Construção de penitenciária por parceria público-privada é criticada

A intenção do Governo do Estado de construir um complexo penitenciário em Ribeirão das Neves por meio de uma parceria...

26/03/2008 - 00:00
 

Construção de penitenciária por parceria público-privada é criticada

A intenção do Governo do Estado de construir um complexo penitenciário em Ribeirão das Neves por meio de uma parceria público-privada (PPP) foi duramente criticada pelos convidados que participaram, nesta quarta-feira (26/03/08), de uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Pelos planos do Executivo, a gestão e a concessão da unidade prisional, capaz de abrigar 3 mil presos, será entregue, por meio de concessão, a empresa da iniciativa privada pelo prazo de 27 anos, sendo o processo licitatório na modalidade de concorrência e aberto à participação de companhias estrangeiras.

O juiz Herbert Carneiro, da Vara de Execuções Penais de Belo Horizonte, questionou pontos do edital e o considerou ambíguo. "Várias questões carecem de explicações detalhadas da Secretaria de Defesa Social. Por que este prazo de 27 anos? Como ficara a situação dos 8 mil agentes penitenciários que não são concursados? E a questão da ressocialização?", indagou.

O magistrado deu o exemplo da parceria público-privada implantada no Paraná, onde, segundo ele, os presos viraram mercadorias. "Estão querendo dar ao sistema penitenciário o mesmo tratamento dado à PPP de uma construção e conservação de estrada, o que não é possível. Há certas atividades no sistema prisional que são indelegáveis, têm que ser feitas pelo Estado", acrescentou.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) também questionou a proposta. "Uma empresa privada vai assumir um papel exclusivo do Estado. E não é uma empresa qualquer. Tem que ser uma sociedade anônima, com capital social igual ou maior que R$ 60 milhões. É a violência transformada em produto de mercado", opinou.

O coordenador de Direitos Humanos da Defensoria Pública, defensor Gustavo Gorgosinho, criticou o curto período de 64 dias aberto pela Secretaria de Defesa Social para a consulta pública sobre o assunto. "É uma decisão que causará reflexos para os próximos 27 anos. Ainda não foram ouvidos o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Judiciário e a Defensoria Pública".

O defensor levantou uma questão polêmica: "O edital prevê que a empresa dê assistência jurídica gratuita ao preso. Mas os advogados que serão empregados da própria empresa terão interesse em fazer isso? Não é interessante manter o maior número possível de encarcerados para arrecadar mais?", questionou.

O vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP-MG), Rodrigo Oliveira, e o professor Virgílio Mattos, coordenador do grupo de pesquisa Violência, Criminalidade e Direitos Humanos da Escola de Direito Dom Helder Câmara, também não pouparam críticas à intenção do governo.

Para eles, a PPP transformará os presos em mercadorias, e interesses econômicos estarão acima dos sociais. "A questão não é prender cada vez mais. É prender menos. Serão 3 mil pessoas à mercê do capital internacional", criticou Rodrigo Oliveira. O professor Virgílio ainda citou o exemplo dos Estados Unidos, onde parte do sistema prisional foi privatizada e a população carcerária "cresce assustadoramente".

A juíza da Vara de Execuções Penais de Ribeirão das Neves alertou que, caso seja construída uma unidade para 3 mil presos, a Vara, que tem apenas cinco servidores e um assessor, não conseguirá atender a demanda.

Deputado lamenta ausência de secretário

No fim da audiência, Durval Ângelo informou que as notas taquigráficas da reunião serão encaminhadas ao secretário de Defesa Social para conhecimento do repúdio à PPP e à concentração de presos em Neves. No mesmo documento, será lamentada a ausência do secretário ou de representante seu na reunião e pedido que as questões levantadas sejam respondidas. Também devem ser enviadas cópias das notas taquigráficas para o prefeito de Ribeirão das Neves e para o presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).

Durval também cobrou uma resposta do presidente do TJMG, que, segundo ele, afirmou que iria prover vaga na comarca de Ribeirão das Neves na área de execução penal. "Parei a obstrução ao projeto do TJMG com essa promessa, que até hoje não foi cumprida", disse.

O deputado afirmou que solicitará que o Projeto de Lei 2.178/08, que dispõe sobre a arrecadação de receitas judiciárias, seja discutido pela Comissão de Direitos Humanos. Segundo representante da Defensoria Pública, o órgão não é contemplado pelo projeto em seu texto original.

Requerimentos - Dois requerimentos foram aprovados nesta quarta-feira (26). O primeiro deles, do deputado Ruy Muniz (DEM), é para a realização de debate para discutir o desrespeito das empresas de ônibus à legislação que garante passe livre para deficientes físicos e mentais e idosos.

O outro requerimento, do deputado Durval Ângelo, solicita audiência para avaliar a situação dos catadores de papel e materiais recicláveis na área central de Belo Horizonte, diante das limitações impostas pela BHTrans para a circulação de carrinhos e carroças. O encontro foi marcado para o próximo dia 4 de abril, às 14h30.

Projeto sobre exame de DNA recebe parecer

Durante a reunião, os parlamentares aprovaram parecer favorável de 2º turno ao PL 291/07, do deputado Carlos Pimenta (PDT), que altera a legislação que rege a realização gratuita de exame de DNA pelo Estado, estabelecendo prazo máximo de seis meses para que o mesmo cumpra sua obrigação.

O relator foi o deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB), que considerou a iniciativa "relevante, cuja transformação em lei atenderá anseio social concreto e pertinente".

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Luiz Tadeu Leite (PMDB), vice; Ademir Lucas (PSDB) e Carlin Moura (PCdoB)

 

 

 

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