Governo quer incentivar recuperação de terras
degradadas
O incentivo a técnicas agrossilvipastoris
integradas ou orgânicas é uma das diretrizes que o Governo do Estado
pretende imprimir na revisão das políticas de crédito agrícola e
licenciamento ambiental. O anúncio foi feito pelo secretário de
Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos
Carvalho, e outros representantes governamentais, durante exposição
realizada na tarde desta terça-feira (11/3/08) no Plenário da
Assembléia Legislativa de Minas Gerais, dentro da programação do
Ciclo de Debates Licenciamento Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável. O evento foi coordenado, à tarde, pelo deputado
Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da Comissão de Política
Agrocpecuária e Agroindustrial. Cerca de 40 deputados e deputadas
acompanharam os debates.
As palavras de Carvalho foram reforçadas pelo
secretário adjunto de Estado de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Paulo Afonso Romano. Ele ressaltou que as pastagens
ocupam hoje 43,08% da cobertura vegetal do Estado, e que mais da
metade dessa área é degradada. O incentivo a projetos que recuperem
essas áreas deverá vir tanto sob a forma de crédito facilitado
quanto na forma de facilitação do processo de licenciamento
ambiental.
Nesse sentido, José Carlos Carvalho afirmou que a
intenção é criar parâmetros de licenciamento diferenciados para
projetos de agricultura orgânica (que não utiliza agrotóxicos) e
para a agricultura integrada (que combina agricultura com pecuária
ou atividade florestal). Para ele, a monocultura é insustentável a
longo prazo, e terá necessariamente que ser substituída no
futuro.
A proposta defendida pelo secretário recebeu o
apoio de outros participantes do ciclo de debates, como o
coordenador executivo do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona
da Mata, Glauco Regis. Ele protestou que hoje existem proprietários
que fizeram brotar novamente nascentes d'água suficientes para
sustentar oito famílias em terras antes degradadas, por meio de
práticas ecologicamente sustentáveis, mas que não recebem qualquer
incentivo por isso.
Vale do Rio Doce é exemplo de devastação
José Carlos Carvalho usou o exemplo do Vale do Rio
Doce para mostrar como a preservação ambiental é fundamental para o
futuro da agropecuária mineira. Segundo ele, na década de 70 a
pecuária local apresentava um índice de três animais por hectare.
Hoje, após décadas de exploração predatória, que se seguiram ao
desmatamento intensivo, esse mesmo índice está reduzido a 0,6 animal
por hectare. "Jamais teremos agricultura competitiva sem solos
férteis e águas fartas", afirmou.
Esse diagnóstico foi reforçado pela deputada Elisa
Costa (PT), que tem sua principal base eleitoral no Vale do Rio
Doce. Ela pediu, no entanto, que a legislação dê um tratamento
diferenciado aos pequenos proprietários, que são mais vulneráveis
aos abusos da fiscalização. Nesse sentido, o secretário de Meio
Ambiente reafirmou que o Decreto 44.309, que trata das penalidades
adminstrativas para infrações ambientais, será mesmo suavizado por
meio de revisão feita pela Advocacia Geral do Estado. "O ideal é que
80% dos produtores não precisem de licenciamento ambiental", afirmou
o secretário adjunto de Agricultura, Paulo Romano. Estes seriam
justamente os produtores de pequeno e médio porte, que seriam
dispensados do licenciamento, desde que se cadastrassem junto aos
órgãos responsáveis.
Secretário anuncia envio de nova Lei
Florestal
Questionado pelo deputado Getúlio Neiva (PMDB), o
secretário José Carlos Carvalho anunciou que o governador Aécio
Neves deverá enviar à Assembléia, ainda em março ou no máximo em
abril, um projeto de lei que irá atualizar a Lei 14.309, de 2002,
que dispõe sobre as políticas florestal e de proteção à
biodiversidade no Estado.
Por outro lado, Carvalho voltou a rejeitar pedidos
dos produtores de suspensão dos efeitos das multas aplicadas com
base no Decreto 44.309, e enfatizou que a única solução possível é a
revisão do texto, que está para sair. O representante da Associação
dos Mineradores de São Tomé das Letras, Antônio Francisco da Silva,
foi um dos que pediu a revisão do decreto. Ele apresentou uma lista
de reivindicações do setor, entre as quais a solicitação de que a
revisão das regras seja feita pela Assembléia Legislativa, e não por
um novo decreto. Entre outras reivindicações, está a criação de um
conselho fiscalizador do Sistema Estadual do Meio Ambiente (Sisema)
e um convênio deste com o Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM), a fim de padronizar exigências burocráticas e
cadastrais.
Além de Carvalho, Paulo Romano e Glauco Regis,
também fizeram pronunciamentos a diretora-geral do Instituto Mineiro
de Gestão das Águas (Igam), Cleide Pedrosa; o representante da
Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Minas Gerais
(Fetaemg), Eduardo Nascimento; e o superintendente técnico da
Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Affonso
Damásio Soares.
Cleide Pedrosa enfatizou a possibilidade dos
produtores utilizarem a chamada "denúncia espontânea" para
regularizar sua situação em relação à utilização de recursos
hídricos. Pela denúncia, o produtor reconhece a utilização da água e
ganha um prazo para regularizar o empreendimento. "Do fim de
setembro até agora foram 40 mil registros. O prazo vai até 31 de
julho", afirmou a diretora.
Eduardo Nascimento criticou a expansão da
monocultura da cana no Estado, que para ele está descontrolada. Já
Affonso Soares afirmou que a própria iniciativa do governo de rever
o Decreto 44.309 mostra que as queixas dos produtores eram
justificadas. "Temos que deixar os formalismos de lado para nos
concentrarmos nos danos ambientais", defendeu o dirigente agrícola.
Para ele, o ciclo de debates valeu a pena para mostrar às
autoridades o que está acontecendo no campo.
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