Para movimento negro, igualdade racial enfrenta resistência da elite

O projeto de lei federal que cria o Estatuto da Igualdade Racial se arrasta no Congresso Nacional há quase dez anos, ...

24/04/2008 - 00:00
 

Para movimento negro, igualdade racial enfrenta resistência da elite

O projeto de lei federal que cria o Estatuto da Igualdade Racial se arrasta no Congresso Nacional há quase dez anos, e a demora na sua aprovação se deve ao fato de que alguns privilégios da elite brasileira vão ser reduzidos. Essa foi a opinião unânime dos participantes da audiência pública sobre o tema que a Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou nesta quinta-feira (24/4/08).

A reunião foi requerida pela deputada Elisa Costa (PT). Segundo ela, o estatuto é o reconhecimento da dívida social que o Brasil tem com os negros, mas alguns pontos considerados polêmicos emperram sua tramitação. Entre esses pontos estão a demarcação das terras quilombolas, o direito ao livre exercício de religiões afro-brasileiras e as cotas para negros nas universidades públicas.

Apesar disso, o relator do projeto na Câmara dos Deputados, Antônio Roberto (PV-MG), acredita na aprovação da matéria ainda neste ano. "O estatuto é a segunda abolição da escravatura", classificou o deputado federal, que afirmou ainda que a questão da igualdade racial diz respeito a todos os que acreditam na dignidade e no direito de inserção social das pessoas.

O Projeto de Lei 6.264/05, do senador Paulo Paim (PT-RJ), determina que o poder público deve garantir, além das providências citadas pela deputada Elisa Costa, a participação de atores negros em produções artísticas, atendimento integral no Sistema Único de Saúde e cotas para trabalhadores negros em concursos públicos. A proposição foi apresentada em 1999 pelo então senador José Sarney e arquivada em 2002. Paulo Paim a reapresentou em 2003 e ela foi aprovada pelo Senado em 2005. Desde então, tramita na Câmara dos Deputados.

Alterar a composição da pirâmide social é desafio

O presidente da comissão, deputado André Quintão (PT), destacou que a pirâmide social no Brasil reflete a desigualdade entre brancos e negros, e que a promoção de um tratamento digno a todos, independente de sexo, credo ou raça, é um grande desafio a ser vencido. Na mesma linha de raciocínio, o deputado Carlin Moura (PCdoB) apontou a política de cotas para negros como uma política pública importante na busca da igualdade racial.

Vários representantes de movimentos populares se pronunciaram destacando a importância da aprovação do estatuto. Segundo a coordenadora do Fórum Intergovernamental de Promoção de Igualdade Racial da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Maria do Carmo Ferreira da Silva, não é possível fazer de conta que o racismo não existe no Brasil. "Um dos crimes que o País vem respondendo junto à Organização das Nações Unidas é exatamente o de racismo", lembrou ela.

O tom pessimista foi dado pelo mestre de capoeira Edson Moreira da Silva, o Mestre Primo. Para ele, um país que é racista há mais de 500 anos não vai deixar de sê-lo com a aprovação do estatuto. "Estamos sozinhos", resumiu ele.

No final da reunião, dezenas de pessoas fizeram uso do microfone para relatar casos de racismo e reivindicar melhorias nas condições dos negros brasileiros.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), presidente; Eros Biondini (PHS), vice; Carlin Moura (PCdoB) e deputada Elisa Costa (PT). Participaram ainda a coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileiro (Cenarab), Makota Célia Gonçalves Souza; a coordenadora Municipal para Assuntos da Comunidade Negra (Comacon), Maria das Graças Rodrigues Sabóia; o presidente regional da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), Marco Antônio de Jesus; o presidente do Conselho de Participação e Integração da Comunidade Negra, Williman Hestefany da Silva; e o vereador Paulão, de Belo Horizonte.

 

 

 

 

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