Participantes do Minas de Minas em Itabira defendem aumento da Cfem

Trabalhadores da indústria extrativista, ambientalistas e representantes das cidades mineradoras afinaram o discurso ...

23/04/2008 - 00:04
 

Participantes do Minas de Minas em Itabira defendem aumento da Cfem

Trabalhadores da indústria extrativista, ambientalistas e representantes das cidades mineradoras afinaram o discurso na primeira etapa regional do Seminário Minas de Minas, realizado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Em Itabira, nesta quarta-feira (23/04/08), eles saíram em defesa de uma atividade econômica sustentável, pautada pela preservação do meio ambiente, e do aumento no repasse da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), uma espécie de royalty pago aos municípios em áreas de mineração.

O prefeito de Itabira, cidade com maior produção de minério de ferro no Estado, João Izael Querino Coelho, pediu ajuda dos deputados para que intervenham junto ao Governo Federal para que a alíquota seja revista. "Por que os municípios ficam com tão pouco? No Estado do Rio de Janeiro, as cidades produtoras de petróleo lucram muito mais. Há uma disparidade muito grande. O minério, assim como o petróleo, é um recurso finito", lamentou.

Segundo a legislação atual, os municípios mineradores recebem a título de Cfem 2% do faturamento líquido. A Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig) reivindica reajuste para 4% do faturamento bruto.

O prefeito criticou ainda o Projeto de Lei do ICMS Solidário, em tramitação na Assembléia Legislativa, que diminui a arrecadação das cidades com atividades de extração mineral. "Não é justo que as cidades mineradoras sejam penalizadas. Não sou contra o projeto. De fato, há regiões pobres que precisam de melhorias na arrecadação, mas é preciso encontrar uma alternativa mais viável", apelou.

O deputado Ronaldo Magalhães (PSDB), que representou o presidente da ALMG, Alberto Pinto Coelho (PP), no evento, também se queixou do ICMS Solidário e defendeu uma alternativa para que cidades como Itabira não percam tanto.

Cobranças - O deputado Carlin Moura (PCdoB), por sua vez, cobrou das empresas mineradoras mais investimentos na área social. "O minério acaba, mas a vida continua. O que será destas cidades? É preciso pôr o dedo na ferida. Minas tem que levantar a voz e dizer: é muito pouco".

A deputada Elisa Costa (PT) lembrou a importância do seminário, já que o tema "reflete a essência da história de Minas Gerais". Ela também defendeu o aumento dos royalties e cobrou ações sociais da Vale. "A exploração tem que trazer desenvolvimento para todos, não somente para as empresas, mas para a coletividade e até para as gerações futuras", completou.

Já o deputado Padre João (PT) alertou para a existência de cidades mineiras com produção mineral estagnada e criticou os empreendedores que apenas extraem a matéria-prima sem agregar valor. "Responsabilidade social não é apenas distribuir migalhas. Fico indignado com a passividade da população", acrescentou.

Salários - O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos de Iabira, Paulo Soares de Souza, lembrou que hoje o minério virou ouro. "Não tem nada no mundo que dê mais lucro que o setor mineral. Este é o momento de chamar as empresas e cobrar compromisso maior nas áreas social e ambiental. É impossível minerar sem agredir. É impossível minerar sem água. E o minério vai diminuindo, e quando diminui, fica mais caro explorar. A questão ambiental é muito séria, por isso é hora de fechar o cerco", cobrou.

Paulo também reclamou da grande quantidade de trabalhadores terceirizados e dos baixos salários pagos. Segundo ele, a maioria ganha salário mínimo.

Defesa - O engenheiro e representante da Vale, Antônio Daher Padovezzi, gerente-geral das minas do Complexo de Itabira, pediu que os participantes tirassem a "venda dos olhos" e reconhecessem que todos querem o minério de ferro, "mas antes é preciso extraí-lo e assumir as conseqüências".

Ele rebateu as críticas em relação a terceirizações. Segundo Daher, apenas 35% dos trabalhadores da Vale são terceirizados. "A Vale gera hoje 6.500 empregos diretos em Itabira, e o salário médio é de R$ 1.800. Até 2012, a empresa pretende investir R$ 15,5 bilhões na região do Quadrilátero Ferrífero", completou.

O representante da empresa destacou ainda a atuação da companhia em projetos sociais e educacionais desenvolvidos na região, como a instalação de um campus da Unifei em Itabira, a concessão de 1.200 bolsas de estudos aos funcionários e programas de capacitação técnica e alfabetização.

Riquezas - Participaram da primeira etapa regional do Minas de Minas representantes de dez municípios e 23 entidades. Itabira, com 105 mil habitantes, foi escolhida para abrir o evento por ser a que mais arrecada Cfem.

É também o berço da Companhia Vale do Rio Doce, uma das gigantes mundiais do setor, fundada em 1940. Ali, a empresa mantém a maior mina a céu aberto de minério de ferro do mundo, cujas reservas são suficientes para mais 75 anos de extração. A mineração rende uma receita de aproximadamente R$ 150 milhões anuais, 75% da arrecadação total do município. Em Itabira está a maior jazida de esmeralda do Brasil, de propriedade da Belmont Mineradora.

Grupos de trabalho apresentam propostas

Os dois grandes grupos de trabalho da primeira etapa regional do Seminário Minas de Minas em Itabira apresentaram 31 propostas para serem discutidas e votadas na etapa final, em Belo Horizonte, de 9 a 12 de junho. Também na tarde desta quarta-feira (23), foram escolhidos 12 delegados, que terão direito a voz e voto na plenária de BH, de onde sairá o documento definitivo do seminário. No total serão 132 delegados, representantes de entidades e sociedade civil organizada.

Entre as propostas aprovadas pelo Grupo 1, com o tema "Sustentabilidade da mineração em Minas Gerais", estão:

* Criação de mecanismo para que a mineradora invista um percentual mínimo em ações de revitalização de nascentes;

* Exigência de que a Vale do Rio Doce reafirme o compromisso que tinha ainda quando empresa estatal de investir no social;

* Fortalecimento de entidades municipais, como os conselhos de Meio Ambiente (Codemas);

* Exigência de participação pública, ouvindo a comunidade, no processo de liberação de licença prévia.

Propostas do Grupo 2 - "O sistema federativo e a legislação sobre mineração":

* Revisão da legislação da Cfem para repasse de 100% da arrecadação aos municípios e equiparação da alíquota à dos royalties do petróleo;

* Perda da concessão da lavra caso a empresa não cumpra normas ambientais, sociais e trabalhistas;

* Criação de mecanismo legal para impedir mineradoras de fazer doações a campanhas políticas.

Delegados eleitos

No encontro regional de Itabira foram eleitos 12 delegados que vão representar a região na etapa final do Seminário Legislativo Minas de Minas, que será realizada de 9 a 12 de junho, na Assembléia Legislativa. São eles:

- Pela sociedade civil: Wegton José Alvarenga Silva, William Gorino Madeira, Valteir Pereira Rosa Silva, Wallacy Machado, João Victor dos Santos, Fabrício Salomé de Oliveira, Hélio Martins da Silva, Carlos Roberto Reis Ferreira (Metabase), Francisco Couto dos Santos Júnior (Associação de Desenvolvimento Sustentável de Barão de Cocais), Eunice Florência dos Santos (Associação de Desenvolvimento Sustentável de São Gonçalo do Rio Abaixo), Efraim Gomes de Moura (Sindicato dos Metalúrgicos de Itabira)

- Pelo poder público: Eber Lúcio da Fonseca.

 

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