Programa Luz para Todos deve ser reativado nas próximas semanas

O programa de eletrificação Luz para Todos, do Governo Federal, será reativado em breve em Minas Gerais, após uma par...

02/04/2008 - 00:02
 

Programa Luz para Todos deve ser reativado nas próximas semanas

O programa de eletrificação Luz para Todos, do Governo Federal, será reativado em breve em Minas Gerais, após uma paralisação de quase um ano. Representantes da Cemig e do Governo Federal asseguraram - durante audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa de Minas Gerais na tarde desta quarta-feira (2/4/08) - que a renegociação iniciada no final de 2007 entre o presidente Lula e o governador Aécio Neves está concluída e que os editais de licitação para a nova etapa do programa devem ser lançados nas duas próximas semanas. Em Minas há mais 100 mil inscrições para ligações no meio rural.

A audiência foi realizada a requerimento do deputado Almir Paraca (PT), que representa uma das regiões menos contempladas pelo programa, que é o Noroeste de Minas. Paraca levantou a suspeita de que haveria problema político para a renovação do contrato com a Cemig, "já que as outras concessionárias renovaram sem problema", e estranhou que o prejuízo alcançasse justamente as regiões geográficas contempladas pelos quatro Territórios da Cidadania de Minas definidos em programa do Governo Federal: o Noroeste, o Norte, o Mucuri e o Jequitinhonha.

Ricardo Charbel e Higino Zacarias de Souza, da Cemig, negaram que houvesse entrave político. Para eles, o Governo Federal demorou até o final de 2007 para definir os desembolsos a fundo perdido nos moldes da etapa vencida, e só então a renegociação prosperou. Eles informaram que a questão com as outras três concessionárias - Cataguases-Leopoldina, Mococa e Bragantino - é muito mais fácil de resolver, porque elas cobrem em conjunto apenas 80 dos 853 municípios mineiros, ficando 773 na área da Cemig. Argumentaram ainda que as grandes distâncias entre as propriedades dispersas no Norte e no Noroeste aumentam muito o custo das ligações, que é negociado com a Eletrobrás em cerca de R$ 7 mil por propriedade.

Minas já realizou quase o dobro da meta inicial

Os expositores citaram vários dados sobre o desempenho do programa no Brasil, distinguindo o Luz para Todos do programa de universalização do atendimento energético. São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo deverão atingir, no final do ano, 100% de suas unidades habitacionais atendidas. No entanto, os representantes da Cemig contrapuseram que a tarefa para essa concessionária é gigantesca, e que Minas já realizou 205 mil ligações, mais da metade do desempenho do programa na região Sudeste e Goiás.

Vilson Luiz da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), alertou que a eletrificação é fundamental para a permanência do homem no campo. "Luz não é só para alumiar, mas para ajudar na produção. Se não tiver luz na sua roça, a família põe as tralhas num caminhãozinho e vai para a cidade piorar a situação de segurança e aumentar os problemas para o governo. Quem foi beneficiado com a energia já está até vendendo produtos para o exterior. Por isso temos que chiar se a coisa não está andando bem", afirmou.

Marcílio de Sousa Magalhães, coordenador estadual do programa, disse que o Luz para Todos surgiu logo depois do apagão e foi lançado em 11 de novembro de 2003, com metas muito modestas baseadas num levantamento subestimado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Minas foram previstas apenas 105 mil ligações. O orçamento inicial do programa era de R$ 7 bilhões para 2 milhões de atendimentos. "Até ontem foram gastos R$ 4,95 bilhões, de recursos da conta de desenvolvimento energético", informou.

Falta de dotação orçamentária preocupa técnico

Marcílio Magalhães mostrou a imensa área geográfica a cargo da Cemig, a área menor da Cataguases-Leopoldina, os escassos municípios do extremo Sul e do Sudoeste atendidos pela Bragantino e pela Mococa, e a exceção da cidade de Poços de Caldas, que tem companhia energética própria e há anos já universalizou o atendimento. Ele manifestou sua preocupação com a falta de dotação orçamentária para os 5% de contrapartida do governo na próxima etapa do programa, estimados em R$ 10,5 milhões.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) disse que remanejar esse recurso para deslanchar o programa não é problema algum para o governo, e que o governador Aécio Neves pode contar com a Assembléia para agilizar o que for necessário. O deputado manifestou preocupação com 37 mil ligações que ainda ficariam "no limbo", sem perspectivas imediatas de atendimento.

Inúmeras pessoas presentes na platéia foram ao microfone para manifestar insatisfações com o atendimento ou para denunciar privilégios ou distorções na ação das empreiteiras. A denúncia mais contundente foi do vice-prefeito de Ouro Preto, Renato Figueiredo, que disse que o município tem o dobro da área de Belo Horizonte, 12 distritos, um deles com 27 povoados, e que ali foram cadastradas 361 famílias, das quais apenas 50 foram atendidas.

