem, mas garantiu que eles estão sendo geridos a contento.
O presidente da Associação Comercial e Industrial
de Sete Lagoas, Franco Labatte, criticou o poder público na omissão
no sentido de construir uma cultura ambiental na sociedade e
defendeu a participação efetiva da população na busca da
sustentabilidade ambiental.
Já o presidente da Câmara Municipal de Sete Lagoas,
Gilmar Rodrigues da Silveira, pediu que as empresas mineradoras
cumpram as normas no que diz respeito ao meio ambiente. "Queremos
minimizar os conflitos entre a sociedade e as mineradoras para que
Minas Gerais possa se desenvolver de forma sustentável",
afirmou.
Parlamentares defendem desenvolvimento ambiental
sustentável
Representando o presidente da Assembléia, deputado
Alberto Pinto Coelho (PP), o 1o-vice-presidente, deputado
Doutor Viana (DEM), destacou que o objetivo do Seminário Legislativo
Minas de Minas é buscar, junto a entidades representativas e
setor público, subsídios para a elaboração de uma política minerária
que respeite as diversas características do Estado, tendo em vista a
importância da mineração, especialmente para Sete Lagoas e região.
"Todo o nosso potencial deve ser analisado, do ponto de vista do
aproveitamento econômico e geração de emprego e renda, mas
observando os conceitos da sustentabilidade ambiental", lembrou.
O deputado Fábio Avelar (PSC) destacou a
importância da atividade minerária para o Estado e o desafio de
promover o desenvolvimento observando a preservação ambiental.
"Sentimos falta de uma legislação adequada, atual, uma política
estadual sobre a atividade minerária. E é exatamente isto o que
buscamos com o seminário", acrescentou. Para o deputado Padre João
(PT), o seminário tem sido importante para conhecer a realidade
mineira, os desafios e gargalos. "É uma realidade que deve ser
tratada despida de qualquer preconceito. É o nosso compromisso com a
sociedade atual e a sociedade futura, avançando dentro do conceito
de sustentabilidade", observou.
Constituição - O consultor
da ALMG Júlio Cadaval Bedê destacou números que mostram a
importância da mineração para o Estado, que responde por 44% da
produção mineral do País, sendo 71% de todo o minério de ferro
produzido no Brasil.
Ele destacou as normas previstas na Constituição
Estadual sobre o setor, como execução de um sistema estadual de
gerenciamento de recursos minerários (ainda não regulamentado).
Lembrou que a Constituição determina que o Estado deve olhar de
maneira diferente para os municípios mineradores, para diversificar
sua economia. Para isso exige a instalação de um fundo de exaustão e
assistência aos municípios mineradores, também ainda não
concretizado.
Grupos apresentam propostas e definem
delegados
Na parte da tarde, dois grupos de trabalho se
reuniram para definir as propostas que vão compor um documento
final, que será votado na Plenária Final do Seminário Legislativo,
nos dias 9 a 12 de junho de 2008, em Belo Horizonte. O primeiro
grupo apresentou 21 propostas, entre elas para que seja classificado
o plantio do eucalipto e pinus como "cultivo" e o replantio da mata
nativa como "reflorestamento"; para que a compensação ambiental seja
sugerida pelo município minerador e viabilizada por meio do projeto
de recuperação e plano de controle de impacto ambiental; para melhor
classificar o empreendimento minerário; para elaborar zoneamento
regional; para divulgar a Cfem; para determinar a reserva legal como
condicionante do licenciamento de operação.
Já o grupo 2 apresentou 13 propostas, entre elas a
de estimular a execução do processo de licenciamento ambiental pelas
prefeituras e regulamentar a forma de consórcio municipal para
manutenção de estrutura técnico administrativa do licenciamento e
fiscalização ambiental; de fiscalização prévia das concessões
ambientais; e de estabelecer contribuição, ao município, sobre o
faturamento da indústria de transformação mineral à exportação,
utilizando esses recursos para projetos de desenvolvimento
socioeconômico e ambiental. Também em destaque são as propostas que
criam e instituem consórcios intermunicipais e que pede atenção à
saúde do trabalhador do setor minerário.
Delegados - Os grupos
escolheram os delegados que vão participar da Plenária Final na
ALMG. Pelo grupo 1 virão a Belo Horizonte: Ricardo Lacerda, Rodrigo
Eustáquio Viana Leal, Eloiso Augusto de Barros Araújo, Marcos Gomes
Michels, Jaime Paulino e Sara Sany Silva. Os delegados do grupo 2
são: Rúbia Penido de Souza, Rodrigo Schmidt, Rubens Donizete Gomes,
Stéfano Lanza, Juliana Maria Almeida de Carmo e Marcelo
Dressler.
Mesa - Compuseram a mesa de abertura os
deputados Doutor Viana (DEM), 1o-vice-presidente da ALMG,
representando o presidente Alberto Pinto Coelho (PP); Padre João
(PT); Jayro Lessa (DEM); Fábio Avelar (PSC) e Carlin Moura (PCdoB);
o prefeito e o presidente da Câmara Municipal de Sete Lagoas,
respectivamente, Leone Maciel Fonseca e Gilmar Rodrigues da
Silveira. Além das autoridades citadas, estiveram presentes
representantes dos municípios de Inhaúma, Sete Lagoas, São José da
Lapa, Vespasiano, Presidente Juscelino, Pedro Leopoldo, Belo
Horizonte, Lagoa Santa e Papagaios.
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