Alcançar a Meta 2010 do Rio das Velhas depende também da sociedade

A necessidade de ampliar a participação social para garantir a concretização da Meta 2010 foi um dos pontos abordados...

26/03/2008 - 00:00
 

Alcançar a Meta 2010 do Rio das Velhas depende também da sociedade

A necessidade de ampliar a participação social para garantir a concretização da Meta 2010 foi um dos pontos abordados pelos expositores do painel sobre a revitalização do Rio das Velhas, durante ciclo de debates promovido na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na manhã desta quarta-feira (26/3/08). O evento integra a programação do 7º Fórum das Águas, que vai até esta sexta (28), em Belo Horizonte. Navegar, pescar e nadar em 2010, no ponto mais poluído da bacia, que é a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), é a Meta 2010, que une governos, sociedade e empresas, entre outros segmentos. O painel foi coordenado pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da ALMG, deputado Sávio Souza Cruz (PMDB).

O coordenador do Projeto Manuelzão para a Meta 2010, Antônio Thomaz da Mata Machado, afirmou que é preciso avançar com a participação social - caminho fundamental para manter a recuperação das águas. Iniciado em 1997, o Manuelzão é um projeto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) cujo objetivo é revitalizar a bacia. A Meta 2010 partiu de uma expedição feita em 2003 pelo Manuelzão, que constatou as condições do rio. Segundo ele, experiências internacionais como as de revitalização dos rios Tâmisa, na Inglaterra, e Sena, na França, mostram a dificuldade de mudança de atitude das pessoas com relação aos rios, encarados como depósitos de esgoto e lixo. Nesse sentido, Machado destaca como importante a criação da comissão de acompanhamento da Meta, que reúne todos os segmentos interessados, e não só governos.

A busca do diálogo e da negociação também entre os municípios, a fim de evitar conflitos, foi considerada ponto importante pelo coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano, que ratificou a necessidade de mudança de atitude da sociedade. "A Meta não são somente obras e intervenções", ponderou. Ele e Machado também chamaram atenção para outros aspectos que merecem ser discutidos. "Não queremos a Meta a qualquer preço e custo, na base da canalização de córregos de forma insistente. Não podemos matar nossos córregos, tapando o buraco para ninguém ver", disse Polignano, avaliando que essa é uma questão ultrapassada nos países desenvolvidos. Ele aponta como alternativa a revitalização dos córregos e os parques lineares, entre outras ações.

Ao falar sobre os indicadores da Meta - navegar, pescar e nadar -, Thomaz da Mata Machado pondera que o principal desafio, hoje, é nadar no trecho escolhido do Velhas, logo depois de Lagoa Santa, no caminho para a Serra do Cipó. Isto porque, segundo ele, o tratamento de esgoto é insuficiente. "É preciso introduzir tecnologias mais sofisticadas e eficientes. Esse debate está meio escondido", refletiu, destacando que a questão da balneabilidade (se as águas são próprias para o banho) é algo a ser encarado. Um outro indicador, que é pescar, já está sendo monitorado, sendo comprovado o movimento do dourado e do piau em direção à RMBH, entre outros peixes.

Levar o esgoto às estações de tratamento é desafio

Representantes da Copasa e do Sistema Estadual do Meio Ambiente (Sisema) fizeram um histórico das ações para a revitalização do Rio das Velhas. O gerente adjunto do projeto estruturador Revitalização do Rio das Velhas - Meta 2010 e superintendente de Serviços e Tratamento de Efluentes da Copasa, Ronaldo Matias de Sousa, disse que a companhia terá investido, até 2010, R$ 1,2 bilhão em obras. Em 2008, serão R$ 247 milhões. As ações prioritárias são, entre outras, aumento das redes coletoras, interceptores, estações elevatórias e de tratamento de esgoto.

Para Sousa, o desafio é levar às estações de tratamento de esgoto (ETEs) o esgoto não tratado. Isto porque há pessoas que ocupam as margens de córregos e, para implantar os receptores, é preciso transferir famílias, atribuição das prefeituras. Ele informou que serão destinados recursos do Fundo de Recuperação e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado (Fhidro) para financiar ações da Prefeitura de Belo Horizonte visando à remoção de famílias, para que a Copasa implante receptores na bacia do Cardoso. O fundo, modificado pela Lei 16.908, de 2007, fruto de projeto parlamentar, foi considerado pelo secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, instrumento financeiro importante para as bacias.

