Produtores reclamam da lista de fazendas aptas a exportar para a UE

Um dia após a suspensão do embargo à carne brasileira, produtores mineiros reclamaram da lista fechada de 87 fazendas...

28/02/2008 - 00:00
 

Produtores reclamam da lista de fazendas aptas a exportar para a UE

Um dia após a suspensão do embargo à carne brasileira, produtores mineiros reclamaram da lista fechada de 87 fazendas aptas a exportar para os países da União Européia (UE). Na reunião da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizada nesta quinta-feira (28/2/08), o superintendente técnico da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Afonso Damásio Soares, criticou a condução das negociações pelo governo e cobrou a liberação das 1.283 fazendas mineiras inicialmente consideradas habilitadas a exportar.

A UE suspendeu a importação de carne do Brasil no início do mês, alegando que não havia dados confiáveis para a rastreabilidade do gado. O Brasil adota um sistema semelhante ao europeu, em que cada animal recebe um número, um brinco e um livro-prontuário em que são registradas vacinas e eventuais doenças detectadas. A preocupação dos europeus é com o mal da vaca louca, por isso eles exigem a rastreabilidade tanto de seus produtores quanto dos estrangeiros. O Brasil encaminhou uma lista com 2,8 mil propriedades rurais certificadas para exportar carne, mas a UE esperava apenas 300. No auge da crise, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, chegou a declarar que o País tinha vendido carne sem certificação.

Afonso Damásio criticou a postura do governo, por considerar que a declaração do ministro dificultou as negociações para a suspensão do embargo. Ele também defendeu a simplificação do processo de certificação das fazendas, serviço atualmente prestado em boa parte por empresas privadas. O diretor-geral do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Altino Rodrigues Neto, disse que o Estado tem condições de assumir a fiscalização das fazendas. Para isso, basta que o Ministério da Agricultura incorpore o órgão ao chamado Sisbov, sistema de rastreabilidade do gado bovino.

O chefe da Divisão Técnica da Superintendência Federal de Agricultura, Márcio Silva Botelho, informou que o processo para que o IMA possa atuar como certificador já está em estágio avançado. Ele rebateu as críticas à burocracia e garantiu que as normas são amplamente discutidas com o setor produtivo. Botelho reiterou a posição do Ministério da Agricultura, de que a suspensão do embargo representa a retomada das negociações com Bruxelas. Ele destacou que a lista apresentada pela UE pode ser alterada e assegurou que vai se empenhar para aumentar o número de fazendas aptas a exportar.

Deputados criticam embargo e burocracia

O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), autor do requerimento da audiência juntamente com os membros da Comissão de Política Agropecuária, também criticou a atuação do ministro Reinhold Stephanes. Para o deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), o embargo deve-se a questões comerciais e políticas, e não a problemas sanitários. Ele lamentou que o Sul de Minas permaneça como zona-tampão e os produtores da região não tenham acesso ao mercado europeu.

Já o deputado Getúlio Neiva (PMDB) criticou a burocracia do processo de certificação, que prejudica especialmente os pequenos produtores, muitos dos quais com baixo nível de escolaridade. O presidente da comissão, deputado Vanderlei Jangrossi (PP), destacou a qualidade da carne brasileira e ressaltou que o número de propriedades aptas a exportar é muito pequeno. Para os deputados Padre João (PT) e Chico Uejo (PSB), é preciso criar uma cultura da qualidade sanitária da carne, não importa se o produto é voltado para exportação ou para o mercado interno.

Providências - Foram aprovados três requerimentos de autoria coletiva, para que o Ministério da Agricultura tome providências de modo a revogar o embargo às exportações nas zonas-tampão, habilite o IMA para atuar como órgão certificador e reveja as normas de rastreabilidade, para adequar as exigências internacionais à realidade operacional dos produtores rurais. Também foi aprovado requerimento do deputado Padre João para a realização de audiência pública para debater o plano de carreira dos funcionários da Emater.

Minas tem o terceiro maior rebanho do País

Minas Gerais tem o terceiro maior rebanho bovino do Brasil, com 22,2 milhões de cabeças. Em 2007, a produção de carne do Estado foi de 1,2 milhão de toneladas, montante que representou um crescimento de 13% em relação a 2006. No ano passado o Estado exportou 94,4 milhões de toneladas de carne, dos quais 39,9 milhões foram para a UE (42% do total). O mercado europeu responde por 63% da receita de 335 milhões de dólares com a exportação de carne de Minas.

Como a Europa não produz toda a carne que consome e importa o produto de apenas quatro países (Brasil, Argentina, Uruguai e Austrália), o Ministério da Agricultura estima que seriam necessárias pelo menos 5 mil fazendas aptas para exportar. Isso porque para encher um contêiner com filé mignon, o corte favorito dos europeus, é preciso abater pelo menos 6,5 mil bois.

Presenças - Deputados Vanderlei Jangrossi (PP), presidente; Padre João (PT), vice; Antônio Carlos Arantes (PSC), Chico Uejo (PSB), Getúlio Neiva (PMDB) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB). Também participaram da reunião a coordenadora estadual do Sisbov, Juliana Oliveira Laender; o assessor técnico da Faemg, Antônio Carlos Souza Lima; e o assessor de comunicação do IMA, Paulo Renato Couto Carvalho.

 

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