Especialistas acusam elevado número de acidentes de trabalho

"O que está ocorrendo é uma transferência de risco. Quem morre hoje são terceirizados, informais e crianças", denunci...

28/04/2008 - 00:00
 

Especialistas acusam elevado número de acidentes de trabalho

"O que está ocorrendo é uma transferência de risco. Quem morre hoje são terceirizados, informais e crianças", denunciou a chefe do Centro Regional de Minas Gerais (Fundacentro), Marta de Freitas, durante reunião conjunta das Comissões de Direitos Humanos e do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta segunda-feira (28/4/08). A reunião marcou a passagem do Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho e também foi uma oportunidade de lembrar o assassinato de três auditores fiscais e de um motorista da Delegacia Regional do Trabalho em 28 de janeiro de 2007, em Unaí. "Mais que festa, temos lutos, tristeza e desafios a serem enfrentados", disse o deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos.

O dia 28 de abril foi escolhido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) há cinco anos como o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. Nacionalmente, essa data foi estipulada pela Lei 11.121, de 2005. Solicitado por Durval Ângelo, o encontro teve a presença de representantes de vários setores e, na platéia, de membros de sindicatos de várias classes, como a dos eletricitários (Sindieletro) e a dos metalúrgicos (Sindmetal).

Segundo o auditor fiscal do trabalho Airton Marinho, 10% dos acidentes fatais do Brasil ocorrem em Minas Gerais. O número de mortos por ano em acidentes de trabalho no País ronda a casa dos 3.000, segundo o Ministério da Previdência Social. Dados da OIT mostram que 270 milhões de trabalhadores sofrem lesões graves ou letais no mundo a cada ano. Dois milhões morrem, o que representa três óbitos por minuto. Em cifras, esses acidentes representam uma perda de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. "O Brasil é o quarto colocado no mundo em número de acidentes", informou. Transporte, construção civil, comércio e fabricação e comercialização de veículos são, nessa ordem, os setores com maior número de acidentes.

Marinho disse que Minas Gerais teve 1.800 acidentados a menos, e destacou a atuação do Ministério do Trabalho nesse sentido. Marta de Freitas chamou a atenção para o fato de, nos dados oficiais, os acidentes estarem diminuindo, enquanto que o número de mortes está aumentando. "O cálculo da razão entre o número de acidentes e o número de mortes no Brasil chega a quase sete, enquanto na Finlândia é de 1,4. Um trabalhador brasileiro tem muito mais chance de morrer, e Minas Gerais está acima da média", afirmou.

Para o procurador do trabalho Antônio Carlos Oliveira Pereira, é preciso uma reflexão mais profunda sobre o tema. "O problema não é só do João, do José, do Pedro", disse, lembrando que os afastamentos e aposentadorias são pagos por todos os cidadãos. Ele considera um equívoco a preferência a casos individuais em detrimento de ações mais globais contra empresas. "Esbarramos nessa questão judicial", falou, argumentando que se uma ação contra determinada empresa é julgada, são maiores as chances de adequação e de conseqüente ocorrência de menos acidentes.

A necessidade de investimento nos profissionais de segurança do trabalho para a diminuição dos casos de morte e afastamento foi enfatizada pelo diretor jurídico da Associação Mineira de Engenharia de Segurança do Trabalho, Marcelo Giordano Garios, e pelo diretor da Federação de Técnicos de Segurança do Trabalho, Cláudio Ferreira Santos.

Secretário enviou ofício informando alteração em prol da segurança do trabalho

Durval Ângelo contou, no início da reunião, que o secretário de Estado de Transporte e Obras Públicas, Fuad Noman, encaminhou ofício informando que a administração direta vai começar a colocar, nas licitações públicas, a exigência da Norma Regulamentadora (NR) 18, do Ministério do Trabalho. A NR 18 trata da segurança dos trabalhadores da construção civil e traz 42 itens, selecionados por representantes do governo, das entidades patronais e dos trabalhadores, que precisam ser seguidos em todas as obras. "Essa é uma boa notícia provocada em função de processo iniciado pelo deputado João Leite (PSDB)", comentou Durval, lembrando a realização de audiência no final de 2007 sobre acidentes de trabalho na construção civil.

Cemig - O presidente da Comissão de Direitos Humanos manifestou seu "repúdio veemente" contra a diretoria da Cemig, que segundo ele está agindo sistematicamente de forma autoritária. "É bom que o Ministério Público saiba disso", falou. O desabafo veio depois de várias falas de representantes do Sindieletro, que continuam acusando a empresa de perseguir o sindicato e de não dialogar com os funcionários. O coordenador-geral do Sindieletro, Willian Vagner Moreira, denunciou a punição de 14 trabalhadores, que foram suspensos por 15 dias, segundo ele, depois de participar de reunião na Assembléia sobre as condições de trabalho na Cemig. "Mais uma vez estamos recorrendo ao Legislativo, já que a direção é autoritária e só busca o lucro", disse Willian.

De acordo com o diretor, a cada 47 dias ocorre um acidente fatal na empresa. "O número antes era de uma morte a cada 18 meses", falou. Durante a fase de debates, o ex-diretor do Sindieletro, Marcelo Correia, reforçou a denúncia e propôs a retomada de um grupo de trabalho com representantes da Fundacentro e do Ministério Público, entre outros, sugestão que Durval Ângelo considerou muito positiva. No dia 13 de maio, às 16 horas, o tema segurança do trabalho será retomado em audiência com a participação de médicos peritos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente; e entre os convidados, além dos citados acima, a supervisora do Departamento de Segurança do Serviço Social da Indústria da Construção Civil do Estado de Minas Gerais, Andreia Kaucher Darmstadter; e o diretor parlamentar do sindicado dos policiais da Polícia Rodoviária Federal, Milton Afonso Alvarenga.

 

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