Violência nas cadeias provoca mudanças na política carcerária

Os acontecimentos recentes nas cadeias públicas de Rio Piracicaba, Conselheiro Lafaiete e Monte Belo mostraram à Secr...

05/03/2008 - 00:00
 

Violência nas cadeias provoca mudanças na política carcerária

Os acontecimentos recentes nas cadeias públicas de Rio Piracicaba, Conselheiro Lafaiete e Monte Belo mostraram à Secretaria de Estado de Defesa Social a necessidade de uma mudança na política carcerária, de modo a contemplar um projeto mais amplo além da simples transferência de guarda dos presos da Polícia Civil para a secretaria. A constatação foi feita pelo secretário Maurício Campos Júnior, durante audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (4/3/07). Ele disse ainda que a secretaria constatou a influência negativa no sistema prisional da presença de visitas cercadas de muito estardalhaço, como a da CPI Carcerária da Câmara de Deputados.

A reunião foi fruto de requerimento apresentado pelos deputados Antônio Júlio (PMDB), Carlos Pimenta (PDT), Sargento Rodrigues (PDT) e Weliton Prado (PT), e teve como objetivo obter esclarecimentos sobre a morte de oito presos na cadeia de Rio Piracicaba, em 1º de janeiro; a fuga de 26 detentos da cadeia de Conselheiro Lafaiete, no dia 26 de janeiro; e a destruição completa da cadeia de Monte Belo após rebelião no dia 30 de janeiro. E o outro objetivo foi conhecer as ações para suprir o déficit de pessoal da Polícia Civil no interior.

Holofotes da CPI - A mudança efetivada pela secretaria começou em fins de janeiro, com a criação de um Comitê Integrado de Política Prisional, no âmbito da Polícia Civil, com o objetivo de acompanhar o processo de transferência dos presos, ação que já é desenvolvida pela Subsecretaria de Administração Prisional. O comitê é integrado pelos órgãos do sistema de defesa do Estado, Polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros e técnicos da Copasa e da Cemig. Este comitê tem o objetivo de identificar as unidades prisionais mais precárias, além de definir as diretrizes, os roteiros e os padrões para a transferência de presos.

Além do acompanhamento pela própria Polícia Civil da transferência, Maurício Campos creditou alguns desses problemas em cadeias à movimentação da CPI Carcerária da Câmara de Deputados, "que mesmo sem querer provoca uma insegurança no sistema prisional". O secretário afirmou que a fuga de Conselheiro Lafaiete foi um exemplo claro dessa interpretação. E disse que todas as visitas "precedidas de muitos holofotes da mídia" ou qualquer anúncio de alterações feitas pela própria secretaria provoca esta inquietação.

Secretaria continuará trabalhando com planejamento

Maurício Campos enfatizou que as fugas, rebeliões e mortes em cadeias, ainda que provoquem uma transferência imediata de presos, não serão critérios para a política de assunção dos presos pela secretaria. "Continuaremos a seguir nosso planejamento, que inclui a transferência dos presos para a responsabilidade da Subsecretaria de Administração Prisional, liberando a Polícia Civil para sua função constitucional, que é de investigação e efetivação de inquéritos policiais".

Tal planejamento se concretizará nos próximos meses, segundo Campos Júnior, na reforma de 50 cadeias públicas, com pequenas obras nas áreas de hidráulica, combate a incêndio e instalações elétricas, ao custo de R$ 14 milhões; e investimentos no setor prisional de R$ 350 milhões este ano. O secretário citou ainda outras ações na área de gestão: formatura de 200 delegados de polícia que integrarão o sistema no interior; realização de concurso público, ainda este ano, para contratação de assistentes técnicos jurídicos (advogados); e admissão por contrato administrativo de mil agentes penitenciários. O sistema prisional de Minas ainda tem 262 cadeias sob a responsabilidade da Polícia Civil.

Deputados elogiam política carcerária

Com algumas ressalvas, entre elas a falta de entrosamento com os deputados majoritários de cada região, levantadas pelos deputados Getúlio Neiva (PMDB) e Antônio Júlio, os demais parlamentares concordaram que a secretaria vem desenvolvendo ações elogiáveis no planejamento da segurança em Minas. Também houve consenso sobre os "efeitos colaterais" das visitas alheias à solução dos problemas na estabilidade do sistema carcerário.

O presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues, lembrou que as explicações sobre a rebelião de Rio Piracicaba já haviam sido prestadas pela Corregedoria da Polícia Civil aos deputados federais da CPI Carcerária, em reunião em que ele esteve presente. E destacou que a culpa de todos os problemas em cadeias cai sempre sobre os policiais, "quando devemos cobrar responsabilidade também do Judiciário e do Ministério Público".

O deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB) defendeu o equilíbrio entre a visitação prisional e a curiosidade. E se disse preocupado com o aumento da criminalidade em Montes Claros, sobretudo na zona rural. Mesma preocupação foi demonstrada por Carlos Pimenta (PDT), que disse não compreender como a criminalidade vem crescendo, "apesar de todos os investimentos feitos pelo governo na cidade". Getúlio Neiva criticou o fato de Minas Gerais custear presos federais, enquanto Délio Malheiros (PV) acredita que há uma orquestração nacional para criticar a área de segurança em Minas, "que é de longe uma das melhores no País".

O deputado Antônio Júlio defendeu ações pontuais mais imediatas e "menos planejamento e discursos repetitivos". O deputado Paulo Cesar (PDT) destacou que a criminalidade também está aumentando em Nova Serrana e concordou com a idéia de que haja uma disposição da mídia nacional em denegrir alguns setores de Minas, "não só o de segurança, mas também o econômico". O deputado Rêmolo Aloise (PSDB) citou a situação de São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas.

Maurício Campos Júnior informou que há uma pesquisa da Fundação João Pinheiro, em fase final de tabulação, que mostra a diminuição da criminalidade em Montes Claros. "São números preliminares, de janeiro e fevereiro, que divulgaremos em breve, que mostram a redução de assaltos à mão armada após os investimentos na área de segurança na cidade".

A comissão aprovou três requerimentos que dispensam a apreciação do Plenário.

Presenças - Deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Paulo Cesar (PDT), vice; Carlos Pimenta (PDT), Luiz Tadeu Leite (PMDB), Délio Malheiros (PV), Antônio Júlio (PMDB), Getúlio Neiva (PMDB), Leonardo Moreira (DEM) e Rêmolo Aloise (PSDB).

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