A empreendedora pública Myriam Mousinho, do Sisema, mencionou que, dada sua importância, a Meta 2010 se transformou, no ano passado, em um dos 57 projetos estruturadores do Governo de Minas. Esses projetos compõem o eixo fundamental de atuação do governo e cada um possui um órgão responsável, prazos, metas e estimativa de custos, sendo monitorado e avaliado sistematicamente. Tanto ela quanto o secretário José Carlos Carvalho destacaram que o grande foco de recuperação da bacia é o saneamento, pois este é o maior déficit de investimento. A bacia do Velhas responde por 5% do território mineiro, mas abriga 25% da população do Estado.

Mousinho informou que está sendo elaborado um programa de saneamento ambiental para a bacia do Ribeirão da Mata, que passa por uma região considerada frágil, que é o Vetor Norte de BH, impactado pela criação da Linha Verde e pela expansão das atividades do Aeroporto Internacional de Confins. O programa engloba ações de esgotamento sanitário, saneamento em fundo de vale e educação ambiental. Outras ações listadas foram: a recuperação da base florestal e das matas ciliares, com o plantio de 900 hectares em 2008 e 2009 somente no trecho metropolitano, com reflexos na recuperação e volume dos cursos d'água; e o manejo integrado de sub-bacias, com a proteção de nascentes e a construção de mini-barragens para conter a água da chuva.

Secretário defende revisão de crédito rural para estimular produção de água

Na fase de debates, o deputado Almir Paraca (PT) indagou sobre como conseguir ganhos em quantidade, além da melhoria da qualidade das águas alcançada com o saneamento. O secretário José Carlos Carvalho avaliou que é fundamental imaginar um outro ciclo, o da quantidade das águas, algo que depende das práticas de uso da terra tanto na área urbana quanto no campo. Ele defendeu a revisão do crédito rural, a fim de viabilizar financiamentos para que o produtor rural invista na produção de água. "O solo é o grande reservatório natural das águas", pontuou, informando que o solo desnudo retém 6% de água da chuva e que, com cobertura florestal, 61%.

Carvalho também respondeu à indagação do secretário de Meio Ambiente de João Pinheiro e presidente do Comitê da Bacia do Rio Paracatu, Afonso Aroeira, sobre as ferramentas legais para que as águas não sejam federalizadas. Disse que a legislação prevê que, quando a União constrói uma grande barragem, por exemplo, em um curso d'água, ele passa para a gestão federal, ainda que seja de domínio do Estado. Na avaliação dele, a proposta do Governo Federal de construção de barragens no Velhas, Paracatu e Urucuia seria um primeiro movimento para evitar conflitos futuros com a transposição das águas do São Francisco para rios do Nordeste. "Minas seria transformada num grande reservatório de água para regularizar a vazão a jusante", analisou, de forma crítica.

ETEs - Ronaldo Matias de Sousa respondeu questionamentos sobre ações da Copasa em Ribeirão das Neves e Nova Lima. Ele disse que a companhia prepara a instalação de ETEs em toda a extensão da bacia do Ribeirão da Mata (Neves e Esmeraldas), e que já está em fase de licitação o tratamento de esgoto do bairro Veneza, em Neves. Sobre a estação de tratamento do Vale do Sereno, região de Nova Lima, confirmou que ela já está defasada, "devido à nova modalidade de ocupação do solo, baseada em unidades multifamiliares, quando foi preparada para unidades unifamiliares, há 10 anos". Ele informou que a Copasa já está em negociação com a prefeitura de Nova Lima para ampliação ou construção de outra estação. Ele respondeu ainda a questionamentos sobre problemas específicos de Funilândia e sobre a bacia do Rio Verde, no Sul de Minas.

Respondeu questionamentos Thomaz da Mata Machado, do Manuelzão, sobretudo sobre a mineração na bacia do Rio Doce (Mineroduto da MMX). Concordou que a atividade é tecnologicamente atrasada e que degrada mesmo, comprometendo trabalhos como o Meta 2010.

Sobre o Velhas - A bacia do Rio das Velhas engloba 51 municípios, com uma população de cerca de 4 milhões de habitantes, reunindo mais da metade da RMBH. Mais importante afluente do Rio São Francisco, o Velhas concentra um dos maiores PIBs e a maior população dessa bacia. É o maior poluidor de carga orgânica urbana e industrial do São Francisco e seu único afluente que passa por uma metrópole, que é Belo Horizonte.

 

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