Comissão propõe nova regra de indenização a torturados

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Durval Ângelo (PT), ...

31/03/2008 - 00:00
 

Comissão propõe nova regra de indenização a torturados

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Durval Ângelo (PT), defendeu uma modificação na Lei 13.187, de 1999, que determina o pagamento de indenizações, pelo Estado, a vítimas de tortura praticada na época da ditadura militar. O deputado defendeu, durante reunião da comissão realizada nesta segunda-feira (31/3/08), um projeto de lei que estenda esse pagamento a vítimas atuais de tortura praticada por agentes policiais ou penitenciários, e que o Estado seja obrigado a entrar com ações regressivas contra os torturadores, para que eles sejam obrigados a assumir o custo das indenizações. "A certeza da impunidade faz da tortura uma constante, ainda hoje", afirmou Durval Ângelo.

Durante a reunião, a comissão recebeu convidados para discutir o atraso no pagamento das indenizações aos torturados da ditadura e para fazer um balanço do combate à tortura desde o fim do regime militar. A Lei 13.187 é decorrente de projeto de lei apresentado pela ex-deputada Maria José Haueisen. Segundo o texto, têm direito à indenização as vítimas de tortura decorrente de participação ou de acusação de participação em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, e que não tenha resultado em morte. Caso a vítima já tenha falecido, seu sucessor legal pode requerer a indenização.

A proposta de Durval Ângelo de alteração na Lei 13.187 foi elogiada pela superintendente da Integração de Política de Direitos Humanos, Márcia Martins; pelo promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e de Apoio Comunitário, Rodrigo Filgueira; e pelo vice-presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Délio Rocha, que participaram da reunião.

Logo no início da reunião, o presidente da comissão cobrou explicações sobre o atraso de mais de um ano no pagamento de indenizações. Márcia Martins, que coordena a Comissão de Indenização às Vítimas de Tortura na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), afirmou que a demora foi decorrente, em um primeiro momento, de uma auditoria nos processos de indenizações, determinada pelo secretário Custódio Mattos. A auditoria, segundo ela, encontrou algumas irregularidades, o que obrigou o Estado a submeter novamente os processos ao parecer do Conselho Estadual de Direitos Humanos. Agora a secretaria estaria apenas aguardando o parecer do conselho para retomar os pagamentos. Márcia afirmou que o órgão tem a expectativa de concluir todos os pagamentos pendentes até o final de 2008. O vice-presidente do conselho, Délio Rocha, afirmou que os processos devem ser analisados na próxima reunião do órgão.

Minas irá aderir a Pacto de Enfrentamento à Tortura

A superintendente da Integração de Política de Direitos Humanos da Sedese, Márcia Martins, anunciou que o Estado foi convidado pelo Governo Federal, nesta segunda (31), a tornar-se parceiro no Pacto de Enfrentamento à Tortura. O programa federal estabelece metas e ações de combate à tortura, incluindo o monitoramento de dados estatísticos sobre a questão. O promotor Rodrigo Filgueira e a coordenadora do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, Heloísa Greco, consideraram positiva a iminente adesão de Minas ao pacto, mas ressalvaram que isso já poderia ter acontecido em 2006, se o governo Aécio Neves tivesse aceitado proposta feita naquela época.

Rodrigo Filgueira elogiou algumas iniciativas do Governo do Estado, tais como o compromisso de reformar 50 cadeias mais precárias, mas criticou a falta de capacitação dos agentes penitenciários em direitos humanos. Ele também defendeu o desmembramento do Instituto de Medicina Legal da Polícia Civil, como medida indispensável para facilitar a comprovação da prática de tortura.

Délio Rocha se queixou de falta de recursos para o Conselho Estadual de Direitos Humanos, que não tem sequer uma viatura disponível para inspeções. Márcia Martins afirmou que, em 2007, foi criada uma diretoria de apoio ao conselho, a fim de garantir seu aparelhamento. Ela cobrou, no entanto, que a utilização de veículos e outros recursos seja planejada, uma vez que o Estado precisa apoiar a ação de diversos conselhos estaduais.

