| Promotor cobra mais participação da sociedade em questões 
            ambientais Cerca de 97% ações civis públicas ambientais são 
            propostas pelo Ministério Público (MP). Para Alex Fernandes 
            Santiago, coordenador-geral das promotorias de Justiça de Defesa da 
            Bacia do São Francisco, o número indica que a sociedade civil 
            organizada ainda está longe do Poder Judiciário na luta pela defesa 
            do meio ambiente.  O promotor, que participou nesta segunda-feira 
            (10/3/08) do último painel do Ciclo de Debates Licenciamento 
            Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, realizado pela 
            Assembléia Legislativa de Minas Gerais, cobrou uma participação mais 
            efetiva de associações e organizações não-governamentais nas 
            questões ambientais. "Reconheço que o MP tem instrumentos legais que 
            lhe facilitam a vida, como o inquérito civil e o termo de ajuste de 
            conduta, mas a sociedade também tem condições de fazer valer seus 
            direitos, principalmente por meio da ação popular e da ação civil 
            pública. Não basta se limitar ao mero denuncismo", afirmou.  O promotor mostrou-se preocupado com a expansão do 
            setor sucro-alcooleiro, com a queima da palha de cana e com as 
            siderúrgicas que não se preocupam com o auto-suprimento. "As 
            empresas acabam desmantando e incentivando o comércio ilegal de 
            carvão. Até porque não há monitoramento efetivo", afirmou.  Falhas - Já para o 
            integrante do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), Maurício 
            Boratto, a situação do pós-licenciamento ambiental no Estado está 
            comprometida. Uma pesquisa feita por ele sobre as atividades 
            mineradoras chegou à conclusão de que não há acompanhamento 
            sistemático do setor. "Segundo os próprios técnicos ambientais, a 
            preferência é por fiscalizar as empresas que estão em processo de 
            licenciamento. As já licenciadas ficam absolutamente abandonadas", 
            informou.  Maurício Boratto defendeu a realização de 
            audiências públicas para que haja ampla participação da sociedade 
            nas questões ambientais. "As audiências não podem ser apenas para 
            referendar decisões políticas das autoridades, daí a importância da 
            participação de maior número possível de pessoas", afirmou.  Tendência à profissionalização preocupa 
            técnico Por sua vez, o diretor de Gestão Participativa da 
            Semad, Fernando Antônio Leite, criticou os que esperam um controle 
            social ofertado pela legislação. Para ele, controle social não é 
            dádiva do Governo, mas uma conquista da sociedade. Disse ainda que 
            as áreas de saúde e de meio ambiente são aquelas em que está mais 
            desenvolvido o controle social, e que a comunidade envolvida nos 
            comitês de bacia hidrográfica já é representada por mais de 5 mil 
            pessoas. No entanto, Leite também manifestou preocupação com 
            uma tendência que estaria surgindo na militância ambiental, de pedir 
            salários ou compensações financeiras por uma atividade que deveria 
            ser voluntária, ideológica e ato de cidadania. Uma afirmação 
            polêmica feita por ele é a de que os grandes empreendimentos têm 
            maior controle social e até internacional, e que as pequenas 
            propriedades seriam predatórias. "Os mil hectares que sobraram da 
            Mata do Jambreiro foram preservados graças à MBR", afirmou. Para 
            ele, as entidades ambientalistas precisam elaborar uma estratégia de 
            aliar-se aos produtores rurais. Onze pessoas se inscreveram para apresentar 
            questões ao debate. A principal foi o deputado Padre João (PT), que 
            questionou a estrutura técnica insuficiente da Feam e a perda de 
            técnicos por razões salariais. O parlamentar pediu também que haja 
            transparência total das audiências públicas prévias ao licenciamento 
            ambiental. Maurício Boratto demonstrou que realmente os 
            salários estão em queda. O secretário José Carlos Carvalho disse que 
            o Governo criou uma "gratificação ambiental" que ameniza a situação 
            salarial dos técnicos, e que a cúpula ambiental se preocupa em 
            aperfeiçoar o instrumento das audiências. "Queremos dar chance de se 
            conhecer os impactos previstos no EIA-Rima, se foram subestimados, 
            ou outros ocultos não tratados nas etapas iniciais", disse ele. A 
            questão do comparecimento também é assunto de discussão. Se 
            comparecem 2 mil pessoas, significa que a mobilização foi bem feita 
            e a participação é boa, mas tanta gente assim dificulta o debate 
            técnico, segundo Carvalho. Isabel Ribeiro, produtora rural de Passos, arrancou 
            aplausos da platéia com uma defesa emocionada do pequeno produtor. 
            "A gente vive encurralada, com esperança no próximo ano. Recebi uma 
            multa por limpar 0,78 hectare de pasto onde nasceram uns 
            assa-peixes. As leis não nos deixam trabalhar. Queriam que eu 
            plantasse árvores nativas. Tenho um vizinho que foi multado porque 
            seus bezerros entraram para pastar na reserva legal de sua 
            propriedade. Ora, se aquilo é do Governo, que pague pela reserva 
            legal, cerque e vigie", desabafou Isabel Ribeiro. Manifestaram-se ainda Cíntia Cardoso, da Anama; 
            Zezé Martins, ex-prefeito de Delfinópolis; Marcelino Marra, de 
            Sacramento; Zé Tinho, fiscal de meio ambiente de Passos; Eduardo 
            Bailon; Orlando Rodon, entre outros. Em suas considerações finais, o deputado Antônio 
            Carlos Arantes alertou que os grandes grupos financeiros estão 
            comprando as melhores terras do Sul de Minas, como fizeram em São 
            Paulo nos últimos anos, e que a burocracia ambiental é um forte 
            fator a afugentar o produtor rural. "Ninguém tem R$ 600 por hectare 
            para regularizar sua reserva legal", disse ele.   
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