Secretário defende novos instrumentos de licenciamento
ambiental
"O licenciamento ambiental sem ferramentas
auxiliares e sem incentivos para os empreendimentos sustentáveis vai
continuar sendo um cartório", afirmou o secretário de Estado de Meio
Ambiente, José Carlos Carvalho, durante sua exposição no painel "O
novo desenho institucional do Sisema e análise interdisciplinar dos
processos de regularização ambiental". Ele participou, na manhã
desta segunda-feira (10/3/08), do Ciclo de Debates Licenciamento
Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, promovido pela
Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O secretário reconheceu que
há uma discrepância entre a legislação da forma como é concebida e a
realidade sócio-econômica dos produtores. Segundo ele, a legislação
é muito voltada para os empreendimentos urbanos e pouco para o
campo.
José Carlos Carvalho também defendeu que a vontade
da administração pública não pode se sobrepor à legislação. Ele
explicou que a Advocacia-Geral do Estado está estudando alterações
para o Decreto 44.309, como a substituição das multas para infrações
mais simples por advertência. No entanto, segundo ele, o decreto
regulamenta a Lei Estadual 15.972, que está em acordo com a Lei
Federal 9.605. "A lei federal precisa de mudanças", concluiu. O
secretário também afirmou que o problema dos produtores rurais não
será resolvido com a legislação ambiental, e sim com política de
agricultura. "Se a Secretaria de Agricultura certificasse o produtor
por boas práticas de uso de agrotóxicos, por exemplo, esse produtor
não precisaria passar pelo licenciamento ambiental", afirmou.
Criação do Sisema visa à maior qualidade
ambiental
As mudanças realizadas no Estado, como a criação do
Sistema de Meio Ambiente (Sisema) para que as ações pudessem ser
sistematizadas e houvesse mais celeridade e resultado, também foram
tratadas pelo secretário. De acordo com ele, em Minas não havia um
sistema de informação nem indicadores para medir a qualidade
ambiental. Hoje o Sisema trabalha com a integração das três agendas
ambientais; houve a descentralização dos processos de licenciamento
pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), com as nove
unidades regionais; e 500 técnicos de nível superior foram
incorporados ao Sisema por meio de concurso público.
A utilização de novas ferramentas auxiliares à
orientação e tomada de decisão nos processos de regularização
ambiental, como o zoneamento ecológico-econômico, também foi
mencionada pelo secretário. Ele informou que um dos resultados
dessas mudanças foi o aumento dos processos de licenciamento de 6
mil, em 2002, para 42.344, em 2007.
Visão integrada - A
descentralização do processo de licenciamento e o combate à visão
fragmentada e pontual das análises dos impactos ambientais foram
defendidos pelo secretário-adjunto de Estado de Meio Ambiente,
Shelley de Souza Carneiro. Ele defendeu que o licenciamento
ambiental é um instrumento importante de gestão pública, embora
precise de aperfeiçoamento. Segundo o secretário-adjunto, a
burocracia aumentou quando a sociedade passou a ter estruturas mais
complexas. "Não vamos crescer se encararmos o licenciamento como
fragmento", afirmou.
Diretor do Sindiextra defende licenciamento mais
simples e com participação social
O diretor de Meio Ambiente do Sindicato da
Indústria Mineral de Minas Gerais (Sindiextra), Vítor Feitosa,
acredita que o modelo de gestão mais inovador é o dos recursos
hídricos, que envolve poder público, sociedade e empreendedores. "O
modelo de licenciamento que temos hoje é de 1981, quando não havia
protagonismo social", disse. Feitosa participou de uma comitiva que
visitou a Austrália e pôde perceber as diferenças quanto ao
licenciamento. Naquele país existe apenas uma licença que não
precisa ser renovada. "Se o empreendedor cumpre as normas, ele tem a
licença. Se descumprir, perde a licença", explicou. Para o diretor
do Sindiextra, as regras para o licenciamento deveriam ser claras e
simples e o processo, ágil. Ele defendeu a definição das
competências de cada ente federado e também os critérios para o que
é "significativa degradação ambiental".
A implementação real do zoneamento ecológico e
econômico, o aumento da alíquota do ICMS Solidário e a fiscalização
de sua aplicação pelas prefeituras foram defendidas pela
superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do
Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas. Ela criticou os baixos salários
e a falta de condições de trabalho dos funcionários do Sisema. A
superintendente da Amda também comentou uma faixa dos Sindicatos
Unidos do Sudeste Mineiro afixada nas galerias, com os dizeres:
"Preserve a agropecuária: só assim haverá desenvolvimento
sustentável". De acordo com ela, o contrário também poderia ser
dito: "Preserve o meio ambiente: só assim haverá agropecuária". Ela
defendeu que haja respeito e cooperação das duas partes.
Fiscalização rígida - A
intensificação da fiscalização ambiental, com sanções rígidas para
os produtores rurais, foi criticada pelo superintendente técnico da
Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Affonso
Damásio Soares. "Não defendemos o descumprimento da legislação,
apenas queremos que a lei leve em consideração a realidade do
agricultor", explicou. Ele concordou com a fala do secretário de
Meio Ambiente que afirmou que a legislação ambiental transpôs uma
situação urbana para o campo. E acrescentou que, em função disso, as
multas aplicadas são desproporcionais à realidade do
agricultor.
Debates - O deputado Sávio
Souza Cruz (PMDB), que fez a mediação dos debates, lembrou que a
sociedade deve compreender o licenciamento ambiental não como uma
mera etapa da implantação do empreendimento, mas também como um
momento em que ela deve decidir se concorda ou não com esse
empreendimento e em que termos. Ainda segundo ele, é preciso
"reoxigenar" os conselhos com maior participação da sociedade.
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