Mortes por acidentes aumentam com melhoria das
estradas
De cada dez brasileiros que morrem, quatro perdem a
vida em acidentes de trânsito. Dos mortos em acidentes, 45% morrem
no local, 35% nas primeiras 24 horas e os restantes dentro de um
mês, com altíssimos custos de UTI e hospitalização. A violência e os
traumas por acidentes de trânsito são a principal causa de morte da
população masculina da Região Sudeste. A melhoria das estradas e da
sinalização, em vez de diminuir o número de acidentes, está fazendo
aumentar a estatística.
Estas foram as principais constatações da reunião
conjunta das comissões de Saúde e de Transporte, Comunicação e Obras
Públicas da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada na
manhã desta quarta-feira (19/3/08) por iniciativa dos deputados
Carlos Mosconi (PSDB) e Gustavo Valadares (DEM), presidentes dessas
comissões. Ele convidaram representantes do DNIT, do Detran, da
Secretaria de Saúde, do DER-MG e das polícias rodoviárias federal e
estadual para debater o tema, em busca de soluções.
"O que nos preocupa é que a situação não tende a
diminuir, mas cresce de maneira assustadora", disse o deputado
Mosconi. "São seis mortes por dia nas estradas mineiras. Em vésperas
de feriados, o número sobe para 20, para 30, isso sem computar os
que morrem depois. A situação das estradas tem melhorado, mas ainda
está longe do ideal. Buracos abertos pela chuva, sinalização
encoberta pelo matagal e acostamentos precários, somados à
imprudência dos motoristas nas ultrapassagens, ao excesso de
velocidade e ao consumo de álcool, dão o quadro da tragédia que
enfrentamos todos os dias".
Outros dados citados pelo presidente da Comissão de
Saúde dão conta de que, entre janeiro e setembro de 2007, morreram
794 pessoas nas rodovias federais e 769 nas estaduais de Minas. "Os
prejuízos decorrentes dos acidentes de trânsito somam R$ 3 bilhões
em Minas e R$ 22 bilhões no Brasil, ou seja, metade do Orçamento do
Ministério da Saúde", informou Mosconi.
Gustavo Valadares concorda que a grande causa dos
acidentes é a imprudência, que tem que ser combatida em duas
frentes: campanhas educativas constantes e punições rigorosas. "O
motorista que causa um acidente tem que ser tratado como criminoso",
disse. "As novas gerações não foram preparadas nas escolas para
respeitar as leis de trânsito como o foram para respeitar o meio
ambiente", opinou. Valadares lamentou a ausência dos comandantes das
polícias rodoviárias na reunião.
Curvelo é o município onde o trânsito mata
mais
O coordenador estadual de Urgência e Emergência e
UTI da Secretaria de Estado de Saúde, Welfane Cordeiro Júnior,
comparou as estatísticas brasileiras, mineiras e italianas e disse
que Curvelo lidera as estatísticas estaduais de fatalidades no
trânsito, não por ocorrências urbanas, mas nas estradas que cortam o
município, rumando para Diamantina e para Montes Claros. Ele expôs
um avançado plano do Governo de Minas para reduzir as mortes por
acidentes, que é a formação de redes de atendimento, com auxílio de
unidades móveis e helicópteros, e capacitação de hospitais regionais
para atuar no 1º e no 2º níveis de atendimento. A um custo de R$ 180
milhões, o Governo começa a atender a região Macro Norte e a
Central. Segundo ele, para atender o Estado inteiro seriam
necessários R$ 300 milhões só para custeio.
"Estamos mudando o modelo de custeio, ou seja,
pagando aos hospitais pela disponibilidade, e o paradigma de
atendimento. Não é mais importante levar a vítima ao hospital mais
próximo, mas ao mais adequado. Na Itália, depois de quatro anos em
que a prioridade passou a ser tratar do trauma que pode levar a
óbito, as mortes foram reduzidas em 50%", disse Cordeiro Jr.
Trânsito mata 183 aviões lotados por ano
A professora de Educação para o Trânsito do
Detran-MG, Rosely Fantoni Silva, disse que as mortes no trânsito no
Brasil equivalem a um Airbus lotado caindo dia sim, dia não. A ação
mais necessária, segundo ela, é implantar efetivamente o disposto no
artigo 76 do Código Nacional de Trânsito, que manda realizar
campanhas educativas permanentemente. "As campanhas sistemáticas
contra o tabaco reduziram em 40% o consumo de cigarros",
exemplificou. "Precisamos capacitar os agentes de trânsito como
educadores, passar informação nas escolas, formar cultura cidadã",
propôs.