Cerca de 40 pessoas vieram de Congonhas, insatisfeitas com a paralisação do programa. Também foram exibidas matérias de TV que mostravam o atraso do Luz para Todos na localidade de Grota da Angola, no município de Ipaba.

Deputado cobra transparência

O deputado Padre João (PT) cobrou que a Cemig forneça oficialmente a relação de empreiteiras que prestaram serviços no programa. Ele lembrou suspeita que teria sido levantada pelo deputado Irani Barbosa (PSDB) de que as empreiteiras estariam sendo usadas para desviar recursos para campanhas. O diretor da Cemig, Paulo Menicucci, disse estar espantado com as suspeitas, e garantiu que o governador Aécio Neves seria informado e que providências serão tomadas para esclarecer tudo.

Padre João também criticou a meta de realizar 55 mil ligações no prazo de um ano após a assinatura do próximo contrato, principalmente considerando-se que a demanda atual já é de 92 mil ligações. "Estou mais angustiado do que antes dessa reunião", afirmou o parlamentar. Ele cobrou um esforço maior da Cemig. "A empresa pode fazer mais. Ela acabou de adquirir a Light, do Rio", afirmou.

O deputado Antônio Carlos Arantes (PSC) afirmou que há sempre espertos que tentam passar para trás famílias que não têm capacidade de mobilização. Ele defendeu que seja priorizado, para as próximas ligações, o primeiro cadastro realizado em Minas. "Sei o que é viver sem energia. Morei 20 anos no campo, sem energia", afirmou.

Denúncias de corrupção e favorecimento político

Marcílio Magalhães comentou as denúncias de favorecimento político e de corrupção levantadas pela platéia. Segundo ele, a Cemig apurou vários casos de favorecimento e chegou a mandar arrancar os postes já instalados. Minimizou os casos de corrupção, que seriam apenas pedidos de propinas de R$ 300 para agilizar o atendimento, ou uma galinha ou um leitão. "Infelizmente não conseguimos ficar de olho em cima de todos os prestadores de serviços", lamentou.

Ele sugeriu que a Cemig publicasse em sua página a lista dos 55 mil beneficiários da próxima etapa do Luz para Todos, para tranquilizar quem está na espera e evitar que candidatos nas próximas eleições façam uso político da lista.

Já a denúncia de superfaturamento apresentada por Padre João foi negada por Higino Souza. Segundo ele, o custo de ligação da Cataguases-Leopoldina é menor porque atende municípios pequenos, com grande número de minifúndios. "Ás vezes basta um poste para atender uma família. No Noroeste, são grandes as distâncias, às vezes superiores a um quilômetro entre domicílios. Isso aumenta o custo para R$ 10 mil ou mais. A Eletrobrás conhece perfeitamente a questão. Não há motivo para estranhar que os valores sejam maiores", esclareceu.

Coordenador defende prioridade para Territórios da Cidadania

Edson Rezende, coordenador regional do programa, disse que é preciso reconhecer que o Governo de Minas, através da Cemig, coloca dinheiro no programa sem a dificuldade de estados como São Paulo e Rio. Respondendo ao vice-prefeito de Ouro Preto, pediu compreensão para a prioridade dada aos Territórios da Cidadania, já que lhes falta tudo, não só energia.

A proposta de Edson Rezende é de que a Cemig amplie sua proposta de atendimento, cobrindo toda a demanda de 90 mil ligações. Almir Paraca também considera que a empresa pode fazer mais, já que conseguiu atender 104.861 famílias em 2004. "Por que só 55 mil? Por que a empresa recolheu o contrato de 75 mil e reduziu a meta? Por que interrompeu por quase um ano o contrato, desmobilizando empreiteiras e as obrigando a recolher seus parques de material? Infelizmente, a leitura que temos que fazer é essa", questionou Paraca. O deputado denunciou o avanço da companhia energética de Goiás, a Celg, em território mineiro, onde o último ponto da Cemig está muito distante da fronteira, e pediu um esforço para que não haja nova interrupção do Luz para Todos.

O presidente da Comissão, deputado Weliton Prado, propôs uma visita ao presidente da Cemig, Djalma Morais, para conseguir o atendimento a todos os que não tem luz e prevenir futuras interrupções no programa. "Esta é a sétima audiência que realizamos para tratar do Luz para Todos. Parece uma novela que não tem fim", criticou.

Presenças - Deputados Weliton Prado (PT), presidente; Ronaldo Magalhães (PSDB), vice; Padre João (PT), Wander Borges (PSB), Antônio Carlos Arantes (PSC), Carlos Pimenta (PDT), Délio Malheiros (PV), Inácio Franco (PV) e Almir Paraca (PT).

 

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