Deputados criticam transferência da Rodoviária de BH para Calafate

A transferência da Rodoviária de Belo Horizonte para o Bairro Calafate, na Região Oeste da cidade, foi condenada pelo...

18/03/2008 - 00:00
 

Deputados criticam transferência da Rodoviária de BH para Calafate

A transferência da Rodoviária de Belo Horizonte para o Bairro Calafate, na Região Oeste da cidade, foi condenada pelos deputados da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais e dividiu a opinião dos convidados que participaram de audiência pública para debater o assunto, nesta terça-feira (18/3/08). O deputado Délio Malheiros (PV), autor do requerimento para a realização da reunião, sustentou que o projeto tem incoerências jurídicas e técnicas. Segundo ele, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) não teria competência legal para fazer a transferência, porque os transportes intermunicipal e interestadual devem ser regulados pelo Estado.

O deputado também disse que parte do terreno que seria utilizado para as obras é do Estado, que não encaminhou à Assembléia pedido de autorização legislativa para a doação do imóvel. Délio Malheiros defendeu a construção de terminais menores e descentralizados. "A construção de um grande terminal irá apenas deslocar o problema para outra região", afirmou. Para o deputado, outra questão que precisa ser analisada é a revisão dos valores das passagens. "Em Minas Gerais, as passagens são cobradas pelo trecho percorrido. Com a transferência da rodoviária, os trajetos serão modificados", ponderou. Ele também leu um parecer do Ministério Público confirmando que a doação do imóvel deve ser feita com autorização da ALMG.

Outro ponto de preocupação do deputado é a cobrança da taxa de embarque, que hoje é feita pela PBH por meio de decreto. Segundo ele, a empresa que vencer a licitação para ser a concessionária do terminal terá que arcar com R$ 40 milhões para a construção da nova rodoviária, correndo o risco de, a qualquer momento, por um questionamento judicial, perder o direito de cobrar a tarifa de embarque.

BHTrans não descarta descentralização dos terminais

A defesa do projeto foi feita pelo assessor da Presidência da BHTrans, Ricardo Lott. Ele afirmou que a prefeitura não estaria extrapolando sua competência ao transferir o terminal para o Calafate. "Não estamos tratando do transporte interestadual, e sim de uma infra-estrutura que está na cidade para atender aos usuários", explicou. Ele acrescentou que em todas as cidades as rodoviárias são administradas pelas prefeituras.

Quanto à descentralização dos terminais, Ricardo Lott informou que a medida não está descartada. Segundo ele, foram feitos estudos para a construção de três terminais, iniciando pelo Calafate. A construção dos outros dois ficaria condicionada à existência de demanda. "É preciso pensar no passageiro e não no ônibus em si", argumentou o representante da BHTrans, ao apresentar o dado de que 70% dos desembarques feitos em BH são de pessoas que vão permanecer na cidade. Metade dos outros 30% não chegam a sair do terminal e seguem imediatamente para outros destinos da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Ricardo Lott também acredita que o movimento no Centro da cidade ocorre muito mais em função dos deslocamentos urbanos que dos usuários da rodoviária. Hoje, 25 mil passageiros transitam pela rodoviária durante todo dia, enquanto o tráfego de pessoas e veículos na região central é de cerca de 1,5 milhão de pessoas por dia.

O procurador-geral da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Frederico Stefano de Oliveira Arrieiro, também defendeu o projeto. Ele disse que uma comissão especial foi criada no Legislativo municipal para estudar a situação da rodoviária e, depois de várias discussões, concluiu pela apresentação do projeto de lei para a construção do novo terminal. "A competência do município é patente por se tratar de um equipamento urbano de interesse do município", concluiu.

Para o presidente da Associação SOS Bairros, Guilherme Neves, a preocupação maior dos moradores é com a remoção das famílias e os valores das indenizações, que ficará a cargo da empresa que vencer a licitação para ser a nova concessionária da rodoviária. "Estão transferindo para uma empresa privada uma questão que é social", indignou-se. Ele também não acredita que o problema será resolvido, porque a região do Calafate também é muito congestionada. Neves denunciou que os estudos de impacto ambiental e de vizinhança não foram feitos.

