Falta de incentivos ao setor do GNV é criticada em audiência pública

A falta de uma política pública de incentivo ao Gás Natural Veicular (GNV) foi apontada pelos participantes da audiên...

27/03/2008 - 00:01
 

Falta de incentivos ao setor do GNV é criticada em audiência pública

A falta de uma política pública de incentivo ao Gás Natural Veicular (GNV) foi apontada pelos participantes da audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta quinta-feira (27/3/08), como a principal causa da perda de competitividade do combustível no Estado. Minas ocupa o 7º lugar no ranking dos maiores consumidores de GNV e já foi superado até pela Bahia, que começou a intensificar os investimentos no setor apenas em 2002, e hoje ocupa a terceira posição. O autor do requerimento para a realização da reunião, deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT), cobrou providências da Gasmig e disse que a retração do mercado já está causando desempregos e o fechamento de convertedoras.

Para o deputado Délio Malheiros (PV), muitas pessoas investiram no GNV porque acreditaram que haveria gás abundante. "Centenas de taxistas estão tendo prejuízos porque não há uma política de longo prazo", afirmou. O gerente de Captação de Clientes da Gasmig, José Góes Júnior, foi enfático ao descartar o risco de falta de gás no Estado. "Minas Gerais tem contratos assegurados até 2026", garantiu. Segundo ele, os rumores sobre a possibilidade de falta de gás abalaram o mercado mineiro. "A competitividade pode não ser a mesma de quando o GNV começou a ser usado no Estado, em 1998, mas ainda representa uma economia de 150% em relação à gasolina", afirmou. José Góes continuou, dizendo que o gás veicular representa entre 18% e 20% do gás distribuído pela Gasmig, o que significam 55 mil clientes indiretos.

O diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Ciro Augusto Piçarro, também destacou a economia gerada com o GNV, mas ponderou que Minas tem preços pouco atrativos. Segundo ele, o gás natural para a indústria é tributado em 12%, enquanto o gás veicular, em 18%. Piçarro comparou os preços do combustível nos estados de São Paulo (R$ 0,78) e Rio de Janeiro (R$ 0,72), com o cobrado em Minas, que é de R$ 1,03. Para o diretor do Minaspetro, a política de preços do Estado tem reflexo na retração do mercado que, segundo ele, desde 2006, está registrando um crescimento negativo. "Minas Gerais é o único Estado que apresentou esse comportamento, enquanto a Bahia, por exemplo, cresceu mais de 500% em sete anos", ponderou.

Entre as vantagens do gás natural veicular, o diretor do Minaspetro destacou que o combustível não pode ser adulterado, nem sonegado, além dos benefícios socioambientais, gerando renda a partir da economia obtida por sua utilização no lugar dos combustíveis comuns. "Cerca de R$ 6 bilhões resultantes dessa economia são reinvestidos no mercado", afirmou. Ciro Piçarro apresentou alternativas para reverter a atual situação de crise do GNV do Estado, como a desburocratização da inspeção veicular, a revisão das tarifas cobradas em Minas, a criação de uma agência reguladora no Estado, e a aprovação de projetos de incentivo ao uso do GNV, do deputado Alencar da Silveira Jr., que tramitam na ALMG.

O diretor-presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens em Minas (Sincavir), Dirceu Efigênio Reis, também fez críticas à falta de política para o setor. Segundo ele, o número de táxis convertidos no Estado caiu de 4,5 mil para 1,4 mil. Dirceu Reis também disse que a necessidade de nova inspeção veicular para atualizar os documentos dos veículos que fizeram conversão do motor e a perda de garantia dos carros 0 Km após a conversão acabam tornando a opção pelo GNV menos interessante. O diretor do Grupo Igás do Brasil, Pedro Henrique Zwaal acrescentou que os empregos já reduziram de 4 mil para 200.

Gerente da Gasmig justifica preços cobrados em Minas

As críticas feitas pelos participantes sobre os preços cobrados em Minas foram rebatidas pelo gerente da Gasmig, José Góes Júnior. Ele afirmou que o GNV vendido em Minas só é mais caro que o do Rio de Janeiro e o de São Paulo. De acordo com ele, não é o mais caro do Brasil, como alguns participantes da reunião chegaram a afirmar. Segundo ele, o transporte do gás, em Minas, é mais caro e foram construídos 357 Km de gasoduto. Ele explicou que o Rio de Janeiro começou a investir no gás veicular dez anos antes da Gasmig e o transporte lá é mais barato em virtude da proximidade do poço. São Paulo distribui o gás boliviano, que, segundo o gerente da Gasmig, foi barateado com a queda do dólar.

José Góes esclareceu ainda que não é a Gasmig que define os preços, ela só distribui o gás. "O GNV é commodity internacional e é regulado por contrato." Ele também rejeitou as afirmações de que o governo de Minas não tem política para o setor, informando que existe um plano diretor elaborado e que até agora foram investidos R$ 90 milhões no GNV. "Nos próximos dois anos, a Gasmig deverá aplicar mais R$ 600 milhões para a distribuição do GNV no Sul de Minas e no Vale do Aço", anunciou.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) também defendeu a aprovação dos projetos que reduzem o IPVA e o ICMS para incentivar o consumo do GNV. "Não vamos alavancar a economia de Minas só com minério", afirmou. Para o deputado Carlos Pimenta (PDT), a audiência terá papel importante para alavancar a discussão sobre os projetos sobre o GNV. Ele também defendeu a revisão dos preços cobrados no Estado. O deputado Antônio Júlio (PMDB) não acredita que a criação da agência reguladora resolverá o problema do setor. Ele sugeriu que o assunto seja também discutido na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. Ao final da reunião, o deputado Délio Malheiros (PV) sugeriu a formação de uma comissão para acompanhar os desdobramentos da questão junto ao governo.

Comissão analisa projeto sobre guarda de veículos

A comissão também emitiu parecer de 1º turno favorável ao Projeto de Lei (PL) 1.747/07, do deputado Leonardo Moreira (DEM), que dispõe sobre normas para o exercício da prestação de serviços de manobra e guarda de veículos. O relator, deputado Antônio Júlio, opinou pela aprovação do projeto na forma do substitutivo nº 1, da Comissão de Constituição e Justiça. O novo texto obriga a pessoa jurídica que mantenha serviço de manobra e guarda de veículos em estabelecimentos comerciais e eventos a contratar seguro contra furto, roubo e dano de veículo sob sua responsabilidade. No comprovante do estacionamento, constarão o nome da seguradora e o número da apólice do seguro.

Requerimentos - Foram aprovados três requerimentos durante a reunião, dois deles pedindo a realização de audiências públicas. O primeiro, do deputado Carlos Pimenta, pede que a comissão debata em audiência, juntamente com a Comissão de Saúde, o uso exagerado de sacolas plásticas. O outro, do deputado Délio Malheiros, solicita reunião para debater a política das operadoras de cartões de crédito junto aos fornecedores e o reajuste da porcentagem da taxa de administração cobrada por elas.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice; Antônio Júlio (PMDB); Alencar da Silveira Jr. (PDT); Carlin Moura (PCdoB); e Paulo Cesar (PDT). Além dos convidados citados na matéria, também participou o presidente do Minaspetro, Sérgio de Mattos.

 

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