Técnicos do Executivo criticam proposta de reforma tributária

Em sua primeira reunião com convidados, nesta quarta-feira (30/4/08), a Comissão Especial da Reforma Tributária da As...

30/04/2008 - 00:00
 

Técnicos do Executivo criticam proposta de reforma tributária

Em sua primeira reunião com convidados, nesta quarta-feira (30/4/08), a Comissão Especial da Reforma Tributária da Assembléia Legislativa de Minas Gerais ouviu representantes do Executivo estadual sobre a proposta de reforma que tramita no Congresso (PEC 233/08), apresentada pelo governo Lula. O coordenador de Política Tributária da Secretaria de Estado de Fazenda (SEF), Ricardo Luiz Oliveira de Souza, fez várias críticas à proposta e, em particular, ao novo ICMS. Ele avaliou que haverá dificuldades para implantar o princípio do destino na cobrança do imposto; criticou a redução do prazo para apropriação de créditos dos ativos permanentes; e classificou de ofensa ao pacto federativo o fato de os Legislativos estaduais não poderem mais legislar sobre o imposto.

Um número foi apresentado por Souza para demonstrar os prejuízos aos cofres do Estado, caso a proposta de reforma tributária seja aprovada na forma apresentada. Segundo ele, a redução de 48 para oito meses no prazo para apropriação de créditos dos ativos permanentes representará uma perda de R$ 2,2 bilhões ao final de oito anos. A proposta em debate no Congresso determina que o novo ICMS entrará em vigor no 8º ano subseqüente à promulgação da futura Emenda Constitucional, mas os sete anos anteriores são considerados como período de transição. Para o técnico da SEF, é insuficiente o aporte de recursos aos fundos a serem criados para compensar as perdas com a nova regra de tributação no destino. Ele lembrou que Minas tem perfil industrial e de venda de produtos e serviços para outros Estados da Federação.

Deputados opinam - O presidente da comissão especial, deputado Sebastião Helvécio (PDT), disse que os deputados querem conhecer em profundidade a repercussão da proposta de reforma tributária. "Ela muda a vida dos cidadãos e agride a simetria federativa do Brasil. É importante a Assembléia de Minas mobilizar não apenas as representações políticas e empresariais, mas também a sociedade. Queremos formatar uma proposta dos Legislativos estaduais com relação à reforma tributária do Brasil", avaliou o deputado. Segundo ele, na próxima semana a comissão pretende ouvir os representantes de Minas no Congresso Nacional.

O deputado Antônio Júlio (PMDB) reforçou as preocupações do presidente da comissão especial, destacando que não haverá sucesso em uma proposta de reforma tributária que não observe o pacto federativo. Ele defendeu que sejam encaminhadas propostas concretas de mudança do texto em tramitação no Congresso. Já o deputado Jayro Lessa (DEM) indagou de Ricardo Souza e da assessora técnica Sara Costa Félix Teixeira, também da SEF, se a proposta do governo federal realmente reduz impostos e alíquotas. Em resposta, a técnica informou que há, de fato, simplificação dos tributos, mas avaliou que não houve a pretensão de reduzir a carga tributária.

A proposta em tramitação no Congresso cria o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), um imposto federal; extingue PIS/Pasep, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e o Salário-Educação, entre outros pontos.

Quanto à tributação no destino, o governo de Minas sugere que a fiscalização da arrecadação se mantenha na origem. Exemplificando: na operação de venda de eletrodoméstico para o Rio de Janeiro, o ICMS poderia ser arrecadado na saída do produto, em Minas, sob a fiscalização do Estado. Depois as operações que o Rio de Janeiro tivesse arrecadado em favor de Minas seriam compensadas, por meio do mecanismo da Câmara de Compensação - que poderá ser criada por lei complementar.

Lei complementar é que definirá "regras do jogo"; guerra fiscal não está descartada

Em resposta às indagações dos parlamentares, Ricardo de Souza informou que outros itens da proposta de reforma tributária não puderam ser avaliados pelo governo, pois dependem de lei complementar. "É a lei complementar que disciplinará as regras do jogo, ou seja, os critérios que vão reger o novo ICMS", pontuou.

Ainda segundo o técnico do governo, as alíquotas do imposto passarão a ser fixadas pelo Senado, em lei complementar. Em seguida, o Colegiado dos Estados (grupo semelhante ao Conselho de Política Fazendária, o Confaz, que reúne os secretários estaduais de Fazenda) vai propor o enquadramento dos produtos e serviços nas alíquotas. Caberia, então, ao próprio Senado aprovar ou rejeitar essa proposta de enquadramento.

"As Assembléias perdem a prerrogativa de definir as alíquotas, que são um aspecto essencial de qualquer tributo. A própria instituição do tributo deixaria de ser prerrogativa dos Legislativos estaduais. Essa é uma nítida anomalia, uma violação da autonomia federativa, retirando-se das Assembléias o poder que hoje têm", ressaltou Souza em entrevista à imprensa após a reunião. Caberia aos Legislativos dos Estados apenas aumentar ou reduzir alíquotas em alguns casos. E isto apenas depois que lei complementar definisse quais produtos e serviços seriam passíveis de terem alíquotas alteradas em nível estadual.

Guerra fiscal - O assessor da SEF avalia que a proposta do Governo Federal não acaba com o risco de guerra fiscal entre os Estados da Federação. Isto porque caberá ao Colegiado dos Estados a regulamentação única dos benefícios fiscais, mas não está vedada a concessão de incentivos, via orçamento estadual. "Ainda se vislumbra a possibilidade de guerra fiscal, principalmente na transição do modelo de cobrança na origem para o destino", analisou Ricardo Souza.

Ele também opinou como lacuna da proposta em tramitação no Congresso não tratar do diferimento - que historicamente não tem sido considerado benefício fiscal, mas sim técnica de tributação que apenas adia o momento em que deverá ser recolhido o imposto referente a determinada operação. "No entanto, quando o diferimento é utilizado sobre a importação de produtos, pode-se ter, na prática, características típicas de benefício fiscal, o que não foi considerado na proposta do governo", avaliou, em entrevista à imprensa. Desta forma, abre-se a possibilidade da guerra fiscal no tocante ao ICMS que incidirá na importação de produtos.

Presenças - Deputados Sebastião Helvécio (PDT), presidente; Antônio Júlio (PMDB), Jayro Lessa (DEM), Lafayette de Andrada (PSDB) e deputada Elisa Costa (PT).

 

 

 

 

 

 

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