Lei que proíbe venda de bebidas nas rodovias é de difícil aplicação

A dificuldade de aplicação da Lei 11.547, de 1994, que proíbe a venda de bebidas alcóolicas em bares e restaurantes l...

06/05/2008 - 00:00
 

Lei que proíbe venda de bebidas nas rodovias é de difícil aplicação

A dificuldade de aplicação da Lei 11.547, de 1994, que proíbe a venda de bebidas alcóolicas em bares e restaurantes localizados nas rodovias estaduais, norteou os debates na reunião conjunta das Comissões de Defesa do Consumidor e do Contribuinte e de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira (6/5/08). A reunião foi solicitada pelo deputado Délio Malheiros (PV) e pela deputada Ana Maria Resende (PSDB) com o objetivo de discutir a regulamentação da lei, sancionada pelo então governador Hélio Garcia.

O deputado Délio Malheiros informou que recebeu a minuta de um decreto do governador para regulamentar a Lei 11.547. No entanto, segundo o parlamentar, o decreto contraria a lei, criando possibilidades de exceção à proibição prevista na lei. "O debate é importante para encontramos alternativas para a regulamentação", explicou.

Para o engenheiro da Diretoria de Operações do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), Flávio Alencar Machado, existem muitas formas de burlar a fiscalização. "É difícil configurar a venda de que trata a lei", explicou. Ele acrescentou que o DER também não tem condições de incluir a fiscalização desses estabelecimentos à sua rotina. "Precisamos de um instrumento jurídico mais específico que facilite o trabalho do DER e da Polícia Militar", defendeu.

O assessor adjunto da Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar, major Adirson Barbosa do Prado, acredita que a regulamentação da lei terá impacto positivo, mas também destacou a dificuldade de operacionalização da medida. Ele comemorou a aquisição de bafômetros pelo DER para a PM. "Com o equipamento podemos atuar no ponto central do problema, que é a identificação do motorista embriagado", afirmou. Ele comentou ainda que a Medida Provisória 415, que atribuiu à Polícia Rodoviária Federal a fiscalização da venda de bebidas alcóolicas nas rodovias sob jurisdição do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), desviou pessoal e possivelmente prejudicou as outras fiscalizações que são feitas pelo órgão.

O primeiro a falar claramente da necessidade da mudança de cultura quanto ao uso do álcool e a direção de veículo automotor foi o cirurgião geral e do trauma do Hospital Odilon Behrens, João Batista Rodrigues Júnior. Na opinião dele, embora a lei não resolva todos os problemas, as proibições são importantes. O médico citou o caso do Mineirão, dos postos de gasolina e, agora, dos bares e restaurantes das rodovias. Ele informou que os exames de alcoolemia feitos com vítimas fatais apontam que 60% delas fizeram uso de bebidas alcóolicas. O perito especialista em Trânsito, Paulo Ademar, questionou os participantes da reunião: "Será que devemos nos solidarizar com os comerciantes que se sentem prejudicados com a legislação ou pensar que estamos construindo uma história futura?"

Especialistas defendem campanhas educativas

O assessor jurídico da Diretoria de Operações do DER, Fernando Antônio Silveira Rodrigues, defendeu a realização de campanhas sistemáticas de conscientização da sociedade para a responsabilidade no trânsito. "É importante alertar os motoristas para os danos que eles podem causar não só a eles mesmos, mas aos outros", afirmou. A diretora do Centro Mineiro de Toxicomania da Secretaria de Estado da Saúde, Raquel Martins Pinheiro, também defende o investimento em educação continuada. "O desafio é formar uma geração mais consciente e responsável consigo e com os outros", acrescentou. Para ela, se isso não for feito, em algum tempo haverá mais fiscais que usuários.

Os deputados Carlos Pimenta (PDT), Célio Moreira (PSDB) e Antônio Júlio (PMDB) também defenderam a realização de campanhas contra a combinação álcool e direção. Pimenta defendeu mais rigor nas punições e ainda a revitalização do DER, com a redefinição de suas atribuições, a abertura de concurso público e a modernização da estrutura. O deputado Célio Moreira também manifestou seu receio de que a lei não seja cumprida. "O governo tem que estar preparado para atender as demandas por fiscalização", afirmou.

"Quando o governo não tem condições de fiscalizar, proíbe", afirmou o deputado Antônio Júlio. Na opinião dele, o Código Brasileiro de Trânsito já teria mecanismos suficientes para normatizar o uso de álcool por motoristas, não havendo necessidade de uma nova legislação. "É preciso mudar a consciência", defendeu. O deputado Délio Malheiros disse que luta há anos para que parte dos recursos do DPVAT, o seguro obrigatório, sejam direcionados para os hospitais públicos.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente da Comissão de Defesa do Consumidor; Carlos Pimenta (PDT), vice; Antônio Júlio (PMDB) e Célio Moreira (PSDB). Além dos convidados citados na matéria, participaram da reunião o sub-comandante da Companhia de Polícia Rodoviária, capitão Agnaldo Lima de Barros; a delegada da Polícia Civil, Jacqueline de Oliveira Ferraz; a delegada da Delegacia de Defesa do Consumidor, Adriana Veloso Ferraz e o capitão Aílton Cirilo, da Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito da PM.

 

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