Um servidor da Sedese, Mauro Rodrigues, chamou atenção para casos de tortura contra conselheiros tutelares, a exemplo do que aconteceu no município de Itamarandiba (Norte de Minas). Lá, antes de ser morta, uma conselheira foi torturada com uma chave de fenda. "Estão torturando aqueles que tentam proteger as crianças", afirmou Rodrigues. O deputado Durval Ângelo afirmou que os casos de tortura comprovam que os conselheiros estão se esforçando para combater os abusos, e que muitos também são os casos de punição aos molestadores e torturadores de adolescentes, a exemplo de Igarapé, Caxambu, Pompéu, São Francisco e Taiobeiras, onde o ex-prefeito está foragido.

Requerimentos - Durante a reunião, foram aprovados 11 requerimentos. Cinco requerimentos, de autoria do deputado Durval Ângelo, dizem respeito à reunião realizada em Timóteo, na última quinta-feira (27), para discutir o caso do estupro e assassinato da adolescente Fernanda Tamara Silva Rosa, de 15 anos.

Dois requerimentos solicitam que sejam encaminhadas cópias das notas taquigráficas da reunião ao secretário de Estado de Defesa Social, ao chefe da Polícia Civil e ao comandante da Polícia Militar, solicitando o envio de efetivos e viaturas para recompor a capacidade de atuação do Estado naquele município. Um terceiro pede envio das notas à promotora de Justiça e ao juiz da Comarca de Timóteo, como contribuição para formação de convicção no julgamento do indiciado pelo assassinato de Fernanda. Um quarto determina envio de ofício ao delegado de Timóteo, Francisco Pereira Lemos, solicitando a reabertura do inquérito policial instaurado para a apuração de crime cometido contra Paolo Peri, em julho de 2007. O último pede que seja encaminhada manifestação de aplauso ao secretário de Estado de Defesa Social, reconhecendo a competência demonstrada pelas Polícias Militar e Civil de Timóteo, em especial pela atuação do delegado Francisco Pereira Lemos, na apuração dos crimes cometidos naquele município.

Outros seis requerimentos foram elaborados pelos deputados Durval Ângelo e Carlin Moura (PCdoB). Um requerimento pede que o Projeto de Lei 2.178/08, de autoria do governador, que dispõe sobre a arrecadação de receitas judiciárias e dá outras providências, seja distribuído à Comissão de Direitos Humanos, para apreciação da matéria em 1º turno. Outro pede que seja formulado apelo ao presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e ao procurador-geral de Justiça do Estado, solicitando a imediata lotação de pessoal técnico e administrativo na Vara de Execuções Criminais e na 4ª Promotoria de Justiça da comarca de Ribeirão das Neves.

A comissão também aprovou solicitação para que sejam encaminhadas ao presidente do Tribunal de Justiça cópias das notas taquigráficas da reunião realizada na última quarta-feira (26). Outro requerimento é para que seja formulado apelo ao procurador-geral de Justiça, ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminal e de Execução Criminal e à 4ª Promotoria de Justiça da comarca de Ribeirão das Neves com vistas à elaboração de estudos sobre a constitucionalidade e a legalidade da minuta de edital, cujo objeto é a construção e gestão do complexo penal a ser implementado nesse município. A penitenciária deverá ser construída por meio de parceria público-privada, que está sendo questionada.

Outros dois requerimentos pediram o envio de cópias das notas taquigráficas da reunião realizada na quarta-feira (26) à prefeitura e à Câmara Municipal de Ribeirão das Neves, e às Secretarias de Estado de Defesa Social e de Desenvolvimento Econômico, a fim de que respondam as questões suscitadas na referida reunião.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB) e Vanderlei Miranda (PMDB).

 

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