Debate colhe subsídios para aperfeiçoamento do projeto Bolsa Verde

Uma semana depois de participar do ciclo de debates sobre licenciamento ambiental, a cúpula do Sistema Ambiental do E...

17/03/2008 - 00:03
 

Debate colhe subsídios para aperfeiçoamento do projeto Bolsa Verde

Uma semana depois de participar do ciclo de debates sobre licenciamento ambiental, a cúpula do Sistema Ambiental do Estado volta à Assembléia Legislativa de Minas Gerais para o Debate Público Bolsa Verde: Instrumento econômico de gestão ambiental, na tarde desta segunda-feira (17/3/08). O secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, e o diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Humberto Candeias Cavalcanti, estiveram presentes, bem como o vice-governador Antônio Augusto Anastasia. O vice-governador, em entrevista à imprensa, elogiou a realização do debate, por ser o meio ambiente uma questão que interessa a todos.

O debate público, presidido pelo deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente, foi convocado com o objetivo de colher subsídios e aperfeiçoamentos para o Projeto de Lei 952/07, de autoria do deputado Roberto Carvalho (PT). A proposta cria o Bolsa Verde, que é um programa de catalogação, identificação e preservação de nascentes de água no Estado, por meio de incentivos financeiros a proprietários rurais.

Souza Cruz fez um resumo do debate sobre licenciamento ambiental e falou sobre os rumos abertos para um relacionamento conservacionista entre o produtor e o ambiente. Em seguida relatou os objetivos da proposta do deputado petista, que consiste em remunerar produtores rurais por serviços ambientais prestados na forma de proteção à biodiversidade e preservação ou recuperação de áreas de recarga hídrica

Danos irreversíveis - Roberto Carvalho comunicou que o próprio secretário de Meio Ambiente lhe teria dito que "floresta tem que ser remunerada", dando a senha para o desenvolvimento da idéia do Bolsa Verde. Citou dados inquietantes sobre os prejuízos irreversíveis que a ação humana já teria causado ao meio ambiente e autores segundo os quais é tarde para medidas preventivas, e que a reparação dos danos terá custos altíssimos. "A mente infantil do homem não entende a delicada teia de relações que mantém o equilíbrio da natureza", disse o deputado.

Ao justificar seu projeto que institui a Bolsa Verde, Carvalho disse que a guarda de bens necessários a toda a sociedade, com destaque para a água, está nas mãos dos homens e mulheres rurais que nada recebem por esse serviço. "Queremos transformar produtores rurais em produtores ambientais", afirmou.

Bolsa Floresta - A coordenadora do Programa de Mudanças Climáticas do Governo do Amazonas, Marina Tereza do Amaral Campos, discorreu sobre o programa Bolsa Floresta, implantado pelo governo amazonense a partir de setembro de 2007. Ela disse que 2 mil famílias em vários núcleos do Estado estariam recebendo uma bolsa para não avançar seus plantios sobre a floresta e para desenvolver atividades econômicas que não produzam fumaça.

Segundo ela, a bolsa tem valor irrisório para os padrões do Brasil mais civilizado, mas os R$ 50 mensais são representativos, já que a renda familiar média percapita é de R$ 28. Marina Campos disse que a preferência é pagá-los à mulher, que sabe aplicar melhor o dinheiro. O governo do Amazonas já gastou R$ 800 mil com essas famílias, e outros R$ 1,1 milhão com etapas associativas e coletivas do projeto. Para ela "comando e controle da questão ambiental se tornam questões secundárias quando são criadas soluções inovadoras". Ela informou ainda que 98% das florestas do Estado estão intactas e que seqüestram anualmente até 139 milhões de toneladas de carbono da atmosfera.

Projeto piloto

Em seu pronunciamento, o diretor-geral do IEF, Humberto Cavalcanti, afirmou que a aprovação do PL 952/07, que institui o programa Bolsa Verde, é fundamental para a ampliação das ações atuais de pagamento de serviços ambientais desenvolvidas pelo Instituto. "Sem essa aprovação, teremos muita dificuldade para essa ampliação", afirmou.

