Novos procedimentos médicos podem aumentar preço de plano de saúde

Os impactos financeiros das novas coberturas médicas previstas na resolução normativa da Agência Nacional de Saúde Su...

02/04/2008 - 00:00
 

Novos procedimentos médicos podem aumentar preço de plano de saúde

Os impactos financeiros das novas coberturas médicas previstas na resolução normativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que entraram em vigor nesta quarta-feira (2/4/08), foram o principal foco da audiência pública realizada pela Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta (2). Os deputados debateram a ampliação das coberturas previstas na Lei 9.961, de 2000, que trata do rol de procedimentos médicos, e manifestaram preocupação com o aumento dos custos. Além da novidade de novas coberturas, os deputados foram informados de ação judicial da Unimed Brasil sobre a responsabilidade de aumento de despesas.

Autor do requerimento da audiência, o presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Mosconi (PSDB), disse que o objetivo foi ouvir a ANS, as seguradoras de saúde e os clientes. Em sua opinião, "seria inteligente por parte do governo permitir algumas isenções fiscais para operadoras de planos de saúde, já que o Sistema Único de Saúde (SUS) não consegue dar o atendimento previsto na Constituição Federal".

Rol está na 5ª revisão - A ANS promoveu a 5ª revisão do rol de procedimentos, por meio de consulta pública que esteve no site da entidade durante três meses, no segundo semestre do ano passado. O resultado, segundo o médico especialista de regulação da ANS, Jorge Luís Carvalho, será a inclusão de cem novos procedimentos e eventos em saúde na Lei 9.961, que passará a listar cerca de 2.900 itens. O objetivo é manter sempre a cobertura mínima obrigatória dos planos de saúde alinhada aos benefícios garantidos pelos avanços da medicina contemporânea.

Ele exemplificou como os mais significativos a cobertura ambulatorial a atendimentos de terapia ocupacional, fonoaudiologia, nutrição e psicoterapia. O rol de procedimentos e eventos em saúde passa também a listar novas tecnologias, como o Yag Laser (para cirurgia de catarata), procedimentos para anticoncepção (DIU, vasectomia e ligadura tubária), procedimentos cirúrgicos e invasivos, além de exames laboratoriais.

Outro destaque é a cobertura de parto por enfermeiro obstetra, o que permitirá a prática do parto humanizado e a realização de exames de mamografia digital nas beneficiárias de planos de saúde. Na nova versão, além do enfermeiro obstétrico é permitida a presença de um acompanhante durante toda a estadia da mulher no hospital, desde o momento do parto até a sua liberação. Outro novo procedimento com cobertura é a mamotomia, espécie de biópsia a vácuo guiada por raio-X ou ultra-som, indicada para nódulos mamários menores que dois centímetros e com maiores suspeitas de malignidade.

A saúde privada no Brasil conta com um universo de 40 milhões de pessoas, com dois terços delas incluídas nos planos regulamentados pela Lei 9.656, de 1998. O setor está dividido em cooperativas médicas, que detêm 30% desse universo; seguradoras, que detêm 10%; empresas de medicina em grupo que comandam 32%; empresas de auto-gestão, com 12%; filantropia, 2,8%; e odontologia de grupo, 11,5%.

Planos questionam a quem caberá pagar a conta da ampliação

Em sua exposição, o presidente das Federações de Unimeds do Brasil, Emerson Fidélis Campos, disse que ao mesmo tempo que se faz a revisão do rol, "que deve ser feita todo ano, incluindo, excluindo procedimentos, tecnologias e remédios", é preciso definir a quem caberá pagar a conta dos novos procedimentos. Emerson Fidélis lembrou especificamente o caso das cooperativas médicas, cujos lucros são repartidos entre os médicos cooperados, "assim como os prejuízos". Para ele, apesar de muitos procedimentos exigidos agora "serem baratos conforme a alegação da ANS", o volume tende a desequilibrar o sistema.

Ele garantiu que o custo terá de ser repassado ao cliente, "o que também não é permitido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar". O dirigente da Unimed disse que o governo não perdoa um centavo de imposto e que é preciso discutir quem pagará esta conta. Emerson Fidélis informou que a Unimed Brasil ajuizou uma ação judicial para que a ANS responda a quem caberá bancar o custo das novas inclusões, já que a margem de lucro dos cooperativas mais equilibradas não passa de 3%, "quando o custo previsto dos novos procedimentos é de 10%".

O promotor de Justiça de Saúde, Paulo Cezar Neves Marques, entende que não haverá quebradeira no mercado de planos, como sugeriu o dirigente da Unimed e o deputado Carlos Pimenta (PDT). "Os planos de saúde têm as maiores correções de preços dos segmentos econômicos, com as correções anuais, por faixa etária e por desequilíbrio da carteira, e um exemplo é a performance financeira da Unimed-BH do ano passado, que teve uma arrecadação de R$ 1,2 bilhão. O custo de novos procedimentos, portanto, já foi pago pelos reajustes concedidos acima da inflação".

Emerson Fidélis contestou este argumento, destacando que a inflação da saúde é maior. "Quando a remuneração é boa, não chega a 5%, por isso a Federação de Unimeds tem de socorrer várias unidades. Ele lembrou ainda que projetos com redução de impostos para o setor não prosperam no Congresso, "porque a equipe econômica não deixa passar". O dirigente disse que em Belo Horizonte o prefeito Fernando Pimentel bancou a redução do Imposto sobre Serviços ISS para o segmento, "resultando em benefício para toda a população".

Deputados elogiam inclusão de novos procedimentos

Os deputados da comissão elogiaram a inclusão de novos procedimentos médicos para cumprimento dos planos de saúde privados, mas manifestaram preocupação com o aumento de preço das mensalidades. Alguns, como Carlos Pimenta, criticaram o fato de se exigir do setor privado algo que o SUS não cobre. Segundo ele, as cooperativas sobrevivem com dificuldades. Hely Tarqüínio (PV) disse que é preciso cuidar das diretrizes básicas do sistema, "mas sem complicar muito o universo, adotando-se ações de saúde holística, que não funcionam no sistema capitalista".

Já o deputado Délio Malheiros (PV), presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, criticou os planos de saúde, "que estão se transformando num 'Susão' e não investem no atendimento adequadamente". O deputado Doutor Rinaldo (PSB) enfatizou a criação da expectativa gerada por consulta pública sobre os novos procedimentos, "em contraposição com o aumento de preço dos planos, fato que não é explicitado na consulta". Ele teme que os planos se tornem deficitários.

Requerimentos - A Comissão de Saúde aprovou cinco requerimentos. O primeiro, do deputado Carlos Mosconi, pede audiência pública para discutir as ações de combate à dengue no Estado; do deputado Carlos Pimenta foram aprovados três: dois pedem informações à Secretaria de Estado da Saúde sobre o programa de urgência e emergência e sobre a relação de medidas adotadas na zona rural para coibir a doença de Chagas. Para a Copasa, pede o saneamento de sete córregos de Pedra Azul, responsáveis por epidemia de cólera em anos anteriores. E por último, o deputado solicita uma audiência pública conjunta com a Comissão de Defesa do Consumidor para debater o uso excessivo de sacolas plásticas e o impacto desse hábito na saúde da população.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Hely Tarqüínio (PV), vice; Carlos Pimenta (PDT), Doutor Rinaldo (PSB) e Délio Malheiros (PV).

 

 

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