Policiais acusados de agressão permanecem em silêncio em audiência

Acusados de agressão física na cidade de Corinto, na Região Central do Estado, dois policiais militares optaram pelo ...

01/04/2008 - 00:01
 

Policiais acusados de agressão permanecem em silêncio em audiência

Acusados de agressão física na cidade de Corinto, na Região Central do Estado, dois policiais militares optaram pelo silêncio e não apresentaram a versão deles para o fato. Eles estiveram presentes na reunião desta terça-feira (1º/4/08) da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, assim como o denunciante. O requerimento foi do presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), que acolheu denúncia do deputado Célio Moreira (PSDB). Na reunião, foi constatado que um dos policiais também atua na cidade como eletricista. Outro fato que chamou atenção foi a presença de um advogado, que acompanhou os dois policiais. "Tinha a informação de que não há advogado do Estado defendendo policiais. Isso precisa ser averiguado", questionou Durval.

João Augusto Pereira Júnior reafirmou sua denúncia. Ele disse que foi agredido pelo 2º-sargento João Ricardo Rezende, que tem o apelido de Chacal, e pelo cabo Israel Santos Góes, em Corinto, no dia 8 de fevereiro. Pereira envolveu-se em uma discussão em um clube e a Polícia Militar foi acionada. De acordo com o denunciante, os militares foram violentos e o 2º-sargento o agrediu. Um empurrão para dentro da viatura seria o motivo de um ferimento na região do olho esquerdo. Segundo alega, ele também está com perda de audição e dores persistentes nos rins. João Augusto foi atendido no pronto-socorro local e, depois, ficou detido na delegacia por alguns minutos, sendo novamente alvo de agressões, dessa vez pelo cabo Góes. Segundo o denunciante, João Ricardo Rezende seria conhecido em Corinto pela atuação truculenta.

Célio Moreira justificou o requerimento para a audiência salientando que o 2º-sargento tem um histórico de abusos policiais. O parlamentar leu cartas de representantes de entidades, como a Ordem dos Advogados do Brasil em Corinto, informando caso ocorrido em 2006, em que o policial é acusado de atirar contra o carro de um advogado da cidade sem motivo aparente, além de agredi-lo verbal e fisicamente. Segundo relato do deputado, Chacal, como é conhecido o PM, também atua como eletricista na cidade. "Também recebi outras denúncias contra ele que precisam ser apuradas, mas as pessoas têm medo de falar", disse.

Durval Ângelo lembrou que o anonimato das vítimas é preservado em serviços como o Disque-Denúncia. Ciente da possibilidade de outros casos de abuso policial na cidade, ele sugeriu que haja, em Corinto, uma investigação geral da Corregedoria da Polícia Militar. O deputado João Leite (PSDB) questionou os acusados e a suposta vítima e se surpreendeu ao saber que o cabo Góes estava na delegacia atuando como guarda interno, ou seja, fazendo a segurança dos presos.

Policial acusado também trabalha como eletricista em Corinto

O 2º-sargento João Ricardo Rezende hesitou, mas acabou declarando que trabalha como eletricista. "A empresa é da minha esposa. Eu ajudo", disse. Rezende falou que está na PM há 18 anos e que já atuou em outras seis cidades: Diamantina, Curvelo, Itamarandiba, Três Marias, Aricanduva e Sabinópolis. "Não entendo a acusação. Foi uma prisão corriqueira." Perguntado sobre detalhes do caso, ele alegou o direito de ficar calado e apenas afirmou que o cabo Góes não teve contato com o denunciante no dia do ocorrido. O cabo Israel Santos Góes, há 15 anos na PM, também não quis responder às perguntas dos deputados. Apenas afirmou que não agrediu o denunciante. João Augusto reafirmou que foi agredido por ambos os policiais.

Presente à audiência, o tenente-coronel Alcides Raimundo da Silva, oficial da 14ª Região, informou que o 2º-sargento tem 12 processos contra ele na Justiça Militar. Sem dar mais detalhes, explicou que a maioria foi arquivada. Ele salientou que as orientações dadas aos policiais são de atuar com pleno respeito aos direitos humanos. "O uso da força legal, a violência legal, só pode ser para quebrar resistência. Toda denúncia de abuso é apurada pela PM. Não ficamos inertes nesses casos", frisou.

Ainda na reunião foram aprovados 11 requerimentos, muitos deles referentes ao assunto tratado, como o envio de apelo ao presidente do Colegiado das Corregedorias para que elabore e envie para a comissão listagem com o nome dos advogados patrocinados pela Polícia Militar para a defesa dos membros da corporação acusados da prática de crimes comuns, bem como os nomes dos policiais favorecidos e os crimes pelos quais estão sendo julgados.

Confira todos os requerimentos:

* do deputado João Leite: solicitação de audiências públicas (1) para relembrar o holocausto praticado contra o povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial; (2) e para rememorar os 65 anos do levante do Gueto de Varsóvia e homenagear os integrantes da Força Expedicionária Brasileira que lutaram em defesa da democracia e contra o nazi-facismo na Europa; (3) formulação de apelo ao jornal Estado de Minas com vistas à garantia de isenção na publicação de matérias relativas à história do Estado de Israel

* do deputado Durval Ângelo: (1) realização de audiência pública para debater a exploração sexual de crianças e adolescentes, tendo em vista que o dia 16 de maio é lembrado como Dia Mundial de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes; (2) para participação da comissão na abertura da Assembléia Regional de Minas do Movimento Nacional de Direitos Humanos, que será realizada de 4 a 6 de abril, em Betim; (3) realização de debate público no mês de outubro para celebrar os 20 anos da Constituição Federal de 1988, que consagrou os princípios fundamentais dos direitos humanos; (4) pedido de informações ao corregedor da Polícia Militar, sobre quantos e quais são os procedimentos instaurados contra o 2º-sargento João Ricardo Rezende, constando a situação atual dos mesmos e a relação dos processos judiciais nos quais o referido policial figura como réu; (5) apelo ao corregedor da Polícia Militar e ao promotor de Justiça da comarca de Corinto para tomada de providências, em face do conteúdo das notas taquigráficas desta reunião; (6) apelo ao corregedor da Polícia Militar para designação de uma equipe daquele órgão para apurar os fatos envolvendo o 2º-sargento João Ricardo Rezende em denúncias de violência policial em Corinto; (7) apelo ao presidente do Colegiado das Corregedorias para que elabore e envie para a comissão listagem com o nome dos advogados patrocinados pela Polícia Militar para a defesa dos membros da corporação acusados da prática de crimes comuns, bem como os nomes dos policiais favorecidos e os crimes pelos quais estão sendo julgados; (8) apelo à secretária de Estado de Planejamento e Gestão com vistas à elaboração e remessa à comissão de listagem com o rol de advogados patrocinados pelo Estado para a defesa judicial de policiais civis, agentes penitenciários, professores ou quaisquer outros servidores públicos processados pela prática de crime inerente às suas funções, ou mesmo por prática de crimes comuns.

Presenças - Deputados Durval Angelo (PT), presidente; João Leite (PSDB), Luiz Tadeu Leite (PMDB) e Célio Moreira (PSDB).

 

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