A diretora de Cidades do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Jurema Marteleto Rugani, também não acredita que a Região Oeste seja a mais indicada para abrigar o novo terminal. Ela lembrou que essa região é tradicionalmente residencial e que possui gargalos, como o Departamento de Infantaria do Prado e o Parque de Exposições da Gameleira. Para ela, os problemas de trânsito de BH só serão resolvidos com investimentos orientados para um metrô eficiente, com a conclusão das obras iniciadas e a ampliação das linhas. Quando à remoção das famílias, a diretora do IAB disse que a população local tem o direito de ser ouvida e de saber como será feita a remoção.

ALMG pode ter comissão especial para tratar do novo terminal

O deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT) quer criar uma comissão especial na ALMG para estudar os impactos da transferência do terminal rodoviário para o Calafate e ainda fiscalizar a utilização do prédio da atual rodoviária, após sua desativação. Segundo ele, há 16 anos, quando ainda era vereador de Belo Horizonte, apresentou um projeto na Câmara com o intuito de retirar a rodoviária do Centro da cidade. No entanto, o deputado não acredita que o Calafate comporte o empreendimento, porque também tem graves problemas de trânsito. Ele afirmou que o prefeito Fernando Pimentel (PT) está deixando um problema para o seu sucessor, e que a transferência é inoportuna. "Encerro minha vida pública se a rodoviária for para o Calafate", anunciou.

A criação da comissão especial teve o apoio de todos os deputados presentes à reunião. O deputado Antônio Júlio (PMDB) criticou que o plano de remoção e reassentamento dos moradores fique a cargo da concessionária e conclamou as associações a se mobilizarem contra isso. O deputado Walter Tosta (PMN) também disse que a população tem que respaldar as ações dos deputados e disse que irá convocar os moradores para uma nova reunião que será marcada para dar continuidade ao assunto. O deputado Fábio Avelar (PSC) também acredita que o projeto é inoportuno e acredita que a construção do novo terminal pode ser a transferência de um problema.

Vários representantes de associações de moradores que acompanhavam a reunião se manifestaram contrariamente à transferência da rodoviária.

Projeto sobre medição individualizada de água está pronto para Plenário em 2º turno

Durante a reunião, foram aprovados pareceres de 2º turno a dois projetos que estavam na pauta. Eles estão agora prontos para serem analisados pelo Plenário. Um deles, o Projeto de Lei (PL) 973/07, dos deputados Fábio Avelar (PSC) e Adalclever Lopes (PMDB), disciplina a medição individualizada do consumo de água nos prédios e condomínios do Estado. O relator da matéria, deputado Antônio Júlio, opinou pela aprovação da proposição sem alterações ao texto aprovado em 1º turno. Segundo o projeto, a instalação de hidrômetros individuais nessas edificações passará a ser facultativa, podendo ser requerida pelo síndico ou responsável pelo prédio, após as devidas adaptações das instalações hidráulicas.

O PL 1.233/07, do deputado Jayro Lessa (DEM), determina que as administradoras de cartões de crédito que atuam no Estado ficam obrigadas a incluir, nas correspondências promocionais e de cobrança enviadas a seus clientes, e em suas páginas na internet, as seguintes informações: razão social da empresa administradora do cartão, endereço completo da sede ou filial em Minas Gerais, número do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) e o telefone de atendimento ao consumidor. O projeto também determina que o descumprimento das disposições poderá acarretar sanções previstas no Código de Defesa do Consumidor. O relator do projeto, deputado Délio Malheiros, opinou por sua aprovação com a mesma redação aprovada em 1º turno.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice; Antônio Júlio (PMDB), Walter Tosta (PMN), Fábio Avelar (PSC) e Alencar da Silveira Jr. (PDT).

 

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