Cemig esclarece mercado livre, mas tarifa é destaque em debate

O processo de revisão tarifária da Cemig e a possibilidade de redução da conta de energia em 9,72% ocuparam parte dos...

27/02/2008 - 00:00
 

Cemig esclarece mercado livre, mas tarifa é destaque em debate

O processo de revisão tarifária da Cemig e a possibilidade de redução da conta de energia em 9,72% ocuparam parte dos debates promovidos pela Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (27/2/08). Solicitada pelo deputado Antônio Júlio (PMDB), a reunião foi realizada para obter esclarecimentos da estatal sobre a venda de energia para a iniciativa privada e a elevação de preços no mercado livre. O tema inicial foi ampliado, abrindo espaço para questionamentos dos deputados sobre o lucro excessivo da companhia em 2007; a necessidade urgente de investir em expansões para possibilitar investimentos privados no Estado; e a cobrança pela revisão do modelo de sistema que hoje vigora no País.

O deputado Antônio Júlio afirmou que o modelo tem que ser revisto, destacando que é preciso ouvir a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) - cujo presidente, Gerson Kelman, justificou a ausência na reunião desta quarta por compromissos já assumidos. O deputado considerou absurdo o lucro da Cemig em 2007, de R$ 2 bilhões (25% do faturamento), e cobrou agilidade na aplicação desses recursos para expandir o sistema. "Os acionistas precisam ter consciência de que o mineiro paga a energia mais cara do Brasil e as empresas não dão conta de quitar a energia contratada", disse.

Também questionaram o lucro da companhia os deputados Jayro Lessa (DEM) e Weliton Prado (PT). "A Aneel estipula o preço máximo; não o mínimo. Ninguém é contra a Cemig, mas não se pode visar apenas ao lucro", opinou Lessa, que fez críticas ao tratamento dado pela estatal ao setor produtivo, com preços diferenciados para empresas do mesmo setor, segundo ele.

As críticas foram reforçadas pelo deputado Weliton Prado, que cobrou a revisão humanitária da conta de luz. "O interesse público deve orientar a atuação da companhia. A energia é um bem essencial e não pode ser tratada como mercadoria", disse ele, que divulgou a audiência pública que a Aneel promoverá em Belo Horizonte, no próximo dia 5 de março, como parte do processo de revisão tarifária da Cemig. O deputado destacou que a agência já sinalizou com uma redução de 9,72%. Ele também indagou à companhia se há possibilidade de uma diminuição maior de valores. O superintendente de Marketing e Planejamento de Mercado da Cemig, Eduardo Costa Vasconcelos, disse que não poderia adiantar essa informação.

Em entrevista à imprensa após a reunião, Vasconcelos reafirmou que, ao se fazer a redução tarifária, é preciso observar os impactos no futuro da Cemig, que necessita de recursos para operar e manter o sistema atual e fazer investimentos para atender às expansões e ao crescimento do mercado mineiro. "Nesses momentos, a Cemig sempre busca entender o que é justo, no sentido de manter o fornecimento de energia na qualidade, quantidade e amplitude necessária para atender ao mercado."

Cemig responde questionamentos e deputados comentam

Ainda sobre a tarifa, o consultor Álvaro Eustáquio de Oliveira, da Diretoria Comercial, explicou que é extremamente regulada a atuação da Cemig na distribuição de energia. Ela compra energia em leilões oficiais, conduzidos pelo Ministério das Minas e Energia, Aneel e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. O custo dessa energia é repassado ao chamado consumidor cativo, ou seja, aquele que não tem opção de escolher o fornecedor do serviço (os consumidores residenciais e as indústrias e comércio de pequeno porte, por exemplo). O lucro que se tem, explicou, provém da remuneração dos ativos, como o uso das linhas de distribuição e as subestações.

Também respondendo aos questionamentos sobre o preço elevado da conta de energia, Eduardo Vasconcelos ponderou que é preciso considerar quanto custa atender aos diferentes tipos de consumidores. O custo é maior para atender a área residencial, alegou. Indagado pelo deputado Lafayette de Andrada (PSDB) sobre a influência dos impostos federais na composição da tarifa, o superintendente informou que os tributos e os encargos respondem por 40% a 45% do custo final da energia. Também respondendo a Andrada, ele disse que hoje, em Minas, há 2 milhões de consumidores de baixo consumo com tarifa subsidiada.

O deputado Weliton Prado reforçou que é alta a incidência de impostos sobre a conta de energia, destacando o índice de 42% de ICMS na cobrança "por dentro" da energia residencial - índice superior ao aplicado para bebida e cigarro. Ele lembrou, por outro lado, que as regras da Aneel são feitas "para ninguém entender". "As informações não são de domínio público", disse. Presidente da comissão, o deputado Zé Maia (PSDB) ponderou que a questão tarifária é complexa, e que a Cemig não tem a última palavra nesse assunto. "A Cemig não pode bancar uma política diferenciada da preconizada pela Aneel, pois, caso contrário, será engolida pelas concorrentes", opinou.

Os deputados Domingos Sávio (PSDB) e Sebastião Helvécio (PDT) também enfatizaram que a definição da tarifa de energia não é responsabilidade da Cemig, mas algo pactuado e regulado pela Aneel. Já o deputado Padre João (PT) quis saber sobre o custo do megawatt para o consumidor livre e para o consumidor residencial.

