Produtores lotam Plenário na abertura de debate sobre licenciamento

A criação de mecanismos econômicos de incentivo para empreendimentos sustentáveis e a desburocratização dos processos...

10/03/2008 - 00:00
 

Produtores lotam Plenário na abertura de debate sobre licenciamento

A criação de mecanismos econômicos de incentivo para empreendimentos sustentáveis e a desburocratização dos processos de licenciamento ambiental foram pontos defendidos pelo secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho, e pelo presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), José Cláudio Junqueira Ribeiro, na manhã desta terça-feira (10/3/08), primeiro dia do Ciclo de Debates Licenciamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais. No encontro, representantes do Sindicato da Indústria Mineral de Minas Gerais (Sindiextra) e da Federação dos Agricultores de Minas Gerais (Faemg) também criticaram a legislação.

Plenário lotado - Evento preparatório do Seminário Legislativo Minas de Minas, o ciclo foi acompanhado nesta terça por centenas de pessoas, que lotaram o Plenário. Entre elas, representantes de produtores rurais de regiões como o Sul de Minas que cobraram, com faixas afixadas nas galerias e discursos na fase de debates, a revisão imediata do Decreto 44.309, de 2006, que estabelece normas para o licenciamento e a autorização ambiental; tipifica e classifica as infrações e orienta a fiscalização. Os produtores reivindicam a revisão dos valores das multas, considerados elevados, e cobram nova classificação para as penalidades, além de considerarem o processo de licenciamento demorado e burocrático.

Um dos autores do requerimento para a realização do ciclo de debates, deputado Domingos Sávio (PSDB), também criticou o excesso de burocracia. "Não podemos submeter o pequeno produtor às mesmas exigências colocadas para os empreendimentos de grande impacto ambiental", defendeu. O deputado entregou um ofício ao secretário de Meio Ambiente, pedindo a suspensão imediata do decreto, para sua reavaliação e adaptação.

José Carlos Carvalho, que participou da abertura do evento e do primeiro painel - O novo desenho institucional do Sisema e análise interdisciplinar dos processos de regularização ambiental -, reconheceu que há uma discrepância entre a legislação, da forma como é concebida, e a realidade socioeconômica dos produtores. Ele informou que a Advocacia-Geral do Estado (AGE) está estudando alterações no Decreto 44.309, como a substituição das multas para infrações mais simples por advertência. Argumentou, no entanto, que o decreto está de acordo com a Lei Estadual 15.972, que, por sua vez, segue a Lei Federal 9.605.

Carvalho defendeu alterações na lei federal e afirmou que o problema dos produtores rurais não será resolvido com a legislação ambiental, e sim com política de agricultura. "Se a Secretaria de Agricultura certificasse o produtor por boas práticas de uso de agrotóxicos, por exemplo, esse produtor não precisaria passar pelo licenciamento ambiental", afirmou.

Criação do Sisema visa à maior qualidade ambiental

A criação do Sistema de Meio Ambiente (Sisema), que trabalha com a integração das três agendas ambientais; a descentralização dos processos de licenciamento pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), com as nove unidades regionais; e a incorporação ao Sisema de 500 técnicos de nível superior, por meio de concurso público, trouxeram mais agilidade aos processos de licenciamento, segundo Carvalho. Ele informou que o aumento dos processos de licenciamento foi de 6 mil, em 2002, para 42.344, em 2007.

O presidente da Feam, José Cláudio Junqueira, foi aplaudido ao defender que o licenciamento ambiental deve ser utilizado para grandes projetos, e não para pequenos agricultores e pequenas indústrias. Ele, que foi o primeiro palestrante da manhã de terça (10), ressaltou que a falta de regulamentação do artigo 225 da Constituição Federal, que prevê o estudo prévio para empreendimento de significativa degradação, levou à generalização dessa exigência.

Junqueira defendeu outros instrumentos de gestão, como zoneamento ecológico e econômico, avaliação ambiental estratégica, cadastro de atividade poluidora e instrumentos econômicos. Sobre este último aspecto, Junqueira afirmou que a adoção de instrumentos econômicos está sendo praticada internacionalmente como complemento ao licenciamento ambiental. "Precisamos introduzir incentivos ao setor produtivo que mostrem a importância da preservação ambiental", disse.

O sistema trifásico de licenciamento - licenças prévia, de instalação e de operação - também foi questionado pelo presidente da Feam. Segundo ele, o Brasil é o único país no mundo que adota estas três fases. Criticou ainda pontos da Resolução 1/86, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que disciplina o assunto, como a determinação do licenciamento ambiental contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de um projeto. "Isto é impossível de cumprir. É um equívoco", afirmou. Apresentou um aspecto importante da resolução, ao estabelecer que cada estudo ambiental deve apresentar os ônus e os benefícios sociais do projeto.

