Deputados investigam invasão policial no campus da
UFMG
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais deslocou-se na tarde desta terça-feira
(23/4/08) para o campus da UFMG na Pampulha para uma visita
ao reitor Ronaldo Pena e à vice-reitora Heloísa Starling, O objetivo
dos deputados era inteirar-se do andamento das apurações do conflito
entre estudantes e policiais militares ocorrido na noite do último
dia 3 de abril, no prédio do Instituto de Geociências (IGC), do qual
resultaram ferimentos em dois estudantes a detenção de um terceiro
durante horas numa viatura.
A visita dos deputados Durval Ângelo (PT),
presidente, João Leite (PSDB) e Carlin Moura (PCdoB) teve o reforço
do delegado titular da 16ª Delegacia Distrital de Polícia Civil,
Hélcio Sá Bernardes, que adiantou a apuração, em seu inquérito, de
que a convocação do Batalhão de Eventos da Polícia Militar foi feita
por um dos cavalarianos da própria PM que fazem ronda de segurança
no campus, e não por funcionários ou dirigentes da UFMG, como
se supunha.
Os deputados apuraram o conflito através dos vários
depoimentos. Durante a tarde do dia 3 de abril, os estudantes
anunciaram a exibição do filme Grass Maconha, que seria um
documentário da revista Superinteressante a respeito da droga
popular entre os jovens. A diretora do IGC, Cristina Augustin,
proibiu a exibição do filme e do debate que se seguiria. Quando os
estudantes insistiram em desafiar a proibição, Augustin ligou para a
vice-reitora Starling e solicitou reforço de segurança. Starling
determinou que a segurança desarmada da UFMG se dirigisse para o
local, mas disse que ficou apreensiva quando viu um helicóptero
policial sobrevoando a área.
O comandante da operação militar disse à imprensa,
na ocasião, que o batalhão foi acionado porque os estudantes estavam
tentando exibir um filme contendo apologia do uso de drogas, o que
seria ilegal. Cerca de cem estudantes entraram em conflito com 30
policiais, incluindo os dois cavalarianos que, mediante um convênio
celebrado há 12 anos entre a UFMG e a PM, fazem segurança dentro do
campus.
O deputado João Leite questionou os termos desse
convênio e sugeriu uma revisão de seus termos, para modificar o
conceito de ordem e preservar a autonomia universitária. O deputado
Durval Ângelo alertou para a gravidade da proibição do acesso à
informação e do debate dentro da instituição de ensino.
"A universidade tem o dever de fazer avançar o
pensamento e não se pode proibir o debate aqui dentro. O pior é a
autorização da entrada violenta da Polícia Militar, ferindo não só
os alunos, mas também a autonomia universitária. Lamentamos a
violência policial que deixou dois feridos. A PM tem que dialogar e
conversar com a população", disse ele. O deputado observou ainda que
os policiais estavam sem a tarjeta de identificação, o que é
proibido por seu estatuto.
A dúvida que perdurava para o deputado Carlin Moura
era identificar quem teria chamado a PM, já que as autoridades do
campus sabem que a entrada da polícia no recinto
universitário não foi autorizada pela Reitoria sequer nos períodos
mais graves da ditadura. Funcionários da UFMG sabem disso e sempre
se reportam a seus superiores imediatos. O delegado Bernardes
esclareceu que foi um dos cavalarianos quem chamou reforço na
companhia da PM que fazia segurança do Axé Brasil no estádio
Mineirão, próximo ao campus.
O reitor Ronaldo Pena disse que constituiu uma
comissão presidida pelo decano do Conselho Universitário, José
Alberto Magno de Carvalho, diretor da Faculdade de Ciências
Econômicas. A comissão tem três docentes, dois universitários e um
funcionário da universidade. O deputado Durval Ângelo considerou que
o episódio está sendo apurado com seriedade.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; Carlin Moura (PCdoB) e João Leite
(PSDB).
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