Ivan Godoy, do Detran, opinou que o abuso na
aceleração exige que a autoridade entre pesado na fiscalização.
Segundo ele, 17 radares estáticos entram em operação nesta Semana
Santa. O deputado Mosconi discorda da eficiência dos equipamentos de
multar, e defende a presença física visível da Polícia Rodoviária
nas estradas.
O deputado Carlos Pimenta (PDT), por sua vez,
acrescentou que "a multa não deve ter caráter arrecadatório, como
hoje, mas educativo. Os radares não estão onde precisam, mas nas
curvas, sem advertência, com os operadores emboscados. Parece até
que os agentes ganham porcentagem nas multas", disse ele. Pimenta
relatou o precário estado da BR-116, onde os motoristas viajam às
cegas à noite, pela falta de faixas e de placas de sinalização, e
criticou especialmente o estado da BR 251, entre Montes Claros e
Salinas, "onde morre gente todos os dias porque o traçado é ruim".
Pimenta, que é médico em Montes Claros, assegura
que em 98% das cidades brasileiras não há hospitais capazes de
tratar um politraumatizado em acidente de trânsito, e o álcool seria
responsável por 45% dos acidentes. "Acresce que, no Brasil, itens de
segurança são considerados luxo. Freios ABS encarecem o automóvel, e
um par de air-bags aumenta R$ 4 mil no preço".
Deputados cobram recuperação de rodovias
federais
Os deputados pediram informações ao representante
do DNIT, Edson Aires dos Anjos, sobre trechos de estradas de suas
regiões. Paulo Cesar (PDT) quis saber se a BR-262, no trecho entre
Nova Serrana, Bom Despacho e Luz, será duplicado, e disse que pediu
a aquisição de uma UTI móvel para socorrer o grande número de
vítimas daquele trecho. Aires dos Anjos informou que a licitação foi
cancelada pelo Tribunal de Contas da União e que novo procedimento
terá que ser iniciado, cabendo a iniciativa ao DNIT em Brasília.
Ao deputado Hely Tarqüínio, que questionou o estado
deplorável da BR-354, entre Patos de Minas e a BR-262, Edson Aires
respondeu que a rodovia chegou a ser interditada por ordem judicial,
mas que sua recuperação dependia de acertos jurídicos entre o
Governo de Minas e o Governo Federal. Operações emergenciais
tapa-buracos estariam sendo realizadas no trecho.
O deputado Mosconi também cobrou recuperação das
rodovias federais que ligam Poços de Caldas a Andradas, a Muzambinho
e a Machado, contempladas, segundo ele, com pouco mais que uma
operação tapa-buraco. O representante do DNIT informou, a pedido dos
deputados, sobre os contratos de conservação da BR-040 no trecho
entre Curvelo e Felixlândia, e no trecho de Conselheiro Lafaiete.
Disse também que a sinalização vem sendo atualizada a um custo de R$
50 milhões. Para a construção do Rodoanel de Belo Horizonte, já
haveria licença ambiental e o projeto será licitado. Para a
duplicação de 90% da estrada até Governador Valadares, já haveria
licença ambiental e a execução está prevista até 2012.
Propagandas de velocidade devem ser
proibidas
O deputado Doutor Rinaldo (PSB) cobrou das
montadoras sua parcela de responsabilidade no congestionamento do
trânsito e na diminuição dos acidentes. "Elas devem gastar parte de
sua verba de marketing nas campanhas educativas", propôs. Com
o apoio de Rosely Fantoni, Doutor Rinaldo apresentou requerimento de
ofício ao Congresso pedindo a elaboração de projeto de lei obrigando
as montadoras a veicularem campanhas educativas e suprimindo as
propagandas que estimulem a velocidade e as infrações às leis de
trânsito.
Requerimento dos deputados Carlos Mosconi e Gustavo
Valadares pede à Secretaria de Estado de Educação e ao Ministério da
Educação a inserção da disciplina Educação para o Trânsito, conforme
o artigo 76 do Código Nacional de Trânsito, nos currículos
escolares.
Presenças: Deputados
Carlos Mosconi (PSDB), presidente da Comissão de Saúde, e Gustavo
Valadares (DEM), presidente da Comissão de Transportes, Comunicação
e Obras Públicas. Deputados Hely Tarquínio (PV), Carlos Pimenta
(PDT), Doutor Rinaldo (PSB) e Paulo Cesar (PDT).
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