Falta de leitos psiquiátricos dificulta atendimento de pacientes

A falta de leitos psiquiátricos em Minas Gerais, o alto índice de mortalidade das pessoas portadoras de sofrimento me...

12/03/2008 - 00:01
 

Falta de leitos psiquiátricos dificulta atendimento de pacientes

A falta de leitos psiquiátricos em Minas Gerais, o alto índice de mortalidade das pessoas portadoras de sofrimento mental e a freqüente recusa das instituições de realizar internações são algumas das dificuldades enfrentadas pelas famílias e que foram apresentadas pelo presidente da Associação de Amigos, Familiares e Doentes Mentais do Brasil (AFDM), Marival Severino da Costa. Ele participou de audiência pública conjunta das Comissões de Saúde e de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira (12/3/08), que contou com a presença de familiares de doentes mentais e de representante da Secretaria de Estado de Saúde. A reunião foi solicitada pelo deputado Délio Malheiros (PV).

Marival Severino afirmou que existe hoje um déficit de mais de 5 mil leitos psiquiátricos em Minas Gerais. Ele explicou que essa falta de leitos é muito grave, pois eles são a porta de entrada para o tratamento desses pacientes. Segundo o presidente da AFDM, a Lei 10.216, de 2001, que trata do atendimento aos doentes mentais, vem sendo interpretada no sentido de diminuir o número de instituições de atendimento psiquiátrico e o número de internações. "A instituição hospitalar é fundamental para o início do tratamento psiquiátrico", destacou.

De acordo com Marival Severino, hoje o índice de mortalidade das pessoas portadoras de sofrimento mental no Brasil é de 89%. "É necessário iniciar um movimento para modificar a política atual", considerou. Ele disse ainda que não defende o confinamento do paciente, mas sim a sua internação durante o surto psicótico. "Apenas sedar o paciente com surto psicótico e medicá-lo, como vem sendo praticado hoje, não resolve o seu problema e o das famílias", considerou. Marival Severino citou exemplo de um assassinato cometido por um doente mental, após ser sedado e mandado embora da instituição.

Abaixo-assinado - Durante a reunião, familiares de portadores de sofrimento mental distribuíram um abaixo-assinado com o objetivo de defender o funcionamento dos hospitais psiquiátricos. Marival Severino afirmou que o abaixo-assinado pretende reverter essa situação. Segundo ele, a diminuição do número de leitos e de instituições vêm contribuindo para que os doentes mentais acabem morando nas ruas. "Hoje, os doentes mentais são a segunda maior população de rua", afirmou. Nos debates, vários familiares se manifestaram contrariamente ao fechamento dos hospitais psiquiátricos.

Secretaria de Saúde está avaliando os hospitais psiquiátricos

Desde 2002, a Secretaria de Estado de Saúde (SES), juntamente com o Governo Federal e com os municípios, vem realizando uma avaliação anual dos hospitais psiquiátricos. Essa informação foi trazida pela coordenadora estadual de Saúde Mental da SES, Marta Elizabeth de Souza. Ela afirmou que, em 2002, existiam cerca de 300 hospitais psiquiátricos no Brasil e que, atualmente, são cerca de 240.

Marta Elizabeth de Souza explicou que são avaliadas as condições de infra-estrutura das instituições, de assistência e a situação dos pacientes. Segundo ela, quando os hospitais não alcançam mais de 61% na avaliação, é concedido o prazo de três meses para realizarem as modificações necessárias. Se após esse tempo os problemas não forem solucionados, eles entram em processo de descredenciamento no SUS.

Ela afirmou ainda que o governo federal vem trabalhando desde 2002 na implantação de uma rede de assistência que substitua os hospitais. De acordo com a coordenadora de Saúde Mental, o Estado vem investindo recursos para a criação dessa rede, sendo que já existem cerca de 300 equipes atuando junto com as equipes de atenção primária.

Clínica - Marta Elizabeth de Souza ainda falou sobre a Clínica Nossa Senhora de Lourdes, localizada em Belo Horizonte, que sofreu denúncias feitas por vizinhos, em 2007, de maus tratos de pacientes. Ela afirmou que, antes das denúncias, a secretaria já havia visitado a clínica, constatado irregularidades e informado à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Segundo ela, após as denúncias, a PBH abriu um processo de intervenção no local, com o objetivo de melhorar a situação dos pacientes. Alguns familiares de doentes mentais presentes na reunião se manifestaram contrariamente ao fechamento da clínica e alegaram que as denúncias são infundadas.

Deputados defendem atendimento digno e humanitário

Vários deputados presentes na reunião defenderam a adoção de políticas públicas e de recursos financeiros para melhoria do atendimento aos pacientes portadores de sofrimento mental e aos seus familiares. O deputado Délio Malheiros afirmou que o fechamento dos hospitais psiquiátricos não pode ser feito sem a adoção de outras políticas de atendimento pelo Estado. "Hoje as famílias estão acolhendo os pacientes sem o apoio do Estado", destacou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), disse que a Lei 10.216 não é incompatível com as reivindicações dos familiares. "Não é a lei que tem que ser modificada. O que tem que mudar é a mentalidade dos agentes públicos, que precisam entender que a hospitalização continua sendo necessária em alguns momentos e casos", considerou. O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Mosconi (PSDB), destacou que, na época em que a lei foi sancionada, a situação dos hospitais era muito ruim. "Os hospitais eram depósitos de seres humanos", afirmou. Entretanto, Carlos Mosconi considerou que atualmente ainda faltam recursos e estrutura para o atendimento adequado dos pacientes.

O deputado Ruy Muniz (DEM) também defendeu a destinação de mais recursos para o tratamento dos doentes mentais. O deputado Célio Moreira (PSDB) afirmou que a luta dos familiares por um atendimento adequado é antiga e que foi aprovado no orçamento desse ano a destinação de recursos para a área. Ele também disse que uma comissão está sendo montada no Estado para desenvolver políticas públicas de atendimento aos portadores de sofrimento mental.

Requerimento - Já o vice-presidente da Comissão de Saúde, deputado Hely Tarqüínio (PV), considerou que é preciso implantar a rede de assistência no Estado. Ele afirmou que irá apresentar requerimento na próxima reunião da Comissão de Saúde com o objetivo de levar à Secretaria de Estado de Saúde as questões debatidas na audiência pública e assim encontrar soluções para o problema do atendimento dos doentes mentais.

Comissão vai se reunir com Conselho Estadual de Saúde

A Comissão de Saúde aprovou, em reunião realizada antes do início da reunião conjunta, requerimento para discutir, junto ao Conselho Estadual de Saúde, questões relativas ao orçamento no Estado, e à política de pessoal do setor. De acordo com presidente da comissão e autor do requerimento, deputado Carlos Mosconi (PSDB), a ALMG e o Governo do Estado precisam atuar em conjunto, já que possuem objetivos comuns.

Também foram aprovados 18 requerimentos que dispensam apreciação do plenário.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente da Comissão de Saúde; Hely Tarqüínio (PV), vice-presidente; Carlos Pimenta (PDT); Doutor Rinaldo (PSB); Ruy Muniz (DEM); Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos; Luiz Tadeu Leite (PMDB), vice-presidente; João Leite (PSDB); Délio Malheiros (PV) e Célio Moreira (PSDB); e, além dos convidados já citados, o vereador de Belo Horizonte, Antônio Pinheiro.

 

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