Deputado quer dados sobre febre amarela em estados
vizinhos
O presidente da Comissão de Saúde da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, deputado Carlos Mosconi (PSDB),
pretende solicitar do Ministério da Saúde informações sobre a
cobertura vacinal contra a febre amarela em estados vizinhos como
Goiás e Mato Grosso. Esses dados irão se somar aos apurados nesta
terça-feira (19/2/08), em reunião da comissão, quando os
parlamentares ouviram das autoridades da área da saúde as
providências tomadas para conter e prevenir o problema em Minas.
Mosconi falou, em entrevista após a reunião, sobre esse requerimento
que pretende apresentar. O deputado Doutor Rinaldo (PSB) destacou
ainda como importante o esclarecimento sobre o risco de urbanização
da febre amarela - considerado remoto pelos convidados.
Em Minas, entre dezembro e janeiro, foram
constatados três casos "importados" da doença. Dos três pacientes,
todos infectados em Goiás, um morreu. Dos 31 casos de febre amarela
notificados no País desde o final de 2007, 16 evoluíram para óbito.
Em Goiás, foram 12 mortes em 19 notificações. No Distrito Federal,
duas mortes em quatro registros. A coordenadora de Imunização da
Secretaria de Estado de Saúde (SES), Tânia Caldeira Brant, informou
que em janeiro de 2008 foram distribuídas mais de 1,5 milhão de
doses da vacina, sendo aplicadas mais de R$ 1 milhão. Esse número é
quase o dobro da vacinação de 2007, quando foram aplicadas 638.370
doses.
Risco - O subsecretário de
Vigilância e Saúde da SES, Luiz Felipe de Almeida Caram Guimarães,
informou aos deputados que não há como diagnosticar áreas de risco
em Minas, pois qualquer região rural já seria considerada de risco.
Ele relatou que, desde que se diagnosticaram casos de morte de
macacos em Goiás e na divisa com Minas, a SES intensificou as ações
de prevenção: vacinação, principalmente de quem mora ou visita zonas
rurais e não se vacinou nos últimos 10 anos; busca ativa de pessoas
não imunizadas; recolhimento de animais mortos para análise de
vísceras; coleta e análise de vetores (mosquitos); capacitação dos
profissionais da área para identificar, de imediato, sintomas em
seres humanos.
"A região fronteiriça com Goiás recebeu ação
contundente e qualquer área considerada zona rural recebe atenção
pelo risco de casos esporádicos", disse Caram, em entrevista à
imprensa. Ele ressaltou que, constatados os casos "importados", a
Secretaria acionou as pessoas que tiveram contato com os doentes e
aplicou "fumacê" nas regiões por onde passaram os infectados, além
de empreender a busca ativa daqueles que pudessem não estar
vacinados.
Números - O governo
estadual também apresentou uma série histórica sobre a febre amarela
em Minas. Dados de 1988 mostram que houve 13 casos notificados, com
7 mortes. Em 2004, houve um caso notificado ("importado" do Pará),
sem óbito. Houve surtos da doença em 2001, com 32 casos notificados
e 16 mortes (na região Centro Oeste); e em 2003, com 59 casos
notificados e 21 mortes (região do Serro). De cada 100 infectados
pelo vírus da febre amarela, apenas 10% manifestam sintomas graves.
Mas, desses 10%, metade vai a óbito.
Na avaliação do deputado Eros Biondini (PHS), esses
esclarecimentos prestados pelas autoridades da saúde podem subsidiar
ações parlamentares. Além dele, assinaram o requerimento da reunião
os deputados Mosconi, Doutor Rinaldo e Carlos Pimenta (PDT).
Possibilidade de urbanização da febre amarela é
remota
A assessora da Vigilância de Saúde da Secretaria de
Saúde de Belo Horizonte, Gilvânia Westin Cosenza, tranqüilizou a
comissão quanto à possibilidade de urbanização da doença. Desde
1942, há no País somente casos de febre amarela silvestre ou rural.
Essa dúvida é recorrente e se explica pelo fato de que, enquanto no
meio rural o transmissor da doença é o mosquito Hemagogus, no
meio urbano é o mosquito Aedes aegypti - transmissor também
da dengue e, segundo dados de 1998, presente em 60% dos municípios
brasileiros.
Na avaliação da especialista, a possibilidade de
urbanização é remota no momento, pois, para se concretizar, seria
necessária a ocorrência dos seguintes eventos, ao mesmo tempo:
índice alto de infestação pelo Aedes aegypti; número grande
de infectados; e que o vetor picasse o doente de febre amarela no
período de transmissibilidade - que é curto, de sete dias. Na
África, onde existe a doença na forma urbana, a infestação pelo
Aedes aegypti é de 20% a 40%. Em BH, a média é de 1,9%.
O gerente de Vigilância Ambiental da SES, Francisco
Lemos, reconheceu que erradicar o Aedes aegypti é, hoje, uma
missão impossível. O importante é controlá-lo e reduzir sua
infestação. Falta de saneamento básico e aquecimento global foram
alguns dos fatores apontados por ele para explicar esse quadro. O
deputado Carlos Mosconi alertou que é preciso tomar providências
nessa área, pois "não gostaria que acontecesse com a febre amarela o
que ocorreu com a dengue, hoje uma triste realidade da saúde do
País". Eliminado em 1955, o mosquito reinfestou o Brasil em
1976.
Ecoturistas - Gilvânia
Cosenza ponderou que é preciso conscientizar os adolescentes e
adultos jovens que gostam de praticar turismo rural, com caminhadas
em trilhas e passeios em cachoeiras. "Esse público é mais resistente
a tomar a vacina. Não diria que existe um vazio nessa área, pois a
imunização foi intensificada, mas enfatizamos nosso alerta para essa
população", disse.
Também trouxeram esclarecimentos aos deputados
Denise Maciel Dornas, da Coordenação Técnica de Imunização da
Secretaria Municipal de Saúde; Helena Valadares Maciel e Andréa
Lucchesi, respectivamente, diretora e médica do Hospital Infantil
João Paulo II.
Presenças - Participaram da
reunião os deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Hely
Tarqüínio (PV), vice; Doutor Rinaldo (PV) e Eros Biondini
(PHS).
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