Cavalcanti fez um relato dos convênios já firmados pelo IEF para o pagamento de serviços ambientais, que prevêem incentivos financeiros a proprietários rurais. Os convênios foram pactuados entre o IEF e as prefeituras de Extrema (Sul de Minas) e Itabira (Região Central), e as ONGs Ambiente Brasil e Amanhágua. No ano agrícola de 2008/2009, segundo o diretor, serão investidos nos projetos R$ 2,12 milhões em custeio e mais R$ 1,53 milhão no pagamento de incentivos aos proprietários rurais. A venda de créditos de carbono resultantes do projeto já está sendo negociada com o Banco Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW), agente financiador do Ministério de Cooperação Internacional da Alemanha (BMZ).

Cavalcanti também descreveu o Projeto de Proteção da Mata Atlântica (Promata-MG), com o objetivo de promover ações de proteção, recuperação e uso sustentável na região da Mata Atlântica em Minas Gerais. Desenvolvido desde 2003, o projeto atua em 15 unidades de conservação estaduais e hoje prioriza a formação de corredores ecológicos entre áreas florestais no entorno dos parques estaduais do Rio Doce, Itacolomi e Serra do Brigadeiro.

Assoreamento

Exemplos extremos de assoreamento e outros problemas causados pela falta de cuidado com o solo foram ilustrados pelo coordenador-geral das Assessorias da Agência Nacional de Águas (ANA). Fotos exibidas durante seu pronunciamento mostraram até uma ferrovia que ficou suspensa no ar após o terreno em que ela se apoiava ter sido levado pela erosão. Segundo ele, a ANA também oferece incentivos à conservação ambiental, por meio do Projeto Produtor de Água no Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Em Minas, esse programa atua no município de Extrema, por meio de convênio com o IEF.

Já o professor Herly Dias, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), descreveu outro programa desenvolvido em parceria com o IEF, em área rural na divisa dos municípios de Viçosa, Guaraciaba e Porto Firme. Uma equipe da UFV ofereceu cursos e material para os proprietários rurais recuperarem nascentes fluviais da região. As atividades envolvem reflorestamento, cercamento de nascentes, construção de curvas de nível e até pequenas barragens.

Mais uma experiência de remuneração ao produtor rural que preserva a natureza em sua propriedade foi apresentada pelo diretor de Meio Ambiente da Prefeitura de Extrema, Paulo Henrique Pereira. O município, cuja bacia hidrográfica abastece o Estado de São Paulo, criou em 2003 o Programa Conservador das Águas, no qual os agricultores recebem R$ 159 por ano por hectare de sua propriedade. "Não se trata de subsídio nem de esmola; é justo remunerar o produtor porque ele presta um serviço à sociedade", afirmou Pereira.

O chefe da Assessoria Jurídica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Francisco Maurício Barbosa Simões, aplaudiu a iniciativa do deputado Roberto Carvalho, mas sugeriu dez aprimoramentos à proposta em tramitação na Assembléia. Ele propôs que o direito à remuneração se estenda a todos os produtores, e não apenas aos agricultores familiares. Simões disse ainda que o pagamento com títulos da dívida pública não é a melhor opção, pois eles não geram renda imediata para o produtor.

Conforme texto do substitutivo, o direito à remuneração está garantido a qualquer produtor, ressalvada a preferência dos agricultores familiares e a expansão gradativa do benefício, segundo regulamentação posterior.

Debates - Na fase de debates, o PL 952/07 foi elogiado pelo público, formado por professores, estudantes, representantes de organizações não-governamentais e de instituições ligadas ao meio ambiente e à agropecuária.

O deputado Antônio Carlos Arantes (PSC) pediu ao parlamentares rapidez na votação do projeto, que já está pronto para ser votado em 1º turno pelo Plenário. Já Almir Paraca (PT) considerou que a iniciativa veio no momento certo. Na opinião dele, a legislação ambiental, de modo geral, ainda precisa se modernizar para se adaptar aos novos tempos. "Esse projeto é só o começo. Ainda precisamos avançar mais para conseguirmos uma legislação mais atualizada possível".

 

 

 

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