Deputados questionam preços do mercado livre; Cemig explica como funciona o sistema

Sobre o objetivo inicial da reunião - a venda de energia para a iniciativa privada -, o deputado Antônio Júlio se disse indignado com os preços praticados no mercado livre. Segundo ele, empresas estão deixando de produzir para vender energia nesse mercado. "Tem alguma coisa errada, pois, enquanto isso acontece, a Cemig não tem energia para fornecer aos grandes consumidores", opinou. O deputado Domingos Sávio também lamentou a "especulação violenta" do preço da energia nas contratações livres.

Em resposta, Eduardo Costa Vasconcelos explicou que a Cemig celebra, com consumidores livres, contratos de longo prazo a preços negociados, seguindo o mercado. Consumidor livre é aquele empreendedor cuja capacidade instalada de uso do sistema é de 3 megawatts, em média, como grandes indústrias e shoppings. Quando esses consumidores têm sobras no consumo em relação ao volume contratado, liquidam o excedente na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. O preço é determinado em função de variáveis de curto prazo, que envolvem regime hidrológico e armazenamento dos reservatórios. Em janeiro deste ano, o preço subiu bastante em relação às médias históricas.

Em janeiro de 2007, o valor mínimo foi de R$ 17,00 por megawatt/hora, permanecendo inferior aos valores de contrato da Cemig. Em janeiro de 2008, o preço subiu para R$ 503,00 e, em fevereiro, segundo Vasconcelos, deve ficar em R$ 200,00. Em entrevista à imprensa, avaliou que "não necessariamente" houve especulação no episódio relatado por Antônio Júlio. Em muitos casos, de acordo com o representante da Cemig, a questão é mesmo de reduzir a produção nas indústrias por questões de mercado, o que leva a excedentes do volume de energia contratado. Aí, então, o grande consumidor é obrigado a liquidar na câmara, pois não tem outra forma de comercializar a energia.

Além de Vasconcelos, coube ao consultor Álvaro Eustáquio de Oliveira, da Diretoria Comercial, prestar esclarecimentos aos deputados sobre o mercado livre, que funciona como uma espécie de bolsa. Nesse mercado, que comercializa 10 mil megawatts, a Cemig detém 2,2 mil megawatts, com prazos e condições de preços variáveis ao longo dos anos. Ela é a maior comercializadora do mercado livre.

Também participaram da reunião dois representantes da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg): o secretário executivo do Conselho de Infra-estrutura e Privatização, Marco Paulo Dani, e o assessor parlamentar Pedro Parizzi.

Comissão analisa projetos após ouvir convidados

Quatro projetos que tratam da doação de imóveis receberam pareceres favoráveis da FFO na reunião desta quarta. O Projeto de Lei (PL) 1.431/07, do deputado Alberto Pinto Coelho (PP), autoriza o Executivo a doar um terreno edificado com área de 1.416,41 m² ao município de Diamantina. O objetivo da transferência é a implantação de um centro cultural. O relator da matéria, deputado Zé Maia (PSDB), opinou pela aprovação do projeto com a emenda nº 1 da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que corrige dados cadastrais do imóvel.

O PL 1.440/07, do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), altera a Lei 16.322, de 2006, que autoriza o Executivo a doar imóvel de 2.500 m² ao município de Frutal para a construção de um centro de educação infantil. O objetivo da proposição é alterar a destinação do imóvel, que passaria a ser utilizado para a construção de habitações populares. O deputado Zé Maia relatou o projeto e opinou por sua aprovação na forma do substitutivo nº 1 da CCJ. O novo texto faz adequações quanto à técnica legislativa.

Também foi apreciado durante a reunião o PL 1.448/07, do deputado Mauri Torres (PSDB), que prevê a doação de um prédio para o município de Ferros, com a finalidade de abrigar a Câmara Municipal. O projeto foi relatado pelo deputado Sebastião Helvécio (PDT), que opinou pela aprovação com a emenda nº 1 da CCJ, que amplia a finalidade do imóvel para que nele continuem funcionando outros órgãos públicos estaduais, além do legislativo municipal.

Por último, a comissão analisou o PL 1.686/07, do deputado Domingos Sávio (PSDB), que autoriza o Executivo a doar imóvel com área de 598,5 m² ao município de Conceição da Barra de Minas. O motivo da transferência é a construção de uma casa de música para incentivar o talento de jovens da região. O relator da matéria, deputado Antônio Júlio (PMDB), opinou pela aprovação do projeto com a emenda nº 1 da CCJ, com o objetivo de retirar do texto dados desnecessários à elaboração da norma e especificar o imóvel pelos dados de seu registro original.

Por ausência dos relatores, os PLs 118/07, 731/07 e 898/07 foram retirados da pauta da reunião. Os relatores dos PLs 236/07 e 712/07 pediram prazo regimental para analisar os projetos. O deputado Antônio Júlio pediu a inversão da pauta para que o Projeto de Resolução (PRE) 716/07, do deputado Sargento Rodrigues (PDT), fosse apreciado em último lugar. No entanto, ao final da reunião, não houve quórum para aprovar o parecer sobre a matéria. O parecer do deputado Sebastião Helvécio sobre o PRE 716/07, que susta os efeitos de dispositivos do Decreto 32.649, de 1991, havia recebido pedido de vista do deputado Antônio Júlio em reunião anterior.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Zé Maia (PSDB), presidente; Jayro Lessa (DEM), vice; Antônio Júlio (PMDB), Lafayette de Andrada (PSDB), Sebastião Helvécio (PDT), Almir Paraca (PT), Domingos Sávio (PSDB), Padre João (PT) e Weliton Prado (PT).

 

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