Indicadores ambientais ajudam na definição de políticas públicas

As palestras da tarde do primeiro dia do Ciclo de Debates Licenciamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, real...

10/03/2008 - 00:00
 

Indicadores ambientais ajudam na definição de políticas públicas

As palestras da tarde do primeiro dia do Ciclo de Debates Licenciamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, realizado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta segunda-feira (10/3/08), tiveram como temas os instrumentos de gestão ambiental e o controle social, ambos apresentados sob a ótica de sua eficiência na regularização e eficácia no licenciamento e na proteção do meio ambiente. Os trabalhos foram coordenados pelo deputado Padre João (PT), que destacou a necessidade de um consenso em toda a sociedade sobre a qualidade de vida para os cidadãos de hoje e para as gerações futuras.

A superintendente de Coordenação Técnica da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Simone Ribeiro Rolla, apresentou uma ferramenta chamada Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE). Trata-se de um indicador que existe desde 1981, mas que a falta de tecnologia e metodologia naquela época impediu sua implementação até a década de 90. Em Minas, sua utilização foi iniciada em 2003, funcionando como um instrumento capaz de definir as zonas de desenvolvimento segundo as peculiaridades regionais, bem como as áreas estratégicas para proteção e conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável do Estado. Simone Rolla explicou que o ZEE é uma ferramenta de consulta, de recomendação, "usada para subsidiar a análise ambiental a respeito da viabilidade ou não da implantação de determinado empreendimento".

Outro indicador com a mesma função consultiva foi mostrado pelo chefe de gabinete da Semad, Augusto Henrique Lio Horta. Ele apresentou a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), cujo objetivo básico é incluir a questão ambiental nas políticas públicas setoriais. "Este é também um instrumento de inteligência, um processo de avaliação de políticas, planos e programas de governo para possibilitar que o tomador de decisões leve em conta, o mais cedo possível, a variável ambiental", disse Horta. A AAE, em resumo, finalizou, é uma ferramenta para esclarecimento, antecipação de problemas e hierarquização de prioridades.

Já o presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), José Cláudio Junqueira Ribeiro, mostrou que os Indicadores de Qualidade Ambiental são utilizados para avaliar quantitativamente a qualidade do meio ambiente. Nesse sentido, são coletadas informações sobre a qualidade da água, do ar e de outros ambientes que, reunidas de forma sistemática, são indicadores do desempenho das políticas ou processos que têm impacto sobre o meio ambiente. Junqueira mostrou um gráfico da evolução da qualidade ambiental no Estado desde 1977, provando que a melhoria é gradual, porém lenta. Segundo ele, a tendência é de que essa qualidade chegue a um nível razoável dentro de 25 anos, mas o desafio é antecipar esse prazo para dez anos.

O subsecretário de Inovação e Logística do Sistema Estadual do Meio Ambiente (Sisema), Thiago Grego, descreveu o Sistema Integrado de Informações Ambientais (Siam), projeto desenvolvido pelo Governo do Estado a partir de 2003, que unificou os sistemas operacionais dos diversos órgãos ambientais. Disponível no endereço www.siam.mg.gov.br, o sistema inclui dados socioeconômicos e culturais georeferenciados, Zoneamento Ecológico Econômico, normas ambientais e ferramentas de prestação de contas da produção mineral, entre outros recursos.

Queixas contra abusos marcam debate

Diversas críticas de produtores rurais e mesmo de deputados contra o que vêem como abusos da Polícia Ambiental e excessos da legislação foram feitas por participantes do debate sobre licenciamento ambiental. Entre elas estão queixas contra as regras que transformam 80% das terras da Serra da Mantiqueira em áreas de preservação e críticas ao decreto estadual que permitiu à empresa MMX, de propriedade do empresário Eike Batista, lançar mão de desapropriações de terras sob o argumento de utilidade pública. Alguns produtores também afirmaram que a aplicação da lei está levando a distorções como exigir o cercamento de regos d'água, considerados pela fiscalização como cursos d'água artificiais.

O deputado Antônio Júlio (PMDB) acusou o Governo do Estado de não aceitar questionamento das regras ambientais, e defendeu que a Assembléia rejeite a regulamentação promovida pelo decreto 44.309, de 2006, que trata de penalidades ambientais administrativas. O deputado também citou exemplos de taxas e multas ambientais excessivas, aplicadas a pequenos produtores. "O que está acontecendo é uma exploração do produtor rural", afirmou. Ele também acusou o governo de favorecer o setor mineral em detrimento do agropecuário.

As acusações de Antônio Júlio foram respondidas pelo secretário de Estado do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho. "Um governo que foge do debate dos grandes problemas não estaria aqui, como estamos hoje", afirmou. Ele reconheceu a legitimidade do deputado em criticar problemas verdadeiros, tais como a legislação que se aplica às reservas legais e áreas de preservação. Ele ressalvou, no entanto, que defender a anulação do decreto estadual é uma bandeira inócua, na medida em que o decreto apenas regulamenta, em nível estadual, a Lei Federal 9.605. "No momento em que o decreto seja declarado nulo, o Estado passará a aplicar a lei federal", afirmou. Ele ressaltou que parte dos problemas só será solucionada com a revisão da legislação federal.

O secretário também afirmou que a cobrança aos pequenos produtores pelo uso da água não é correta, já que ele não precisa de outorga para esse uso, mas apenas de se cadastrar junto aos órgãos competentes. Carvalho defendeu ainda a criação de mecanismos que premiem os produtores pela preservação do meio ambiente, e se comprometeu a encaminhar ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), ainda este mês, uma proposta de revisão do processo de licenciamento do setor agropecuário.

O presidente da Feam, José Cláudio Junqueira, reconheceu que as normas federais que regulamentam as áreas de preservação permanente não são aplicáveis à realidade mineira. "Há municípios que tem 70% de sua área classificada como área de preservação permanente, tais como Nova Lima", afirmou. Ele admitiu também que o setor mineral não foi tão atingido por essa legislação como o setor agropecuário, mas ressalvou que isso só acontece porque as empresas mineradoras se organizaram na época da discussão do marco regulatório da área ambiental, coisa que os produtores rurais não fizeram.

O deputado Padre João (PT) salientou que o debate desta segunda-feira (10) é uma etapa para o Seminário Legislativo Minas de Minas, programado para junho, e conclamou os presentes a participarem também do próximo evento.

 

 

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