Como propostas para a situação atual, o presidente da Feam sugeriu que sejam desenvolvidos outros instrumentos autorizativos como cadastro, registro e alvarás. "Por que não agregar a avaliação ambiental aos alvarás?", perguntou Junqueira. Ele defendeu ainda a dispensa da licença prévia onde existam zoneamento e incentivos fiscais para o setor.

Sindiextra e Faemg criticam legislação

O diretor de Meio Ambiente do Sindicato da Indústria Mineral de Minas Gerais (Sindiextra), Vítor Feitosa, acredita que o modelo de gestão mais inovador é o dos recursos hídricos, que envolve poder público, sociedade e empreendedores. "O modelo de licenciamento que temos hoje é de 1981, quando não havia protagonismo social", disse. Na opinião de Feitosa, as regras de licenciamento deveriam ser claras e simples, e o processo, ágil. Ele defendeu a definição das competências de cada ente federado e também os critérios para o que é "significativa degradação ambiental".

A intensificação da fiscalização ambiental, com sanções rígidas para os produtores rurais, foi criticada pelo superintendente técnico da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Affonso Damásio Soares. "Não defendemos o descumprimento da legislação, apenas queremos que a lei leve em consideração a realidade do agricultor", explicou. Ele concordou com a fala do secretário de Meio Ambiente, que afirmou que a legislação ambiental transpôs uma situação urbana para o campo, e acrescentou que, em função disso, as multas aplicadas são desproporcionais à realidade do agricultor.

A implementação real do zoneamento ecológico e econômico, o aumento da alíquota do ICMS Solidário e a fiscalização de sua aplicação pelas prefeituras foram defendidas pela superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas. Ela criticou os baixos salários e a falta de condições de trabalho dos funcionários do Sisema. A superintendente da Amda também comentou uma faixa dos Sindicatos Unidos do Sudeste Mineiro afixada nas galerias, com os dizeres: "Preserve a agropecuária: só assim haverá desenvolvimento sustentável". De acordo com ela, o contrário também poderia ser dito: "Preserve o meio ambiente: só assim haverá agropecuária". Ela defendeu que haja respeito e cooperação das duas partes.

Debates - O deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), que fez a mediação dos debates, lembrou que a sociedade deve compreender o licenciamento ambiental não como uma mera etapa da implantação do empreendimento, mas também como um momento em que ela deve decidir se concorda ou não com esse empreendimento e em que termos. Ainda segundo ele, é preciso "reoxigenar" os conselhos com maior participação da sociedade.

Ciclo de Debates é oportunidade para sugerir alterações na política ambiental

Além do secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho, participaram da abertura o 1°-vice-presidente da ALMG, deputado Doutor Viana (DEM); o vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, deputado Fábio Avelar (PSC), e um dos autores do requerimento para realização do evento, deputado Domingos Sávio (PSDB).

O deputado Doutor Viana, que representou o presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), lembrou que a ALMG, ao promover o ciclo de debates, reúne os vários setores envolvidos, que poderão propor alterações na política atual. Ele ressaltou que o licenciamento ambiental é uma ferramenta importante para a preservação do meio ambiente, mas deve também assegurar o desenvolvimento econômico. Destacou, ainda, as contribuições da ALMG na melhoria da legislação ambiental do Estado, através, principalmente, da atuação das Comissões de Meio Ambiente e Recursos Naturais, de Política Agropecuária e Agroindustrial e de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo.

Seminário - O deputado Fábio Avelar lembrou que as sugestões de mudanças na legislação ambiental que surgirem durante o ciclo de debates servirão de subsídio para o Seminário Legislativo Minas de Minas, que será realizado pela Assembléia em junho deste ano. As propostas serão encaminhadas às Comissões Técnicas Interinstitucionais (CTIs) que irão preparar os documentos básicos do seminário e devem ser formuladas por escrito, com nome do autor e da entidade que representa, e entregues à assessoria da ALMG até as 12 horas de terça-feira (11), em local a ser indicado.

Além dos deputados e autoridades citados, participaram da mesa de abertura do ciclo de debates o diretor de Meio Ambiente da Polícia Militar, coronel Reinaldo Martins; o superintendente técnico da Faemg, Affonso Damásio Soares; o secretário adjunto de Meio Ambiente, Shelley de Souza Carneiro; o presidente da Feam, José Claúdio Junqueira Ribeiro; o diretor de Meio Ambiente do Sindiextra, Vítor Feitosa; a diretora do Igam, Cleide Pedrosa de Melo; e o diretor do IEF, Humberto Candeias.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715